ESG

O que os gaúchos devem fazer com quase 47 milhões de toneladas de entulho

Segundo a UFRGS, são esperados dois picos de geração de resíduos; o próximo momento crítico deve ocorrer no momento em que os edifícios submersos por longos períodos forem avaliados estruturalmente

Lixo: Eldorado do Sul, uma das cidades mais afetadas pelas enchentes no RS, ainda sofre com resíduos (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Lixo: Eldorado do Sul, uma das cidades mais afetadas pelas enchentes no RS, ainda sofre com resíduos (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 1 de junho de 2024 às 07h30.

No último mês - e provavelmente pelos próximos meses -, tem sido recorrente ver diariamente imagens de pertences de moradores, do poder público e da iniciativa privada das cidades do Rio Grande do Sul, atingidos pela enchentes, transformados em montes de entulho, inutilizado pela água barrenta.

Projeção dos pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a empresa Mox Debris, revelou recentemente que, em um levantamento preliminar, o desastre ambiental gerou 46,746 milhões de toneladas de resíduos.

A estimativa foi feita com base em imagens de satélite e levantamentos de dados. O estudo identificou ainda que cerca de 400 mil estruturas construídas foram inundadas no Rio Grande do Sul por causa do extremo climático. Do total, 11% foram gravemente danificadas ou destruídas por fortes correntes, e 42% deverão sofrer graves danos estruturais devido à longa submersão nas águas das cheias. O número corresponde a, aproximadamente, 6% do total de estruturas na bacia do Guaíba.

O trabalho levou em consideração até mesmo a vulnerabilidade das estruturas construídas, calculada com base na renda média fornecida pelo Instituto Nacional de Estatística (IBGE). "Cada combinação desses fatores proporcionou uma taxa de geração de resíduos por metro quadrado construído, variando de 0,07 a 1,2 toneladas métricas por metro quadrado", explicou a UFRGS, em publicação.

Segundo a UFRGS, são esperados dois picos de geração de detritos: a resposta imediata deverá lidar com aproximadamente 5 milhões de toneladas provenientes de mobiliário e equipamentos industriais somados a 19 milhões de toneladas geradas a partir de edifícios destruídos. Um segundo pico é esperado quando os edifícios submersos por longos períodos forem avaliados estruturalmente.

De acordo com a avaliação de danos da UFRGS, 400 mil estruturas foram parcial ou totalmente inundadas no estado até 6 de maio de 2024. Destas, 44.600 (11%) foram gravemente danificadas ou destruídas por fortes correntes, e 170.200 (42%) deverão sofrer graves danos estruturais devido à longa submersão nas águas das cheias. Isso corresponde a aproximadamente 6% do total de estruturas na bacia do Guaíba.

Cartilha

Mas o que fazer com tanto material descartado de forma a minimizar as perdas e os riscos de contaminação? Recentemente, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e o Ministério Público do Estado (MPRS) lançaram uma cartilha voltada aos municípios, com orientações gerais sobre como dar o melhor destino aos resíduos gerados pelo desastre no Rio Grande do Sul.

A recomendação é, de preferência, separar os resíduos sólidos por tipo. Os urbanos são os domiciliares, serviços, comércios e outras atividades isentas de licença. Já os provenientes da construção civil são categorizados como entulho. A separação, segundo a cartilha, facilita a destinação correta do material para locais licenciados ou preparados para o armazenamento temporário. Outra recomendação é que os resíduos de saúde e aqueles gerados pela indústria não sejam misturados.

Outras orientações da cartilha

  • Na hora de fazer a limpeza dos locais contaminados, a orientação é para que seja adotada a proteção com botas, luvas, máscara e que seja usado o repelente.
  • Resíduos que tiveram contato com água ou lama devem ser colocados em sacos ou sacolas para facilitar a coleta.
  • Materiais secos que podem ser reciclados, como metais, papéis e plásticos, não devem ser misturados aos resíduos contaminados por água e lama.
  • Telhas de zinco, tijolos e madeira, que podem ser reaproveitados, devem ser separados.
  • Todo objeto feito com material absorvente, como sofás e colchões, que não puderem ser reaproveitados, devem ser descartados.
  • Já metais e vidros, desinfetados com álcool 70% ou solução de água sanitária, podem ser usados novamente.
  • Água e sabão, e depois água sanitária, devem ser usados na limpeza de paredes, bancadas e pisos.
  • Vassouras e panos usados no processo de higienização devem ser descartados ao final do processo.
  • A cartilha alerta que prefeituras que não conseguirem aterros sanitários ou transporte para o envio do que for coletado podem usar áreas emergenciais, desde que não haja no local recursos hídricos ou com risco de alagamento, que exista a possibilidade de remoção futura do material, distante de áreas com habitações.

Para onde vão os resíduos sólidos?

  • Resíduos sólidos urbanos - aterros sanitários.
  • Resíduos eletroeletrônicos - locais específicos para o reaproveitamento de materiais.
  • Resíduos da construção civil - aterros de inertes ou locais específicos de beneficiamento.

A cartilha trata ainda do destino a resíduos das atividades de saúde, animais mortos, embalagens de produtos químicos e agrotóxicos.

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