As empresas já sabem que IA não vai substituir os humanos, diz CTO da IBM
Em entrevista à EXAME, Wagner Arnaut falou sobre o avanço da inteligência artificial generativa e os cuidados que as empresas devem ter na sua adoção
Repórter do Future of Money
Publicado em 28 de junho de 2024 às 18h37.
Última atualização em 28 de junho de 2024 às 18h57.
A rápida expansão da inteligência artificial generativa desde 2023 deu origem a diversas especulações sobre o impacto dessa tecnologia no mundo do trabalho, inclusive com temores de substituições de funcionários por IAs. Mas, para Wagner Arnaut, CTO da IBM no Brasil, esse cenário não é levado a sério por empresas.
Em entrevista à EXAME durante a Febraban Tech 2024, o executivo avaliou que "o mercado veio se transformando muito" em relação ao tema. "A primeira reação das empresas foi lidar com um mito de que a IA substituiria o ser humano. As empresas já sabem que isso não é uma realidade, o ser humano é potencializado pela IA, e a IA precisa ser vista como acelerador das tarefas do dia a dia. O primeiro ponto, então, é desmistificar isso".
Arnaut acredita que há um segundo desafio na adoção de IA por empresas ligado à questão da posse dos dados usados no treinamento dos modelos de inteligência artificial. "Existia um medo nas organizações de usar IA, porque se achava que o dado ficaria com um terceiro, além da preocupação sobre a segurança do dado", diz.
Nesse sentido, o esforço da IBM tem sido desmistificar essas visões e mostrar os benefícios da adoção de IA. Ele ressalta que a empresa é uma das pioneiras no desenvolvimento da área, com pesquisas já nos anos 1960 que avançaram ao longo das décadas até chegarem no Watson, o chatbot de inteligência artificial da empresa.
"Hoje são mais de 400 empresas que já usam a nossa IA, e agora estão evoluindo com a generativa", comenta. Na visão dele, projetos como o Watson e o ChatGPT ajudam a desmistificar a tecnologia e democratizar o acesso a ela. "Quando as pessoas foram incorporando e viram o potencial da IA, de como consegue ganhar vantagem competitiva, a adoção aumenta", explica.
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O futuro da IA
Segundo o CTO, a IBM trabalha com três pilares na sua estratégia para inteligência artificial : "A IA não vai substituir o humano, o dado e modelo são propriedade de quem os criou e os modelos de IA precisam ter transparência e explicabilidade no seu funcionamento e resultados".
Arnaut ressalta que existem diversas abordagens em torno da inteligência artificial, formando um mundo "híbrido": "Existe um debate hoje sobre IA generativa e a anterior semelhante ao que acontecia no começo dos anos 2000 sobre a IA de treinamento supervisionado e não supervisionada. Mas na verdade a IA generativa complementa as outras, você não precisa usar ela em tudo".
Ele cita como exemplo a indústria financeira: se um banco precisa fornecer dados precisos ao cliente, como de transações, não faz sentido usar uma IA generativa que teria mais espaço para dar respostas "criativas". Mas, se o objetivo é montar uma sugestão de portfólio de investimento, a precisão da geração anterior de IA pode perder espaço para mais criatividade da IA generativa.
Por isso, ele argumenta que "a abordagem híbrida nas empresas é a de sucesso". Há, ainda, o que ele afirma ser uma "preocupação ética" em torno dos modelos de IA generativa para reduzir vieses, algo que é facilitado pela transparência e a explicabilidade.
Levando em conta esses fatores, a IBM tem optado por criar modelos de IA personalizados e restritos aos domínios de atuação de seus clientes. Arnaut afirma que a empresa não tem nenhum plano de criar um "modelo generalista", como o ChatGPT, que "responde de tudo mais ou menos" e faz uma busca generalizada por dados que acaba abrindo margem para imprecisões.
"O que eu vejo como tendência é a existência de vários tipos de modelos. Hoje, temos três tipos de grandes modelos de linguagem [ LLMs ]: os de domínio comum, os de código aberto e domínio específico e os especializados para cada empresa", diz. Mesmo assim, Arnaut recomenda que as empresas tenham uma postura crítica ao pensar em adotar a tecnologia.
"Tem um boom no mercado financeiro falando de IA generativa, todo mundo fala que quer usar no dia a dia, em todas as linhas de negócio. Mas tem de pensar para que quer usar, o hype e o caso de uso prático. O que não pode acontecer é ir pelo hype, de achar que tem de usar, mas não entender para que. É um momento, 2024 é para isso, uma transição entre o hype e efetivamente trazer isso para a realidade, gerando benefício", argumenta.