A hora e a vez das edfintechs brasileiras
Soluções financeiras alternativas dentro do mercado de educação ganham impulso no país, tanto no B2B quanto no B2C
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2022 às 18h00.
Última atualização em 19 de abril de 2022 às 11h11.
Por Bruno Diniz*
As fintechs seguem quebrando recordes de investimentos e avançam sobre diferentes setores da economia, à medida que realizam interseções com outros segmentos e revelam novas oportunidades de negócio, incluindo algumas que podem parecer um tanto óbvias à primeira vista, fazendo com que nos questionemos por que nada havia sido feito a respeito anteriormente.
Já abordei nessa coluna alguns nascentes subsegmentos fintech, como as Payroll Fintechs, as Green Fintechs e as Agrifintechs (também conhecidas como Agfintechs). Desta vez, analisarei as Edfintechs, grupo bastante promissor e que está atento a um dos setores mais importantes do país.
Os provedores de soluções focados nas instituições de ensino
De modo geral, o segmento de educação básica (composto pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) navegou águas turbulentas nos últimos dois anos. Além da adaptação necessária para adequarem ao contexto de baixo contato imposto pela pandemia, as escolas particulares sofreram diretamente com a crise econômica iniciada nesse período. Segundo dados da FENEP (Federação Nacional das Escolas Particulares), a inadimplência que historicamente girava em torno de 10% da receita da escola, subiu em 50%, atingindo a marca de 15%. Segundo levantamento realizado pela consultoria Meira Fernandes, 90% das escolas particulares terão aumento no valor das mensalidades em 2022. Deste total, 53% estimam reajustar as matrículas entre 7% e 10% - números que podem subir em função do avanço da inflação.
Somado a esse cenário, cabe salientar que são raras as linhas de crédito especificamente voltadas para esse nicho, sendo que as principais são contempladas pelas Linhas de Financiamento para Investimentos em Educação do BNDES, restando as opções convencionais de mercado baseadas no porte da companhia. Diante dessa situação, será necessário que as escolas dediquem seus esforços de planejamento em políticas de mensalidades, gestão de matrículas, redução da inadimplência, em suma, um profundo plano de reorganização financeira.
Visando endereçar problemas como esses, surgem players como a Educbank, fintech nascida em 2021 que oferece todo um ecossistema de soluções financeiras para as escolas, propondo planos para recebimento integral das mensalidades (garantindo inadimplência zero), linhas de capital, meios de pagamento, além de outros benefícios não-financeiros como ERP escolar, plataforma de educação online e ferramentas de contabilidade e de marketing. Com crescimento superior a 100% ao mês desde o início das operações em 2021, o Educbank estima transacionar mais de R$ 1 bilhão em pagamentos escolares em 2022, projetando apoiar 850 Escolas brasileiras – representando mais de 200 mil alunos.
Outra startup que busca resolver as dores da educação básica, mirando um mercado composto por 40 mil escolas e mais de 9 milhões de alunos, é a Isaac. Fundada em 2020, a Isaac é uma plataforma especializada em gestão financeira escolar, cujo objetivo é simplificar a rotina da instituição de ensino. Para isso, disponibilizam formas digitais de pagamentos das mensalidades, ficam responsável pela comunicação financeira com os alunos e garantem o recebimento da receita mensal (dando maior previsibilidade no fluxo financeiro). O modelo de negócio chamou a atenção de investidores internacionais, levando a Isaac a receber um aporte de US$ 125 milhões dos fundos General Atlantic, Softbank e Kaszek – isso após pouco mais de 1 ano do surgimento da empresa.
As oportunidades no segmento estão atraindo mais competidores para essa arena, como é o caso da Educpay, edfintech lançada em abril deste ano e que busca endereçar não só o B2B (facilitando o recebimento de mensalidades por parte das instituições do ensino básico e superior, além de conectar companhias de outros segmentos que patrocinam a educação dos seus colaboradores), mas também o B2C, interligando o aluno ao seu ecossistema de soluções financeiras e não-financeiras. E é justamente nessa ponta que mais alguns players (incluindo alguns tradicionais do mercado) estão direcionando os seus esforços.
