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SP tem apenas 35% de proteção contra calor, mas há caminhos para resfriar a cidade

Estudo do governo de SP com a USP mostra que regiões como Paraisópolis enfrentam de forma desigual o calor extremo, enquanto áreas verdes podem reduzir temperatura em até 5°C

Áreas verdes são capazes de reduzir em até 5°C a sensação térmica nas cidades (filipefrazao/Thinkstock)

Áreas verdes são capazes de reduzir em até 5°C a sensação térmica nas cidades (filipefrazao/Thinkstock)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 11h30.

Última atualização em 2 de dezembro de 2025 às 11h50.

Plantar árvores, ampliar parques e criar corredores verdes são medidas capazes de reduzir em até 5°C a sensação térmica nas cidades e podem fazer uma diferença significativa em dias de calor extremo.

É o que mostra um novo estudo lançado pela USP em parceria com o Governo de São Paulo e que revela uma desigualdade alarmante na capital paulista: apenas 35% do território apresenta alta capacidade de amenização climática, sobretudo em áreas com vegetação densa e menor adensamento populacional.

O restante da cidade vive uma realidade oposta. Regiões como Paraisópolis enfrentam altas temperaturas, pouca sombra e maior exposição ao risco climático. A desigualdade climática é uma realidade e as ondas de calor mataram 48 mil pessoas no Brasil entre 2000 e 2018, levando a mais óbitos do que deslizamentos de terra e enchentes.

"É uma emergência silenciosa. Seus efeitos são pouco percebidos, mas impactam severamente a saúde, a economia e a infraestrutura urbana", alerta o relatório, que reúne pesquisadores da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil).

Para os pesquisadores, as conclusões deixam claro que as políticas públicas devem priorizar bairros mais quentes e populosos, principalmente periferias, promovendo justiça climática e reduzindo o abismo no acesso ao conforto térmico.

"A adaptação climática não pode ser tratada como secundária, e as soluções baseadas na natureza são as mais custo-efetivas para reduzir riscos", afirma Rafael Chaves, vice-diretor do Biota Síntese e especialista ambiental do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA).

O Brasil esquenta em ritmo acelerado

Os dados mostram a urgência do problema. Entre as décadas de 1960 e 2010, o número de dias com ondas de calor a cada ano no Brasil aumentou mais de sete vezes, saltando de uma média de 7 para 52 dias.

Para São Paulo, as projeções climáticas são preocupantes: o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) prevê aumento médio de temperatura de cerca de 1,57°C para a capital paulista nos próximos 15 a 35 anos.

Mas há luz no fim do túnel: segundo simulações da Unicamp, o aquecimento poderia ser completamente anulado com arborização viária densa.

Soluções naturais com impacto mensurável

As chamadas soluções baseadas na natureza utilizam processos naturais para resolver desafios urbanos e reduzir a alta dos termômetros.

Na prática, isso inclui desde plantar árvores com canteiros largos e acesso à água até implantar parques, praças, jardins de chuva e sistemas agroflorestais.

A vegetação resfria o ambiente por dois mecanismos principais: sombra, que reduz a radiação solar direta, e transpiração, que libera vapor d'água e diminui a temperatura do ar.

No entanto, os pesquisadores reforçam que não basta plantar árvores isoladamente: elas precisam ter espaço, irrigação e manejo adequado para desenvolver copa, raízes e atingir seu pleno potencial de resfriamento.

Uma rua com arborização adequada pode ter sensação térmica até 5°C menor do que áreas com concreto exposto.

A medida reduz internações, melhora o conforto térmico e diminui riscos à população mais vulnerável como idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas.

O relatório também apresenta casos internacionais com forte aplicabilidade no contexto brasileiro. Em 40 cidades africanas, cientistas identificaram que o resfriamento proporcionado pela vegetação cresce conforme aumenta a cobertura arbórea, mas perde eficiência quando as temperaturas passam de 34°C -- patamar já comum em muitos centros urbanos brasileiros.

Na Califórnia, nos Estados Unidos, modelagens mostram que combinar arborização, agricultura urbana e pavimentos mais reflexivos pode reduzir temperaturas em até 3°C e diminuir em 25% as mortes associadas ao calor extremo.

Ações imediatas e de baixo custo

Além de diagnósticos, o estudo reúne ações práticas que cidades podem adotar:

  • Ampliar canteiros para que árvores tenham mais espaço;
  • Integrar vegetação e água (infraestrutura verde e azul);
  • Criar pequenos "oásis urbanos" com sombra e pontos de água potável;
  • Estimular agricultura urbana em espaços ociosos;
  • Adotar jardins de chuva para manejo de águas pluviais;
  • Replicar experiências bem-sucedidas de São Paulo, Campinas e cidades internacionais;

As recomendações dialogam com políticas estaduais em andamento. A Semil, por meio do Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática, trata ondas de calor como ameaça prioritária, enquanto o Refloresta-SP acelera a restauração ecológica e a implantação de sistemas agroflorestais que reduzem temperatura, aumentam a umidade e fortalecem a resiliência territorial.

Marco Nalon, diretor do IPA, reforçou a importância da integração entre ciência e gestão pública: "O estado já tem iniciativas em andamento, e a ideia é fortalecê-las com base em evidências."

Mitigação e adaptação precisam caminhar juntas

Uma das premissas do estudo é que medidas de mitigação e adaptação climática precisam caminhar juntas. 

"É fundamental reduzir emissões, melhorar o planejamento urbano e proteger as áreas naturais existentes", destacou Luciana Ferreira, pesquisadora da USP.

O relatório sucede os dados recentes dos impactos econômicos da polinização na agricultura paulista e integra a série Biota Síntese, consolidando o papel da ciência na construção de políticas públicas climáticas com impacto direto na vida das pessoas.

Como conclusão, a natureza se torna infraestrutura essencial para cidades resilientes e habitáveis.

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