Acordo do Corinthians com Matías Rojas mostra enfraquecimento dos clubes argentinos no mercado
Especialistas analisam os principais motivos dessa desvantagem econômica em relação ao país vizinho
Redação Exame
Publicado em 15 de junho de 2023 às 18h36.
Última atualização em 15 de junho de 2023 às 19h32.
O Corinthians acertou a contratação de Matías Rojas, meio campista do Racing. Com contrato válido até 30 de julho, o paraguaio deixará o clube de graça e será anunciado no alvinegro apenas no mês que vem. Este movimento exemplifica bem a situação financeira dos times argentinos, que encontram cada vez mais dificuldades em competir com o país vizinho por causa da desvalorização do peso, moeda local.
A crise na Argentina tem impacto diretamente no poder aquisitivo dos clubes para realizar grandes contratações ou até mesmo conseguir manter os principais jogadores. Nas últimas quatro edições da Libertadores, por exemplo, o domínio dos brasileiros foi amplo. O Palmeiras conquistou o bicampeonato, em 2020 e 2021, enquanto o Flamengo levou o título na temporada anterior e em 2019.
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No ano passado, os clubes brasileiros também se reforçaram no mercado com atletas que atuam no futebol argentino. O Corinthians contratou o volante Fausto Vera, do Argentino Juniors, por US$ 5 milhões (algo em torno de R$ 27 milhões). O meia Galoppo, que atuava no Banfield, foi comprado pelo São Paulo por US$ 4 milhões.
Armênio Neto, especialista em geração de receitas na indústria esportiva, aponta outros motivos para a superioridade brasileira nas últimas competições continentais e discorre sobre o diferencial das equipes nacionais em relação aos argentinos.
“Acredito que esta hegemonia dos clubes brasileiros na América do Sul tem como um dos fatores a desigualdade financeira entre os países. Porém, creio que esse não é o único motivo que justifique esse domínio, que é algo mais recente, até porque os problemas de ordem econômica existem tanto no Brasil quanto na Argentina. Mas aqui temos, por exemplo, equipes com uma maior exposição, tanto pela participação nos torneios continentais quanto pelo grau de estruturação e as altas remunerações”, afirma Neto.
Já Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e proprietário da HeatMap, foca na questão do planejamento: “Percebe-se que os times costumam ser afetados pelos problemas econômicos do local onde estão situados. Contudo, com um planejamento qualificado e um trabalho profissional, o clube se fortalece no enfrentamento dessas dificuldades. Isso vale para qualquer contexto”, explica.
Enfraquecimento dos clubes argentinos
A diferença da premiação recebida pelos clubes brasileiros e argentinos após a conquista de títulos nacionais é outro fator notável. O vencedor da Copa do Brasil recebe R$ 70 milhões pelo título, sem contar a premiação das outras fases. Já na Argentina, os valores oferecidos pelos títulos nacionais passam longe das cifras oferecidas pela CBF. Ano passado, por exemplo, o Boca Jrs venceu a Copa da Liga Argentina e arrecadou US$ 500 mil pela conquista, considerando apenas a premiação pela Conmebol. Já em 2021, os xeneizes faturaram apenas US$ 37 mil.
"O futebol brasileiro, hoje, envolve cifras bem mais atrativas do que o argentino. Isso vai desde investimento dos clubes até as premiações das competições. Com certeza os salários altos, a visibilidade e a possibilidade de faturar milhões com títulos também é um fator que pesa para a vinda dos argentinos ao nosso país", avalia Rogério Neves, CEO da Motbot, plataforma que atua com crowdfunding esportivo, auxiliando clubes a arrecadarem receita para o “bicho” das partidas — valor pago a atletas e comissão técnica quando objetivos esportivos são atingidos.
Além das premiações, o advogado especializado em direito esportivo, Eduardo Carlezzo, aponta outras questões que justificam a supremacia financeira dos times do Brasil: “Aqui, a condição para que os clubes possam angariar verba é muito mais favorável. A desvalorização da moeda argentina faz com que as equipes encontrem dificuldades ao internalizar o valor oriundo das transferências de atletas para o exterior”.
Para Thiago Freitas, responsável técnico da TFM, agência que faz a gestão de carreira de prodígios como Vini Jr., Endrick e Martinelli, existem alguns elementos essenciais para que o nosso campeonato seja mais atrativo que o argentino.
“Temos um campeonato que é visto por mais clubes europeus, e também asiáticos, e que gera mais transferências internacionais para Europa e Ásia, o que faz dele um passo intermediário para aqueles que não conseguem diretamente da Argentina despertar interesse de europeus capazes de pagar o necessário para os livrar dos vínculos com seus clubes. Ao mesmo tempo, ainda sobre aspectos econômicos desse mercado específico, temos no Brasil clubes capazes de pagar a atletas argentinos, muito mais que clubes argentinos da mesma popularidade e audiência, e clubes capazes de pagar a um atleta mais do que europeus de um segundo ou terceiro escalões”, explica Freitas.
Com o título do Flamengo sobre o Athletico Paranaense, por 1 a 0, pela final única em Guayaquil, na última edição do torneio, o Brasil passou a ter 22 títulos da Libertadores. Apesar da marca expressiva, o país segue atrás da Argentina, que lidera o ranking de troféus levantados, com 25 taças.
Vale lembrar que, desde 2017, a Conmebol implementou algumas mudanças no formato do torneio e, com isso, o Brasil ganhou mais duas vagas, passando a ter sete representantes na competição continental. Países como Argentina, Colômbia e Chile também foram beneficiados e ganharam uma cada.
Para Júnior Chávare, dirigente da Ferroviária, com passagens por Grêmio, Atlético Mineiro, Bahia e São Paulo, esse domínio é justificado pelo foco dos brasileiros à essa competição.
“Se na argentina e no Uruguai os clubes já davam grande importância à competição, no Brasil esse interesse foi ficando cada vez maior somente nos últimos 15 anos”, afirma Chávare, que também aponta para uma queda em equipes de países tradicionais, como o Uruguai que apesar de somar oito conquistas de Libertadores, teve um clube campeão da competição pela última vez em 1988. “Além de estar vivendo uma crise técnica, as equipes do país também perdem competitividade na medida em que dificilmente conseguem manter seus principais jogadores”.