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A Expo Favela, maior evento de negócios e empreendedorismo em favela do Brasil, já está em seu terceiro ano (Expo Favela/Reprodução)
CEO da Favela Holding
Publicado em 5 de janeiro de 2024 às 11h06.
A filantropia e o movimento por uma cultura de doação no Brasil têm uma longa jornada pela frente. No Brasil foram doados, em 2022, R$ 12,8 bilhões, segundo dados do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), e temos uma oportunidade e um caminho de aprendizagem para trazer famílias filantropas, fundações e institutos corporativos a se comprometerem com empreendedores(as) sociais que criam organizações sem fins lucrativos em seus territórios periféricos e favelas. Afinal, são empreendedores(as) destes territórios que sabem lidar com os desafios locais, são eles que vivem no dia a dia da quebrada.
O fundamental é ter consciência dessa importância para criar libertação e não dependência. A filantropia brasileira chega pouco às organizações de periferia e é exatamente por isso que eu provoco dizendo que a favela não precisa apenas de filantropia, mas de um conjunto de investimentos e iniciativas econômicas para gerar riqueza. E devemos parar de dar exemplos de escassez e passar a focar nos de abundância.
Segundo pesquisa da Iniciativa PIPA, que promove o investimento social, no Brasil, 31% das organizações de periferia vivem com menos de R$ 5 mil por ano; em 89% dessas organizações as equipes gestoras têm mais de um emprego; em 58%, toda a equipe é voluntária. Esses são alguns dos resultados da pesquisa Periferias e Filantropia: as barreiras de acesso aos recursos no Brasil. Vale destacar que 74,1% dos integrantes dessas organizações são pessoas negras, e 68% são mulheres.
Assim como os dados da PIPA comprovam, também podemos perceber que a filantropia não conseguiria financiar com os recursos necessários as + de 500 mil ONGs ativas e tirar da pobreza os 18 milhões de habitantes que vivem em 13.151 favelas no país. Foi assim que nos aproximamos do empreendedorismo de negócios e buscamos outro aliado: o capital investidor em empreendedores de negócios na favela. Filantropia e Investimento podem e devem ser aliados na transformação de favelas e periferias
Os dois podem serem usados em momentos diferentes, mas andarem juntos. A filantropia pode contribuir, por exemplo, formando empreendedores de negócios que nascem e servem a favela. Com isto melhoraremos o ecossistema de empreendedorismo e investimentos. A filantropia tem aí o papel de pilotar novas metodologias que se adequem ao nosso público nas favelas e nas periferias e com isto reduz o risco dos futuros investidores que querem emprestar ou serem sócios desses empreendimentos.
Sabemos que tanto filantropia como investidores de impacto ainda estão longe de fazer grandes aportes e podem aumentar muito suas doações e investimento para nossos territórios. Precisamos conectá-las(os) às favelas, às periferias e a seus empreendedores sociais que criam ONGs ou empresas. Lembremos também que será importante cada vez mais colocar a lente de raça e gênero.
Existe uma grande oportunidade para estes capitais contribuírem com projetos que nascem, servem e reduzem problemas na favela gerando uma sociedade melhor para todos. Sabemos que nas favelas o empreendedorismo feminino é uma potência e precisamos que mulheres empreendedoras que atendem às suas comunidades reinvistam o que ganham nos filhos ou na própria comunidade.
E é em nome dessa transformação que início 2024 com essa reflexão sobre o que podemos fazer para acelerar o processo de emancipação desse ecossistema que envolve todos esses atores fundamentais para a evolução do Brasil.