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Maximalistas do Bitcoin: por menos chatice e mais inclusão

Os devotos da criptomoeda mais popular do mundo deveriam largar o fanatismo e se focar apenas em espalhar a ‘boa nova’

Esses sujeitos, em sua maioria, atuam como discípulos de uma espécie de seita que transformou Satoshi Nakamoto no salvador da humanidade (NurPhoto/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 9 de abril de 2022 às 15h00.

Última atualização em 12 de abril de 2022 às 11h15.

*Por Felipe Percigo

Todo mundo já esteve na posição de chato um dia ou outro e está tudo bem. Mas, se a sua chatice vem com uma pitada de toxicidade, é provável que qualquer coisa que você disser a alguém, independentemente da intenção, vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. E essa será a reação mínima. Na minha experiência profissional, principalmente em viagens que fiz pelo mundo, esbarrei com muitas dessas “figuras” - usando o vocabulário popular - no mundo das criptomoedas, especialmente as que se intitulam “maximalistas do Bitcoin ”. Já ouviu falar?

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Esses sujeitos, em sua maioria, atuam como discípulos de uma espécie de seita que transformou Satoshi Nakamoto, o idealizador da criptomoeda, no salvador da humanidade e que, com sua devoção debaixo do braço, saem pelo mundo querendo “evangelizar” pessoas. Para eles, o atual sistema financeiro já nasceu falido e no futuro só tem espaço para uma moeda que deve reger a economia global: o BTC.

Antes de continuar, quero deixar claro que eu sou fã declarado do Bitcoin e que a maior parte da minha carteira cripto é composta pelo ativo. Sou fascinado por todo o conceito que Satoshi, seja lá quem ele for, conseguiu enredar para revolucionar o mercado financeiro. Agora, acreditar em uma ideia e adotá-la é muito diferente de usá-la como doutrina. A doutrina não aceita questionamento.

Imagine se os maximalistas conseguissem espalhar a “boa nova” aos 97% da população mundial que nunca ouviram falar em Bitcoin - como mostrou uma pesquisa recente - sem discursos tóxicos, já que geralmente esse é o teor de suas manifestações. O Bitcoin é, mais do que tudo, uma ferramenta de inclusão social, capaz de chegar onde banco nenhum conseguiria, e pretende devolver o controle do dinheiro às mãos dos próprios donos.

Não há dúvida de que existe uma beleza incontestável nas ideias de Nakamoto e um grande apuro artístico na execução. O Bitcoin foi o instrumento que instalou não apenas um novo sistema monetário, mas também abriu todo um questionamento sem precedentes sobre a forma com que o mercado financeiro “serve” a sua sociedade.

A descentralização nascida com o Bitcoin trouxe de volta o poder dos usuários sobre o próprio dinheiro, a partir de uma estrutura algorítmica delineada para impedir que qualquer instituição ou governo possa dar mais pitaco sobre a sua vida financeira do que você mesmo, que trabalhou para ganhar e tem o direito de desfrutar como bem entende.

-(Future of Money/Laatus/Divulgação)

O bitcoin carrega características como “inconfiscável”, “inviolável”, “limitado” (a 21 milhões de unidades) e “sem permissão”. São tantos os predicativos que fazem dessa moeda uma ferramenta incrível que acabaram virando bandeiras de maximalistas fundamentalistas para justificar os seus excessos. Vamos combinar que todos esses adjetivos em um discurso de intolerância podem até soar negativos, quando seriam mais úteis, sem dúvida, se administrados em tom educativo.

Os maximalistas dividem o mundo cripto em dois segmentos: Bitcoin e shitcoins. Para eles, qualquer projeto que não seja o de Sakamoto é resultado de invenções de nerds que tiram o poder de governos e instituições para transferi-lo a ídolos da tecnologia blockchain. As rixas especiais são geralmente direcionadas aos criadores do Ethereum Charles Hoskinson, hoje na Cardano, e Vitalik Buterin.

Buterin, inclusive, aproveitou o último Dia da Mentira, 1º de abril, para ironizar as constantes críticas recebidas do grupo através de um artigo. Em um trecho, ele “descreveu” como os maximalistas veem o público que aposta em projetos além do BTC: “[...] usuários em massa que não se importam com estranhas ideologias libertárias ou ‘verificação autossoberana’, que são desmotivados pela toxicidade e mentalidade antigovernamental e só querem blockchain, DeFi e jogos que sejam rápidos e funcionais”.

Ironias à parte, a pergunta que fica é: será mesmo que só o BTC vai triunfar? Incontestavelmente, ele é o mais importante, afinal estabeleceu as fundações de um motor socioeconômico inédito, e sem dúvidas segue regendo o mercado, mas não podemos nos fechar para este universo mais amplo que a própria moeda está ajudando a construir.

Na minha visão, existem criptos boas, sim. Podem ser contadas em duas mãos, mas existem. Projetos que solucionam problemas que o Bitcoin, inerentemente, não se propõe a resolver e que podem ser muito úteis para tornar o ecossistema financeiro descentralizado muito mais eficiente.

-(Mynt/Divulgação)

É importante falar sobre o que acreditamos e, especialmente, defender nossos ideais, ainda mais nessa época em que vivemos, quando é mais fácil e consome menos energia engolir informações sem questionar. O que não podemos deixar é que o maximalismo, seja no Bitcoin ou em qualquer outro assunto, nos cegue.

Eu posso citar aqui um maximalista que consegue lidar bem com a ideologia, o Michael Saylor. Sem apelar para fundamentalismos, o CEO da MicroStrategy, empresa que possui milhares de BTC em caixa, mantém a cabeça aberta como um bom entusiasta do mercado e é receptivo a ouvir e entender o cenário que se desenha. De forma educativa, ele já conseguiu “converter” diversas instituições e colabora para levar conhecimento sobre o Bitcoin a partir de uma influência positiva.

Assim como disse o Vitalik em seu artigo, “Se você quer reter uma identidade que é diferente do comum, então precisa de uma cultura extremamente forte, que resista e combata ativamente a assimilação ao comum toda vez em que tentar reafirmar sua hegemonia”. Concordo.

Por isso digo que os maximalistas têm, sim, o seu lugar e podem contribuir para manter um ambiente mais saudável tanto para quem cria quanto para quem usa cripto. É válido - e necessário - que usem seu conhecimento para alertar sobre as milhares de farsas mascaradas de projetos descentralizados, que se apropriam de um discurso libertário para capitalizar sobre o mercado cripto.

E, para isso, não precisa ser tóxico. Apenas corajoso.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

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