Future of Money

Nem tudo é otimismo: especialistas questionam impacto do halving no preço do bitcoin

Investidores compartilham otimismo com impacto do halving e citam altas anteriores, mas analistas têm postura mais cautelosa

Bitcoin disparou mais de 50% nos primeiros meses de 2024 (Reprodução/Reprodução)

Bitcoin disparou mais de 50% nos primeiros meses de 2024 (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 12 de abril de 2024 às 19h15.

Última atualização em 15 de abril de 2024 às 11h40.

O mercado de criptomoedas se prepara para um dos eventos mais aguardados do ecossistema: o halving do bitcoin. O evento, que ocorre a cada quatro anos, tem historicamente antecedido ciclos de forte valorização da maior criptomoeda do mercado, mas o mesmo acontecerá agora? Enquanto alguns especialistas se mostram otimistas e projetem uma disparada do ativo, outros adotam uma postura mais cautelosa.

À EXAME, representantes de algumas das principais empresas do mercado indicam que, se a história mostra uma influência positiva do evento no preço do bitcoin, é importante lembrar que o futuro é sempre mais incerto, até para evitar decepções.

André Portilho, head de digital assets do BTG Pactual e responsável pela Mynt, a plataforma cripto do banco, explica que o halving é uma forma de restringir a oferta da criptomoeda e garantir sua escassez. E, pelo histórico dos halvings anteriores, a expectativa do mercado é que o de 2024 também gere uma disparada do ativo.

"É óbvio que essa diminuição da oferta tem impacto. Só que, nesse caso, ao compararmos com os halvings passados, o efeito estatístico é muito menor. Estamos falando de US$ 30 milhões em bitcoins diários a menos, mas em um mercado que negocia mais de US$ 100 bilhões apenas no mercado à vista e que já tem a maioria dos bitcoins minerados", pontua o executivo.

Segundo Portilho, a redução de oferta nova da criptomoeda em relação ao total em circulação é "é cada vez menor". Por isso, ele afirma que "o impacto do halving na oferta e, por consequência, no preço, é muito mais marginal do que no passado. Novamente, não estou dizendo que o efeito é zero, mas estatisticamente, é muito menos significativo".

"Temos outra questão em relação ao halving que pode ser mais importante agora dado o cenário macro atual. Em um ambiente global macro de déficits fiscais crescentes e impressão de moeda, ter o evento de diminuição de oferta do bitcoin agora não poderia ser melhor para a narrativa de escassez do ativo. E isso pode ter um impacto muito maior na demanda por bitcoins. Inclusive para os ETFs", destaca.

Considerando esses elementos, Portilho diz que o halving é "um evento interessante", mas não é o único fator que vai influenciar no preço da criptomoeda. Por isso, é importante "icar de olho em tudo que está acontecendo no mercado para entender melhor as tendências".

Em um comunicado divulgado com exclusividade pela EXAME, Min Lin, vice-presidente regional da Binance para a América Latina, destacou que "é importante destacar que o espaço para o crescimento dos preços depende do sentimento geral do mercado, das taxas de adoção e de outros fatores em jogo durante o período do evento de halving".

É uma perspectiva semelhante à compartilhada com a EXAME por Guto Antunes, head da Itaú Digital Assets. O executivo afirma que há uma correlação positiva entre o halving e o preço do bitcoin, mas "é difícil prever o que acontecerá nos próximos meses. Os investidores devem monitorar de perto as tendências de inflação e juros americanos, que devem adicionar mais volatilidade até que algum movimento mais robusto seja confirmado".

Já André Franco, head de Research no Mercado Bitcoin, pontua que "a espera pelo halving favorece um ambiente de curiosidade e atenção do investidor físico e, também, do institucional. É como se o halving fosse uma campanha publicitária de forte escalabilidade e alto impacto, que acontece a cada quatro anos: o mundo inteiro está presente e olhando para isso. Essa expectativa que é criada aumenta muito a força exposição da moeda".

Mesmo assim, "não é possível estimar o quanto o ativo irá se valorizar este ano. Isso porque as expectativas caminham de acordo com as análises de períodos passados, mas as porcentagens de subida do ativo são voláteis. A projeção mais razoável é que o ano de 2024 deve se caracterizar como um momento positivo para o mercado cripto".

Bernardo Srur, diretor-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), lembra que "o mercado de criptomoedas é complexo, e múltiplos fatores além do halving podem influenciar os preços e as dinâmicas do bitcoin".

"O evento pode ter vários impactos, e especialmente em relação ao preço da criptomoeda. Diversos cenários são possíveis nesse sentido, e é crucial lembrar que o bitcoin historicamente vivencia ciclos de mercado, e os halvings frequentemente coincidem com períodos de alta. No entanto, outros fatores externos e eventos macroeconômicos também exercem um papel crucial nos movimentos de preço".

Há, ainda, as chances de que a alta gerada pelo halving não seja imediata. É comum que eventos aguardados no mercado cripto seja imediatamente sucedidos pela "venda na notícia", uma realização de lucros e queda de preços após altas apoiadas na expectativa do evento. As próprias altas em halvings anteriores ocorreram alguns meses após o evento em si.

Nesse sentido, César Félix, gerente de experiência do cliente na NovaDAX, comenta que a valorização que o halving gera "é frequentemente seguida por um segundo ano que traz consigo uma correção notável nos preços. Essa correção pode ser substancial, chegando a alcançar até 80% de queda em relação à última máxima histórica registrada pelo bitcoin", ressaltando a importância de ter cautela com o evento.

Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube Telegram | TikTok

Acompanhe tudo sobre:BitcoinCriptomoedasCriptoativosPreço do bitcoin

Mais de Future of Money

Investimentos: quanto de criptomoedas devo ter no meu portfólio?

Criptoativos: uma denominação mais abrangente e precisa

Campanha de Donald Trump arrecada R$ 16 milhões em criptomoedas no 2º trimestre

Famosos lançaram 30 criptomoedas próprias em junho, mas todas caíram mais de 70%

Mais na Exame