Alternativas e novas possibilidades para os estudantes
Uma das empresas pioneiras na oferta de produtos financeiros digitais para o público universitário é a Pravaler, que iniciou suas atividades em 2001 e é focada em financiamento estudantil privado. Em 2012 o Itaú se tornou sócio da companhia e em 2016 a Ribbit Capital, fundo de Venture Capital especializado em fintechs, também se juntou aos acionistas. O negócio cresce ano após ano e a Pravaler estima movimentar R$ 10 bilhões em financiamentos até 2025. Deste total, R$ 1 bilhão serão para cursos de curta duração, formato que passou a ser financiado pela empresa em 2021.
Atuando também com crédito estudantil está a Elleve, startup fundada em 2021 que fornece apoio a estudantes que desejem iniciar cursos livres e técnicos em diversas áreas. Para viabilizar seu modelo de negócio, a Elleve atua também junto às escolas que não têm acesso a capital, depositando o valor integral do curso para a instituição selecionada quando o estudante realiza a matrícula, oferecendo fluxo de caixa imediato e assumindo todas as atividades de contrato e cobranças. No mesmo nicho encontra-se a Provi que, similarmente, atua financiando parceiros (sejam eles escolas ou infoprodutores) e os estudantes.
Falando ainda em formas alternativas de financiar alunos, encontramos a Trybe, uma escola de programação fundada em 2019 que forma novos desenvolvedores de software no país, um mercado que sofre com a falta de mão de obra qualificada. Um dos principais apelos da startup para seus estudantes é uma modalidade de pagamento chamada de “Modelo de Sucesso Compartilhado” (MSC), no qual o aluno só paga as parcelas do curso se estiver empregado e ganhando uma remuneração mínima definida pela escola, momento a partir do qual ele passa a pagar uma fatia percentual fixa do seu salário até quitar o compromisso (que possui um valor final mais alto do que as tradicionais alternativas de pagamento à vista ou parcelado ao longo do curso). No MSC há, inclusive, a interrupção do pagamento caso o aluno perca o emprego, sendo retomado quando ele conseguir uma nova vaga. Após consolidar essa tese, a Trybe busca dar seu próximo passo no segmento financeiro se tornando uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), podendo não só ofertar novos produtos de financiamento estudantil, como também contas digitais, antecipação de salário, antecipação de imposto de renda e outros serviços que se encaixem nas jornadas do seu público-alvo.
Falando em ofertas financeiras voltadas para públicos específicos, e seguindo a onda da “fintechzação” que tem conquistado empresas de diferentes setores, vemos iniciativas como a b.Uni, braço de soluções financeiras digitais do Grupo Ser Educacional do empreendedor Janguiê Diniz. Com a criação dessa empresa o grupo pretende capturar sinergias em serviços internos, indo desde a emissão de boletos da cobrança de mensalidades até o pagamento de salários dos colaboradores por meio da plataforma, além da parceria com outras empresas que fazem parte do seu ecossistema. Para os estudantes, toda uma esteira de produtos deve ser ofertada no futuro, como crédito, cartões, seguros, dentre outros, que poderão ser cada vez mais personalizados – com base no perfil do cliente, que já se relaciona com a instituição (podendo continuar durante todo o tempo do curso). Um interessante exemplo de combinação entre soluções financeiras e não-financeiras gerando possibilidades mais amplas para o consumidor conforme o tempo passa.
O setor se transforma – bem como o mercado em seu entorno
À medida que presenciamos grandes mudanças no segmento educacional, onde novas propostas surgem para resolver as necessidades urgentes de uma sociedade em rápida transformação, nos deparamos com várias formas alternativas de financiarmos o acesso ao conhecimento. Não se trata apenas de uma interessante oportunidade de negócios para empreendedores e investidores (como foi exposto nesse artigo), mas sim de uma atividade que provoca grande impacto social, transforma vidas e contribui com o crescimento do país – motivos suficientes que me levam a crer que é bastante promissora.
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