Brasil vai ser "1º grande mercado totalmente tokenizado do mundo", afirma gestora
Fuse Capital anuncia joint venture com a Transfero para incentivar projetos na área de blockchain, Drex e criptoativos, de olho em "mercado de capitais descentralizado"
Repórter do Future of Money
Publicado em 12 de abril de 2024 às 09h30.
Última atualização em 18 de abril de 2024 às 15h44.
O Brasil reúne as condições necessárias para ser o o "primeiro grande mercado do mundo a ser tokenizado por inteiro, em massa", e esse cenário se tornou a nova aposta da Fuse Capital para o futuro do mercado financeiro brasileiro. E com isso em mente, a empresa anunciou nesta sexta-feira, 12, acriação da BRX, uma joint venture com a Transfero.
A criação, compartilhada com exclusividade com a EXAME, é descrita por João Zecchin, sócio-fundador da Fuse Capital, como um projeto para "criar ferramentas para o mercado de capitais descentralizado. A gente tem conceitos tradicionais de mercados tradicionais, como crédito, ações, e a ideia é trazer isso para o mercado descentralizado, mas com uma interpretação de como deveriam parecer nesse mercado".
O objetivo final das empresas com a nova operação é fomentar novos negócios e projetos que tragam casos de uso para a tecnologia blockchain , dando origem a novos produtos que poderão ser "oferecidos em massa" para a população no futuro. Para isso, a Fuse adicionou novos sócios ao seu quadro e também pretende impulsionar sua atuação internacional.
"Só é possível fazer esses produtos pela fusão de duas empresas que atuam em mundos diferentes. A Transfero é mais nativa do mundo de blockchain, entende o potencial dessa infraestrutura em eficiências operacionais, e tem a Fuse, que é uma gestora mais tradicional, com sócios do mercado financeiro, que entendem de produtos tradicionais", explica Zecchin.
O futuro do mercado brasileiro
As operações da BRX começarão já com dois projetos da Fuse Capital que colocam em prática o futuro descrito por Zecchin. Um é um protocolo de crédito privado e hedge de dólar e real, enquanto outro é uma aplicação de CDB, ambos integrados a redes blockchain.
Mas a maior expectativa da empresa está no potencial impacto do Drex , o projeto de moeda digital de banco central (CBDC) brasileira, que usará a tecnologia.
Dan Yamamura, sócio-fundador da Fuse Capital, explica que Brasil poderá ser o primeiro país a "evoluir para uma moeda descentralizada, e o que a gente está fazendo agora é criar utilidades para o Drex antes dele existir". Para isso, os projetos contarão com a stablecoin - uma criptomoeda - da Transfero pareada ao real.
Para Claudio Just, CEO da Transfero, a postura mostra como a relação entre as stablecoins e o Drex tende a ser "complementar", e não excludente: "O Drex não vai ser stablecoin, é mais um protocolo maior, uma camada, e a Transfero fica na camada de cima, precisando ter uma ponte entre os dois. O BRZ [stablecoin da empresa] busca dar liquidez ao real brasileiro fora do país e acabou virando um token específico para tokenização. Acredito em uma coexistência".
Zecchin defende ainda que o Drex tende a melhorar o sistema atual de stablecoins, que hoje ainda precisam ter reservas em bancos, seguindo protocolos tradicionais. Com o projeto do Banco Central , será possível ter as reservas registradas em blockchain, dando mais transparência e reduzindo possíveis desconfianças.
Em sua visão, a maior dificuldade na criação de produtos que aproveitem o melhor do mercado tradicional e do mundo cripto não envolve uma adaptação de produtos já existentes. "Trazer um produto de mercado financeiro e implementar exatamente igual no descentralizado funcionaria e talvez fosse até mais fácil de vender. Agora, o nosso entendimento é que esses produtos ganham muito mais flexibilidade, força, se usarem o ethos do mercado descentralizado de blockchain", opina.
Por isso, o desafio da BRX será exatamente estruturar, desenvolver e lançar esses produtos. "O maior desafio é não ficar no conforto de só refletir produtos tradicionais no blockchain, é usar blockchain para evoluir esses produtos", diz Zecchin.
Yamamura lembra ainda que o mercado financeiro brasileiro é "super sofisticado em termos de produto", mas ainda opera em uma estrutura "arcaica e cara". "Tudo isso pode ser substituído. Se você pensa melhor, consegue fazer coisas ainda melhores, e temos as ferramentas pra isso. É a capacidade de dar esse pulo em relação a outras grandes economias", defende.
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Barreiras de adoção
Outro elemento importante na atuação das duas empresas também está na busca por aumentar a aceitação de empresas tradicionais em relação às soluções e produtos vindas do mundo cripto. Just, da Transfero, avalia que o Drex tem ajudado a reduzir a barreira com essas companhias.
"O mercado já estava se aperfeiçoando antes e o Drex ajudou mais ainda, trouxe muitos players. Ainda tem gente que olha com desdém, é normal, não estamos mainstream ainda, mas os players estão mudando, as conversas estão mudando, e os grandes estão se movimentando", afirma.
Yamamura comenta ainda que outro aspecto importante nesse processo é a regulamentação do mercado cripto, em que o Brasil está "está à frente dos Estados Unidos nessa vontade de trazer blockchain como infraestrutura de mercado. É um posicionamento do Banco Central, mas regulação sempre é gargalo para o desenvolvimento desses produtos, depende do regulador, então é um desafio ainda".
Mesmo assim, o sócio da Fuse aponta uma evolução nas empresas e uma mudança de visão sobre o assunto. A escalabilidade depende da adoção dos grandes players, e eles tendem a ser os últimos, mas quando um médio adotar, todos vão correr atrás igual doidos. É algo semelhante ao que ocorreu com os neobanks, o Nubank", projeta.
Olhando para fora do Brazil, Zecchin aposta em uma "internacionalização" dos produtos criptos que serão criados no Brasil.
"A tecnologia vai ser bem implementada com o Drex, vai ser o modus operandi do mercado nacional, como o Pix virou, e esse modelo vai ser replicado pra fora do país, e as tecnologias criadas aqui localmente vão ser replicadas lá fora. É algo que começa no território nacional e ganha uma abrangência internacional", pontua.
Para isso, porém, ainda há um caminho a ser percorrido: "Falta mais uma qualificação de players de mercado, entenderem potencial da tecnologia e benefícios, e reduzir a resistência ao blockchain, até pelos casos negativos que tivemos. Quando a pessoa começa a entender, não dá pra voltar atrás".
"Tem uma maré levada pelo Banco Central, que está direcionando para esse lado de produtos blockchain e descentralizados, e isso vai carregar os players institucionais, eles vão ser obrigados a entender e abandonar o preconceito que têm", ressalta ainda o executivo.
Zecchin espera que a BRX consiga ajudar nesse processo ao apresentar produtos "melhores e mais baratos" criados com a tecnologia blockchain, "e aí vai ser difícil de argumentar contra".
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