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Por que 2026 será decisivo para a agenda climática das empresas

“Escalabilidade será a palavra do ano”, diz diretora do CEBDS, ao apontar implementação, financiamento e pressão regulatória como fatores-chave para guiar o setor privado

Empresas entram em 2026 com missão de transformar compromissos climáticos em implementação e escala (Getty Images)

Empresas entram em 2026 com missão de transformar compromissos climáticos em implementação e escala (Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 26 de dezembro de 2025 às 12h30.

Última atualização em 26 de dezembro de 2025 às 12h44.

Acelerar a implementação, escalar soluções tecnológicas e destravar financiamento. Estas são as ideias que devem guiar o setor privado na agenda climática em 2026, segundo diretora do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Um dos grandes legados da COP30 foi posicionar as empresas no centro do combate à crise do clima e como motores da transição, entendendo que a pauta deixou apenas de ser ambiental e se tornou econômica.

"É a grande virada de chave. Saímos do mote da negociação e criamos uma agenda de ação. Embora seja voluntária, ela traz um impulso político muito importante e uma sinalização de rotas para o setor empresarial", disse em entrevista à EXAME Viviane Romeiro, diretora de Clima e Energia do CEBDS, movimento que reúne mais de 100 grandes companhias brasileiras e representa diversos setores em prol da sustentabilidade. 

O movimento, inédito nas COPs, foi considerado uma inovação liderada pela presidência brasileira, dentro do espírito do “mutirão”. Afinal, em meio à crise do multilateralismo, não "chegaríamos a lugar nenhum" se dependêssemos apenas do que foi decidido no processo formal da ONU.

++ Leia mais: Belém fez da COP30 a conferência do setor privado

Neste sentido, a agenda de ação marcou a consolidação de 117 planos em eixos estratégicos: mitigação das emissões, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação, e que devem dar um norte para as empresas brasileiras em 2026. 

Para a especialista, a palavra do ano é "escalabilidade".

"O Brasil já é um celeiro de soluções baseadas na natureza, então há um potencial muito grande de exportá-las, mas agora é preciso olhar com atenção para darmos escala e isso perpassa pelo financiamento."

Da negociação à implementação: o que ficar de olho

A mudança de foco da COP30 representa uma virada de chave importante. Segundo Viviane, pela primeira vez a agenda de ação ganha peso político equivalente à agenda de negociação tradicional das COPs, com a vantagem de ser mais ágil por não depender dos longos processos de consenso multilateral.

"É um cascateamento. Surge desse marco mais amplo do multilateralismo e vai permeando para a política doméstica, portanto para a política corporativa", explica a executiva, referindo-se ao impacto das sinalizações globais sobre as estratégias empresariais.

Entre as principais sinalizações da conferência climática que devem impactar o setor privado estão: o Fundo de Floresta Tropical para Sempre (TFFF), integrações de mercados de carbono, taxonomia verde, aportes financeiros importantes para a meta de financiamento climático do Acordo de Paris, e os "mapas do caminho" para a redução gradual dos combustíveis fósseis e desmatamento zero.

No âmbito nacional, a diretora destaca a aprovação recente do Plano Clima, que finalmente traz ações setoriais de mitigação e adaptação após uma longa construção coletiva e alguns impasses com o agronegócio.

"É um marco muito importante para trazer mais estrutura regulatória, ambiência política, para que o setor privado tenha essa maior segurança e orientação", afirmou.

Outra política relevante foi o decreto que determina a criação do "mapa do caminho da transição energética" em 60 dias, uma das prioridades da presidência brasileira da COP30 até a passada de bastão para a COP31 na Turquia, em novembro.

"É uma sinalização política muito relevante que certamente vai recair sobre reorientação e aperfeiçoamento, fortalecimento dos planos de transição corporativos", ressaltou Viviane.

O Plano de Transformação Ecológica, liderado pelo Ministério da Fazenda, também integra esse conjunto de políticas estruturantes que devem orientar o setor empresarial no próximo ano.

Coalizões setoriais de descarbonização

O CEBDS tem atuado na construção de convergências entre setor público e privado, especialmente através de coalizões setoriais de descarbonização nas áreas de transporte, agricultura, energia e minerais críticos.

Durante a COP30, foram mais de 300 entidades fazendo parte dos temas-chave. "O próprio embaixador Corrêa do Lago enalteceu bastante esse ineditismo de uma construção de convergência."

Para 2026, as coalizões entram em um novo patamar, trabalhando com "alavancas transversais" como biocombustíveis, eletrificação e uso do solo, além de focar nos viabilizadores para impulsionar essas alavancas — ou seja, os "meios de implementação".

Paralelamente, a entidade está trabalhando no programa "Brasil de Soluções", que apresenta mais de 130 casos concretos de empresas associadas que trazem impacto, escalabilidade, replicabilidade e celeridade.

"Entendemos que a chave para virar implementação é justamente a escala", destacou.

Adaptação climático ganha espaço

Um dos destaques é o equilíbrio entre esforços de mitigação e adaptação climática, algo explícito no novo Plano Clima.

A executiva lembra que historicamente a adaptação ficava em segundo plano. "Se tratava de uma pauta escanteada, não tinha atenção devida. Mas quando passamos a olhar para isso, há uma importância política e também financeira", frisou.

Segundo ela, o cenário mudou e pensar em estratégias desta agenda perpassa por "riscos, custos, mas também medidas preventivas, ou seja, redução de prejuízos no médio prazo".

Os eventos climáticos extremos crescentes no Brasil têm aumentado a percepção pública sobre a urgência da agenda climática. "Percebemos a população prestando mais a atenção na ciência, que até então tinha muito ceticismo, principalmente no ramo político", observou a especialista.

As empresas também já sentem o impacto na prática. "Vamos a exemplo da Enel em São Paulo, que está passando por vários desafios de litígio também por conta desses eventos do clima", citou.

Para Viviane, entra agora com força "a litigância climática e a infraestrutura resiliente como uma janela de oportunidade."

Ou seja, qualquer planejamento empresarial precisa considerar resiliência climática em 2026. 

O grande desafio, segundo ela, é a sustentabilidade temporal das políticas. "Como é que a sustentamos uma visão de longo prazo, visto que no Brasil os mandatos políticos são de 4 anos", reflete.

Eleições no radar

2026 também será ano de eleições presidenciais, o que adiciona outra camada de complexidade ao planejamento empresarial.

Historicamente, o CEBDS apresenta material com propostas e recomendações para candidatos, trazendo CEOs das empresas associadas para dialogar com lideranças políticas e trazendo suas prioridades.

"É uma agenda também que vai conectar esses diferentes pontos do quebra-cabeça que temos hoje", explicou Viviane.

A percepção pública crescente sobre o clima, impulsionada pelos eventos extremos, pode tornar o tema mais relevante no debate eleitoral.

Embora 2026 concentre atenções com a presidência brasileira da COP30 até novembro e as eleições, Viviane lembra que há agendas de médio prazo importantes. A COP da biodiversidade acontece na Armênia, e a COP de desertificação na Etiópia. 

"Há uma intersecção das pautas", disse ao se referir a integração das agendas de clima, biodiversidade e economia circular, bastante reforçada nas discussões internacionais recentes.

Para as empresas brasileiras, 2026 promete ser um ano de transição do discurso para a prática, com marcos regulatórios mais claros, maior pressão por resultados concretos e a necessidade de escalar soluções que já existem mas ainda não foram implementadas em larga escala.

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