(Olga Shevtsova / EyeEm/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 20h15.
Uma das características mais conhecidas do mercado de criptoativos é a sua volatilidade. Não é difícil perceber que a oscilação nos preços dos ativos digitais é de fato acentuada, seja nos movimentos de alta ou de baixa. Mas por que isso acontece? E será mesmo que os criptoativos são mais voláteis do que outros mercados?
Saiba tudo sobre a volatilidade dos criptoativos e descubra as respostas para essas e outras perguntas.
Por definição, volatilidade é uma medida estatística de dispersão. Em termos práticos, ela é uma métrica utilizada para se mensurar o comportamento de uma variável em relação à sua média no decorrer do tempo.
No setor financeiro, volatilidade diz respeito à estabilidade de um índice econômico ou do preço de uma ação, título ou qualquer outro ativo financeiro, ou seja, uma medida de quanto o preço varia ao longo do tempo. Quanto mais volátil, maior a frequência e a intensidade das oscilações de preço.
É, por isso, uma medida de risco, já que quanto maior a frequência e a intensidade das variações no preço de um ativo, maior a amplitude dos ganhos e perdas de uma determinada negociação.
As flutuações de preço de um determinado ativo são causadas por diversos fatores e podem ser medidas por índice e cálculos específicos. No entanto, é possível percebê-la com uma simples análise das variações recentes de preço do ativo em questão, seja o bitcoin ou qualquer outro.
Nos mercados tradicionais, a forma mais comum de mensurar a volatilidade de um ativo é através do Índice de Volatilidade CBOE (VIX). Recentemente, também foi desenvolvido o Índice de Volatilidade do Bitcoin ("Bitcoin Volatility Index", em inglês), que mede a volatilidade do maior ativo digital do mundo de acordo com a sua capitalização de mercado ao longo de diversos períodos de tempo.
Existem diversos fatores que fazem com que o mercado de criptoativos apresente volatilidade acentuada. Três deles se destacam:
Além dos três fatores acima, existem várias outras coisas que afetam a volatilidade do mercado cripto, como a complexidade de uso das plataformas de negociação e custódia, que vêm evoluindo muito nos últimos anos, com interfaces cada vez mais simples e intuitivas.
O fato de ser um mercado ininterrupto — as negociações, diferentes do mercado tradicional que têm horários de funcionamento, acontecem 24 horas por dia, sete dias por semana — também colabora para um cenário de maior volatilidade, assim como os contratos futuros e a ausência de circuit breakers, o mecanismo que interrompe as negociações de ações em caso de volatilidade extrema, como explica João Marco da Cunha, gestor da Hashdex:
“O mercado de criptoativos não possui mecanismos como circuit breaker para evitar quedas muito acentuadas em momentos de pânico. Há também os mercados de futuros, altamente alavancados, com execução automática das margens que, de tempos em tempos, geram um efeito dominó que causa grandes desvalorizações em um curto espaço de tempo”, disse.
Riscos de cibersegurança também são um problema, já que histórias de corretoras hackeadas e fundos de investidores roubados ainda são relativamente comuns. As incertezas e dificuldades de entendimento quanto ao valor futuro dos criptoativos, assim como variação no valor percebido dos criptoativos, também afetam o mercado, assim como o mercado especulativo e a concentração da maioria dos bitcoins nas mãos de alguns poucos investidores.
“A volatilidade tende a diminuir conforme o mercado amadurece e um maior volume financeiro a nível mundial é negociado diariamente nas principais exchanges de criptoativos e no mercado de balcão (OTCs)”, explicou Frias, do Alter.
Opinião parecida tem Rodrigo Dantas, co-CEO da exchange Foxbit: “A diminuição da volatilidade será um processo natural, conforme cada vez mais pessoas guardem seus criptoativos visando o longo prazo”.
Historicamente, o bitcoin e os criptoativos de forma geral são apontados pela mídia e por parte dos investidores como uma classe de ativos incrivelmente volátil, mais do que qualquer outra. Por isso, pode parecer surpreendente para muita gente que, embora o bitcoin de fato seja um ativo volátil, outros ativos importantes têm sido muito mais.
