(Reprodução/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 22 de abril de 2023 às 09h00.
Em tempos de ChatGPT, quem não aderir ao universo da Inteligência Artificial (IA) tem tudo para ficar para atrás. A plataforma idealizada pela empresa OpenAI que conversa, escreve poemas, receitas e cria até mesmo programas de computador, tornou-se o aplicativo com crescimento mais rápido da história ao atingir 100 milhões de usuários ativos em janeiro, apenas dois meses após seu lançamento. Não à toa, já ganhou a fama de ser a mais nova revolução que escancarou com maestria o poder da inteligência artificial.
Antes mesmo do boom do GPT, não era raro acompanhar nas redes sociais mundo afora movimentos virais envolvendo aplicativos de IA. Mais recentemente, o app Lensa para geração de avatares virtuais por meio de fotos foi a sensação entre anônimos e famosos. O FaceApp também bombou há alguns anos com o filtro da velhice, da mudança de gênero, do jovem/bebê. Enfim, certamente, a próxima trend a estourar está logo ali.
Por isso, é sempre bom lembrar nesses casos e em outros que nem tudo será positivo. Afinal, o bônus e o ônus caminham normalmente juntos, formando os dois lados de uma mesma moeda. O que isso significa? Que todo o potencial da IA já está dando muito o que falar e fazer – para bem e para o mal.
Ao passo que a tecnologia surpreende, sobretudo com o impacto de otimizar tempo, tarefas e demandas em diferentes setores, nos negócios e na rotina das pessoas, ela também assusta. O mesmo app Lensa, por exemplo, dos avatares mágicos, lançava mão de um termo de uso que dizia: “Você nos concede uma licença perpétua, irrevogável, não exclusiva, isenta de royalties, mundial, totalmente paga, transferível e sublicenciável para usar, reproduzir, modificar, adaptar, traduzir, criar trabalhos derivados e transferir seu conteúdo ao usuário”.
Tantos verbos e concessões em uma mesma frase geraram intensas advertências de especialistas de segurança da informação, privacidade e proteção de dados. Assim, novamente, o perigo de dar consentimento sem ler e, muitas vezes, ainda pagar por isso, voltou à cena.
Mas, afinal, quais são os riscos reais?
A curiosidade e a empolgação com as novas tecnologias e tendências nas redes sociais motivam os usuários a aderir às ondas. No entanto, o pouco cuidado com os dados pessoais envolvidos no processo deveria preocupar muito mais.
Ao usar um aplicativo de inteligência artificial e aceitar seus termos de uso e a política de privacidade (sem ler), a pessoa está dando permissão para que a empresa que faz a gestão do aplicativo tenha o direito de usar sua imagem indefinidamente, e, pior, sem a necessidade de compensação ou notificação. Já imaginou o seu rosto em campanhas diversas na internet ou em meios impressos sem nenhuma autorização prévia, pagamento ou indenização?
Ceder fotos a apps de IA, sem, de fato, ler tudo o que está em jogo pode ser o mesmo que fornecer material para ser usado no treinamento de um algoritmo para gerar um deepfake. Isto é, criação de vídeos falsos, mas realistas, de pessoas fazendo coisas que elas nunca fizeram na vida real. A técnica já gerou desde conteúdos com celebridades até discursos fictícios de políticos influentes.
Outro aspecto tão alarmante quanto os demais é o potencial de acessos que uma imagem detalhada com IA pode conceder a quem a detém. A imagem de rostos bem-posicionados pode gerar biometria. Hoje em dia, essa tecnologia é amplamente utilizada para liberação de acessos em bancos, nos próprios smartphones, caixas eletrônicos, residências e locais de trabalho.
Fato é que, diante de todos os benefícios que a IA tem a oferecer, a interação entre o usuário e a tecnologia ainda causa dúvidas no imaginário coletivo. De qualquer forma, quem não ouviu a expressão: “Data is the new oil”, ou “Dados são o novo petróleo”, em português, é bom se atentar.
Afinal, hoje em dia, já não é mais novidade a exploração indiscriminada de dados pessoais realizada por algumas empresas de tecnologia. Por isso, é fundamental que os usuários estejam informados sobre os riscos e as vantagens dos aplicativos de IA, para que possam utilizá-los de forma consciente e segura. Afinal, dados pessoais são cada vez mais valiosos, e é necessário protegê-los de forma responsável.
*Letícia Bufarah é head de marketing da Leapfone, startup pioneira no conceito Phone as a Service com smartphones por assinatura.
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