Sem empresas, Brasil será incapaz de preservar Amazônia, diz Mourão
O vice-presidente Hamilton Mourão falou sobre oportunidades de financiamento para a floresta durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos
Maria Clara Dias
Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 12h38.
Última atualização em 27 de janeiro de 2021 às 12h46.
Apesar de ter responsabilidade majoritária na proteção da Amazônia, o Brasil só será capaz de salvar a floresta com ajuda internacional e apoio do setor privado. A afirmação foi feita pelo vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, nesta quarta-feira (27), durante painel do Fórum Econômico Mundial, cuja edição acontece nesta semana.
O painel “Financiamento para a transição da Amazônia para a bioeconomia sustentável” também contou com as presenças de Gustavo Montezano, presidente do BNDES; Candido Bracher, presidente do Itaú; Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale e Ivan Duque, presidente da Colômbia. A moderação foi da líder do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, Marisol Barillas.
Mourão criticou o descompasso entre o interesse internacional na preservação da Amazônia e o recebimento de recursos financeiros e técnicos para ações concretas de proteção do bioma. “Mesmo com o aumento no interesse sobre a situação da Amazônia tenha aumentado drasticamente, o mesmo não pode ser dito sobre a cooperação internacional técnica e financeira para a região”, disse.
Segundo ele, o setor privado tem papel fundamental na preservação da Amazônia, e o foco das empresas daqui em diante deve estar no potencial econômico do bioma e na bioeconomia - modelo que une a exploração ambiental com a conservação e a criação de empregos e valor social. “Sem a parceria com os setores públicos e privados e cooperação internacional, o Brasil será incapaz de atingir o objetivo principal de preservação da Amazônia.”
Durante o evento, Mourão repetiu por diversas vezes que o Brasil está comprometido com o desenvolvimento de políticas e leis que permitam o avanço da bioeconomia na Amazônia e com a proteção da floresta. O governante também reforçou que o Brasil irá liderar um painel da ONU sobre o setor energético, ainda em 2021, e relembrou a novo compromisso do país com o Acordo de Paris, que estabelece a neutralidade em carbono até 2060.
A atração de investidores privados e do setor empresarial é algo válido para o setor de energias renováveis, algo prioritário para o Brasil, segundo Mourão. O governante também afirma que o pagamento por serviços ambientais é vital para que haja “um contínuo trabalho para prevenir ilegalidades na região".
Parte dessas irregularidades serão resolvidas com políticas direcionadas a regularização de terras e o pagamento por serviços ambientais. Para isso, o Ministério da Economia tem trabalhado no projeto “Amazônia Verde”, que pretende trazer mais investimentos privados para a região, ressaltou.
"2020 foi, sem dúvida, o ano mais desafiador da história recente. Não apenas para nossa população e economia, mas para o meio ambiente”, disse.
De acordo com Mourão, o governo brasileiro também voltará a negociar o Fundo Amazônia, projeto criado em 2008 em parceria com os governos da Noruega e Alemanha. "O Governo Federal continuará a mostrar comprometimento contínuo com a agenda sustentável, e com projetos promissores nessa área, e para isso, investimentos internacionais são vitais".
Cooperação na América Latina
Ivan Duque, presidente da Colômbia, defendeu que a proteção da Amazônia vai além da exploração da bioeconomia, mas define o futuro do planeta em relação às mudanças climáticas. “Para valorizar, é preciso entender os problemas que a Amazônia enfrenta”, disse. Apesar de ter apenas 6% da mata no país, cerca de 35% do território colombiano é composto pela vegetação amazônica.
Há 2 anos, os sete países da América do Sul que compartilham a bacia criaram o Pacto de Letícia, que promove a preservação do bioma e seu reflorestamento e procura mitigar os danos das queimadas e desmatamento na região. O desafio agora, segundo Duque, é unir com eficiência a bioversidade a inovação e engajar o setor empresarial na criação de um mercado que priorize a proteção e acelere a implementação de um mercado de carbono.
Agro e transformação digital
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que a transformação digital tem ocorrido muito rapidamente no Brasil e que o setor de agronegócios precisa estar inserido neste contexto de mudança. O País tem, segundo ela, um dos "mais vibrantes" ambientes de negócios, com mais de 2 mil agritechs - startups do agronegócio. O Brasil, afirmou a ministra, tem ampliado os investimentos nesta frente ao longo dos últimos anos.
"Os investimentos passaram de US$ 4 milhões em 2013 para mais de R$ 200 milhões em 2019. Temos mais de 2 mil agritechs trabalhando em diversas áreas, como rastreabilidade, e diversas tecnologias para entregar produtos mais sustentáveis e seguros", disse a ministra da Agricultura, durante a edição virtual do Fórum Econômico Mundial de Davos.
De acordo com ela, a atuação do agronegócio brasileiro está debruçada em diretrizes claras, com cinco eixos: sustentabilidade, inovação aberta, biotecnologia, agregação de valor e agricultura digital.
Tereza Cristina participa nesta quarta-feira de painel virtual sobre a transformação de sistemas alimentares por meio da tecnologia e inovação, no âmbito do Fórum Econômico Mundial de Davos. Ela dividiu a arena digital com representantes de organizações internacionais ligadas à alimentação, dos governos da Índia e África do Sul e ainda de empresas privadas.
Tereza Cristina disse que a próxima década será marcada por "convergência digital e biológica", principalmente, na agropecuária. "Inovação é imprescindível para adequar a agropecuária à realidade global e é o único vetor capaz de conciliar segurança alimentar e preservação ambiental", disse a ministra.
Tereza Cristina também aproveitou a plateia digital e com participação global para evidenciar a importância da integração dos pequenos produtores no setor de agronegócios. Segundo ela, esse é o passaporte para manter o jovem no campo e impedir que a população fique tão envelhecida no meio rural. Destacou, ainda, a importância de ajudar as mulheres que trabalham no campo.