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Favela no Rio de Janeiro: o consumo das favelas brasileiras supera o de 22 estados (luoman/Getty Images)
Editor ESG
Publicado em 19 de março de 2024 às 11h55.
Última atualização em 19 de março de 2024 às 12h49.
As favelas brasileiras terão um banco para chamar de seu. Celso Athayde fará o grande anúncio, na quinta-feira, 21, em Porto Alegre, durante o South Summit Brazil. Em sociedade com José Renato Hopf, fundador da GetNet, primeira empresa brasileira de tecnologia a se tornar um unicórnio (valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares), ele lançará o F Bank, um banco focado nos moradores de favela. E quando diz banco, é um banco mesmo, com conta corrente, gerentes, produtos de investimentos, seguros e empréstimos. “Será o primeiro com todas as credenciais exigidas pelo Banco Central”, disse Celso à EXAME.
O F Bank funciona em modo piloto desde março do ano passado. A previsão é que entre em operação em setembro. No período de testes, o banco fez em média 2.500 transações por dia para 29.700 clientes, gerou 17.600 chaves PIX e movimentou 21.800.000 reais. O anúncio se dá em um momento de captação. A instituição financeira, segundo seu CEO, Rubens F. Gil Filho, busca novos investidores e, para isso, se apoia no potencial das favelas brasileiras como mercado.
Dados do Data Favela, empresa de pesquisas, apontam que o consumo nas favelas supera os 200 bilhões de reais, volume maior do que o registrado em 22 estados. Esses territórios são carentes de infraestrutura, como saneamento e mobilidade, porém, concentram grandes massas de trabalhadores qualificados em função da proximidade com os grandes centros urbanos. Na última prévia divulgada pelo IBGE, consta uma população de 16 milhões de pessoas vivendo em favelas, mas espera-se que esse número chegue a 18 milhões na contagem oficial do último censo.
A falta de infraestrutura nas favelas contrasta com o empreendedorismo e a identificação local de seus moradores. Os dados do Data Favela mostram que 7 em cada 10 pessoas teriam um negócio próprio na favela e permaneceriam morando no mesmo lugar mesmo se triplicassem a renda. Para 6 milhões de moradores, o maior sonho profissional é empreender na comunidade.
Apesar desse potencial, Athayde analisa que o sistema financeiro atual mais atrapalha do que ajuda. Os bancos e fintechs, salvo exceções, não compreendem a favela e não estimulam o ecossistema. Parte das reclamações registradas nas favelas são comuns a outros lugares, como excesso de burocracia, tarifas altas e tempo de aprovação do cadastro. Outras são mais específicas, como a dificuldade de comunicação entre a instituição financeira e os moradores.
Para sanar esse problema, o F Bank terá 5.000 gerentes em 5.000 favelas. A ideia é usar as casas das lideranças da Central Única de Favelas (CUFA), co-fundada por Athayde, como bases de atendimento, nos moldes de uma agência bancária. Os gerentes serão pessoas locais, que conhecem os moradores e são capazes de usar uma linguagem mais familiar, sem o famoso “financês”. “Estamos entusiasmados em anunciar o pré-lançamento do F Bank e compartilhar nossa visão de construir um futuro financeiro mais justo e inclusivo”, afirmou José Renato Hopf, sócio fundador do F Bank.
Bancos de favela
Há outras iniciativas de serviços financeiros em favela, que se apoiam nas chamadas contas de pagamento, modalidade regulada pelo BC mas que não conta com as mesmas capacidades das contas correntes – não pode, por exemplo, oferecer serviços de crédito atrelados a elas. A mais desenvolvida é a Conta Black, criada há sete anos por Sergio All e Fernanda Ribeiro, atual CEO. Em 2022, em Nova York, a fintech anunciou uma parceria com a Genial Investimentos. Um ano depois, no mesmo local, comunicou que buscava uma captação de 100 milhões de reais. “No último ano, aprimoramos o produto e lançamos a conta Black 2.0, na qual o cliente pode fazer investimentos a partir de 10 reais. Agora, estamos focamos na ampliação do acesso ao crédito para facilitar a vida das pessoas negras e periféricas”, diz Fernanda, CEO da Conta Black.
Outra inciativa é o G10 Bank, criado pela ONG G10 Favelas, com atuação em Paraisópolis e outras favelas da capital paulista. A instituição foi lançada em 2021 e também oferece conta de pagamento, PIX, transferências e depósitos. Em janeiro, abriu a primeira agência física, em Paraisópolis.