Segundo pesquisa da gestora de investimentos global VanEck divulgada em novembro de 2020, 29% das ações de empresas que compõem o S&P500 apresentaram maior volatilidade do que o bitcoin ao longo do ano — o que equivale aos papéis de 145 companhias. Na análise de 90 dias, a volatilidade do bitcoin é inferior a de 22% das empresas do S&P500, o que equivale a 112 empresas com ações mais voláteis do que o principal criptoativo do mundo.
Outro levantamento, da ErisX, mostra que bitcoin e ether são, na média, mais voláteis do que as principais ações do mercado norte-americano. No entanto, diversos papéis mostram, em determinados momentos, volatilidade substancialmente maior do que a dos criptoativos.
Entre janeiro de 2019 e junho de 2020, por exemplo, as ações da Tesla tiveram volatilidade maior do que o bitcoin em praticamente um a cada três dias — em fevereiro de 2020, as ações da empresa de Elon Musk tiveram o dobro da volatilidade do bitcoin. Bank of America e General Electric também tiveram períodos de volatilidade acima dos dois maiores criptoativos do mercado.
No Brasil, a situação é parecida. De janeiro a novembro de 2020, a volatilidade do bitcoin era de 60,6%, nível muito semelhante aos 59,5% do Ibovespa para o mesmo período.
Outros mercados também apresentam o mesmo comportamento. Ainda segundo o estudo da ErisX, entre abril e maio de 2020, a volatilidade do petróleo cru foi 2,5 vezes maior do que a do bitcoin, além de se manter acima do criptoativo em vários outros momentos.
Os criptoativos ainda são, de fato, bastante voláteis, principalmente quando comparados com ativos como o ouro ou do mercado de câmbio. Isso não significa, porém, que sua volatilidade seja algo fora de controle, e a comparação com ações é prova disso.
Especialistas afirmam, também, que o desenvolvimento do mercado tende a reduzir a volatilidade e o risco, tornando este um mercado ainda mais atrativo para os investidores: “Os criptoativos têm se tornado menos voláteis com o passar do tempo. Isso é bom para o mercado, não só como sinal de amadurecimento, mas também, em alguns casos, por facilitar a utilização, por exemplo, dos criptoativos que se propõem a ser moeda, para os quais a estabilidade do valor é um atributo especialmente importante”, explicou João Marco.
Não é possível afirmar quando ou se os criptoativos e o bitcoin terão volatilidade reduzida. Como visto acima, isso depende de uma série de fatores e, principalmente, o amadurecimento e crescimento do mercado.
Até que isso aconteça, é importante ter em mente que a volatilidade não é necessariamente ruim. Ela apenas implica em riscos maiores e, portanto, ajustes no tamanho da exposição podem resolver o problema de forma simples.
"É importante notar que, pensando numa estratégia diversificada de composição de portfólio, volatilidade não é a única medida que deve ser levada em conta. Até porque, com a estratégia correta, é possível otimizar o nível de retorno ajustado ao risco da carteira. Isso é feito por meio da inclusão de ativos não correlacionados no seu portfólio. O bitcoin, ainda que volátil, é estratégico nesse sentido", explicou Nicholas Sacchi, head de criptoativos da EXAME.
João Marco, da Hashdex, faz uma analogia interessante com o mesmo conceito: “Um ativo de alta volatilidade é como um suco concentrado, você consegue diluir até o ponto do seu gosto. No caso contrário, quando o suco é aguado, não há muito o que fazer”.
No curso "Decifrando as Criptomoedas" da EXAME Academy, Nicholas Sacchi, head de criptoativos da Exame, mergulha no universo de criptoativos, com o objetivo de desmistificar e trazer clareza sobre o funcionamento. O especialista usa como exemplo o jogo Monopoly para mostrar quem são as empresas que estão atentas a essa tecnologia, além de ensinar como comprar criptoativos. Confira.