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Retrospectiva ESG 2022: a guerra na Ucrânia fez a Europa voltar para o petróleo

Com cortes no abastecimento de gás natural por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, Europa desacelerou a transição energética para buscar fontes alternativas do combustível fóssil

Guerra na Ucrânia: invasão russa marca quase um ano de conflito com bombardeios, protestos e oposição de órgãos internacionais (Umit Bektas/Reuters)
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Fernanda Bastos

Publicado em 27 de dezembro de 2022 às 08h40.

Última atualização em 28 de dezembro de 2022 às 17h02.

Apesar do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, declarar em janeiro que não haveria guerra, em 24 de fevereiro deste ano, uma série de cidades ucranianas – incluindo a capital Kiev – foram invadidas por ataques aéreos russos. O acontecimento marcou o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que vem causando repercussões em diversos setores geopolíticos e econômicos neste quase um ano de conflito. Uma das áreas mais impactadas foi o abastecimento europeu, que dependia dos gasodutos russos para fornecimento de gás natural, muitos deles atravessando o território ucraniano.

A invasão russa corresponde a um dos piores conflitos europeus em anos, com inúmeros bombardeios, protestos e mortes. Segundo dados fornecidos pelo Energy International Administration (EIA), a Rússia, que é membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), constava, em 2021, como o 3º maior produtor de petróleo do mundo, produzindo 10.777.000 barris de petróleo por dia (bpd) – atrás somente dos EUA e da Arabia Saudita. Por esse motivo, logo no início das tensões entre os dois países, já havia preocupação sobre a oferta da commodity. Mas, além das grandes taxas de produção petrolífera, a Rússia é um dos grandes fornecedores europeus de gás natural, um dos insumos oriundos do petróleo.

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Como consequência à guerra, existia um clima tenso com relação à redução de oferta russa e possíveis sanções, ou seja, uma espécie de pena, aos produtos russos como parte de um posicionamento político avesso ao conflito. Dito isso, nos dias subsequentes às primeiras invasões, o petróleo disparou mais de 7%, precificado a US$ 105 por barril pela primeira vez desde 2014.

Existem estudiosos que acreditam que a produção petrolífera russa seria, supostamente, um dos grandes financiadores de todo o poderio do Kremlin para o conflito. Pensando nisso, muitos países se organizaram para desvalorizar a produção russa. Porém, com o abastecimento de gás natural descontinuado, desenhou-se um verdadeiro jogo complexo, dividindo investidores.

Uma das expectativas era que a Líbia voltasse a exportar petróleo pela primeira vez em meses, após um longo período de disputa entre o governo da Líbia e as ocupações rebeldes nos terminais de petróleo no leste do país desde o ano passado. De acordo com analistas da JBC Energy, o primeiro embarque da commodity poderia ocorrer em abril.

Mas, foi em junho deste ano que a estatal russa Gazprom tomou iniciativas mais intensas com relação ao fornecimento de gás para a Alemanha e outros países europeus, cortando parte ou totalmente o abastecimento. Países como França e Itália relataram dificuldade no recebimento do gás russo. A decisão foi consequência do amadurecimento do conflito, que entrava no seu quarto mês, além de uma forma de protesto russo para declarações de líderes europeus que apoiavam a entrada da Ucrânia na UE. A França não estava recebendo o fornecimento devido e recorreu a uma produção local chamada GRTgaz, enquanto a Itália teve redução do fornecimento e recorreu à empresa Eni.

Já no mês seguinte, o corte imediato de entregas de gás à Ucrânia, um dia após tentativas falhas de negociação entre a tríplice russa, ucraniana e europeia sobre o preço do gás russo. Neste ponto, o conflito se tornava, além de bélico, uma “guerra energética” com todo um plano de fundo de preocupação por parte da União Europeia. A Gazprom, empresa russa, anunciou na véspera a suspensão de todas as compras de gás russo como resposta ao fracasso.

"A Ucrânia não pagou o gás para julho. A partir das dez da manhã de 1 de julho, o abastecimento de gás da Gazprom à Ucrânia será cortado. A Gazprom não entregará mais gás à Ucrânia -seja qual for seu preço- sem pagamento antecipado", declarou em comunicado o presidente da Gazprom, Alexei Miller.

Tensões no contexto internacional

Muitos países e organizações mundiais se prontificaram a ter um posicionamento avesso ao conflito. O G7, por exemplo, que é formado pelos EUA, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Japão, afirmou que pretendia "evitar que a Rússia lucre com sua guerra agressiva contra a Ucrânia e apoiar a estabilidade nos mercados mundiais de energia" para que as consequências no contexto macroeconômico gerados pela guerra fossem controlados, além de expressar um boicote ao governo russo.

No último dia 2 de dezembro, sexta-feira, os 27 países-membros da União Europeia (UE), juntamente com o G7 e a Austrália, firmaram um acordo para impor um preço máximo ao petróleo russo de 60 dólares o barril, com o objetivo de privar Moscou de uma grande fonte de financiamento para a invasão da Ucrânia. Porém, o gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, pediu um teto contra o petróleo russo mais baixo do que o acordado por membros do G7, União Europeia (UE) e outros países. Passando de 60 dólares para 30 dólares.

"Seria necessário baixá-lo para US$ 30 para destruir a economia do inimigo mais rapidamente", escreveu Andriy Yermak, chefe do gabinete de Zelensky, em sua conta no aplicativo de comunicação Telegram.

Além disso, no meio das reuniões e discussões diplomáticas, foi considerada a entrada da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como forma de apoio ao local invadido. O assunto, visto como um verdadeiro barril prestes a explodir, veio à tona após uma reunião entre o presidente ucraniano, Zelensky, e o presidente norte-americano, Joe Biden. "Dificilmente países como a Alemanha e França concordariam com a adesão da Ucrânia ao bloco militar, por temer reações da Rússia", afirmou o cientista político americano Ariel Cohen.

Consequências sentidas pelo Brasil

Além de todo o contexto russo de produtor e exportador de commodities importantes, tanto a Rússia como a Ucrânia são grandes produtores mundiais de grãos. Por esse motivo, produtos, como pão e massas, também poderiam ter seus valores afetados pela tensão. Além de impactos que foram sentidos pelas oscilações na bolsa de valores, internacional e brasileira.

O fim da guerra está próximo?

O presidente russo, Vladimir Putin, disse na última quinta-feira, 22 de dezembro, que a Rússia quer o fim da guerra na Ucrânia e que isso envolveria uma solução diplomática. "Nosso objetivo não é girar o volante do conflito militar, mas, ao contrário, acabar com esta guerra", explicou o presidente. "Vamos nos esforçar para acabar com isso, e quanto mais cedo melhor, é claro."

A fala veio um dia depois que o presidente dos Estados Unidos, Biden, recebeu o presidente ucraniano, Zelenskiy, na Casa Branca e prometeu apoio contínuo e “inabalável” dos EUA. Biden anunciou um novo pacote de ajuda militar de US$ 1,85 bilhão, incluindo um sistema de defesa antimísseis Patriot.

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