Criador da Cardano diz que apoia moedas digitais de governos, mas faz ressalvas ao modelo do Drex
“Não faria nem por US$ 1 bilhão”, diz criador da Cardano sobre moedas digitais de governos em redes permissionadas
Repórter do Future of Money
Publicado em 25 de julho de 2024 às 17h46.
Última atualização em 25 de julho de 2024 às 18h12.
Nesta quinta-feira, 25, Charles Hoskinson esteve no Brasil pela primeira vez para o Blockchain Rio, evento focado em tecnologia realizado na capital carioca. O cofundador da Ethereum e criador da Cardano, duas das maiores redes blockchain do mundo, comentou sobre o Drex, nova moeda digital brasileira em desenvolvimento pelo Banco Central do Brasil, e moedas deste tipo que também são desenvolvidas em outros países.
Conhecidas como moedas digitais de banco central (CBDCs, na sigla em inglês), elas têm como base redes blockchain ou DLT e utilizam a mesma tecnologia das criptomoedas para criar versões completamente digitais de moedas como o real, trazendo uma série de vantagens como a programabilidade, citada por Roberto Campos Neto, presidente do BC, no dia anterior do evento.
Apesar de elogiar as CBDCs, Charles Hoskinson fez ressalvas sobre os projetos em desenvolvimento ao redor do mundo, incluindo o Drex. De acordo com o matemático, que é um grande nome na indústria de blockchain, CBDCs desenvolvidas em redes permissionadas como o Drex podem oferecer perigos ao cidadão e à economia. Após uma coletiva de imprensa no Blockchain Rio, o matemático teve um encontro com o Banco Central do Brasil.
“Os bancos são neutros, eles não são bons ou ruins. Mas depende: as CBDCs têm integridade ou não? Se a intenção da CBDC for bancarizar os desbancarizados e contrabalancear o poder dos bancos contra o varejo, e elas preservarem e protegerem os direitos humanos, é algo bom. Se a CBDC for uma extensão do poder do Estado e basicamente uma institucionalização permanente do poder dos bancos comerciais, isso é algo muito ruim”, disse ele em entrevista exclusiva à EXAME nesta quinta-feira, 25.
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CBDCs e o controle governamental
Para Charles Hoskinson, além dos benefícios, as CBDCs podem apresentar riscos para cidadãos e para a economia.
“Quando você tem uma CBDC e a projeta do jeito errado, se o governo não gostar de você, eles podem simplesmente desligar o seu dinheiro. Assim como uma empresa de energia pode cortar a luz da sua casa, eles poderiam tirar o seu dinheiro e talvez devolver, talvez não”, disse ele.
“Por que eles fariam isso? Se você for um criminoso ou então apenas expressou opiniões contra o governo e algo do tipo. Então não é uma coincidência que muitos ditadores gostam bastante de CBDCs”, acrescentou.
O matemático citou a moeda digital da China como um exemplo de projeto que pode trazer riscos. O iuane digital é uma das CBDCs mais avançadas do mundo atualmente.
“A China é um grande exemplo disso, onde o Banco Popular da China está rodando um piloto com 200 milhões de pessoas e o objetivo deles é juntar o crédito social com o sistema CBDC para ter uma espécie de tirania algorítmica. Basicamente a ideia é que por meio de um modelo de IA, o score de crédito das pessoas caia conforme elas façam coisas que o governo não gosta. E aí você não pode mais comprar passagens de avião, o seu passaporte é desligado e o seu dinheiro para de funcionar completamente”, explicou Hoskinson à EXAME.
Para ele, a questão está no tipo de rede utilizada para abrigar a moeda digital:
“Por isso eu gosto de CBDCs criadas como criptomoedas em blockchains de forma aberta, porque isso significa que direitos estão sendo construídos dentro do sistema, e aí um governo não poderia fazer esse tipo de coisa”, disse.
“Eu não gosto de CBDCs que são construídas em redes privadas e permissionadas como a do banco central da China, mas cada governo vai precisar decidir isso e entender que caminho irão tomar, e eles precisam entender que as decisões que eles tiverem hoje vão ter implicações em 20, 30 ou 40 anos, porque esses sistemas serão herdados por seus sucessores”, acrescentou.
De acordo com Charles Hoskinson para a EXAME, moedas como o Drex precisam ser bem projetadas pensando no longo prazo e em possíveis sucessores no poder governamental e as possibilidades de uso indevido da tecnologia para repressão e uma má gestão da economia.
“Mesmo se os governantes forem virtuosos, honestos e ótimas pessoas, a existência dessa capacidade pode piorar com o tempo. Vimos isso nos Estados Unidos com o aparato de inteligência que o Bush passou depois do Patriot Act. Ele aumentou as capacidades de inteligência nos Estados Unidos e eles disseram ‘nunca vamos usar isso para machucar pessoas’, mas a tentação começou a aparecer e tudo mais. Agora percebemos que isso está muito maior do que antecipamos”, explicou.
“Mesmo que as pessoas que temos agora sejam virtuosas não façam isso, em algum ponto, seja por razões políticas, de carreira ou pelo ganho no curto prazo, isso vai violar a política monetária do Banco Central. É muito fácil imprimir dinheiro. É muito sedutor porque no curto prazo a economia parece ótima, o presidente está feliz porque as pessoas têm emprego, o PIB está crescendo, os salários subindo. Mas no longo prazo você vai destruir e desestabilizar o seu dinheiro”, concluiu o criador da Cardano.
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