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Painel do Mês ESG, no escritório da EXAME (Youtube exame/Reprodução)
Jornalista
Publicado em 6 de junho de 2023 às 19h00.
Última atualização em 6 de junho de 2023 às 19h03.
A trajetória rumo ao topo não é a mesma para todos. Para alguns a linha de largada é mais atrás, outros encontram mais obstáculos e muitos desistem no meio do caminho. No especial Mês do ESG, EXAME reuniu Sergio All, co-fundador da Conta Black, e Talita Lacerda, CEO da Petlove, para contarem as suas histórias, exporem as dificuldades encontradas no caminho rumo à liderança em suas companhias e sugerirem maneiras de tornar essa trajetória menos complicada e mais justa.
Hoje CEO, Lacerda sequer imaginava, quando criança, que poderia chegar tão longe. Ela contou que um dia, passeando com a sua mãe, a quem considera fundamental em sua trajetória, pela Zona Norte de São Paulo, ficou olhando um colégio particular que sonhava conhecer. As duas entraram na escola e, no fim, conseguiram uma bolsa:
“A educação foi importante e transformadora na minha vida. Foi essa bolsa que permitiu que, depois, eu estudasse na FGV, outro sonho da minha mãe, também como bolsista”, disse a CEO da Petlove, emocionada.
All não estudou em escola particular e não fez faculdade: foi autodidata. Mas também credita à mãe o fundamento de sua trajetória: “Ela sempre me ensinou muitas coisas sobre a vida, sobre o racismo. Me dizia para me vestir bem, porque pela nossa cor de pele as coisas seriam mais difíceis”, disse o co-fundador da Conta Black, que começou a trabalhar como office-boy no Mappin e lá conheceu o racismo. “Fui mandado para o depósito, que ficava abaixo da garagem, para ficar junto dos papéis e pastas sujos. Tudo porque um chefe não gostava de mim”.
A aparência também incomodou Talita Lacerda em sua história de estudante: como não tinha dinheiro, usava muitas vezes uniformes velhos. “Sofri muito com o bullying”, relatou. Após entrar na vida profissional a CEO começou a lidar com outras dificuldades: o assédio e a síndrome de impostora. “Passei por uma situação de assédio e aquilo me fez pensar: ‘Quer dizer que só consegui este emprego porque sou bonitinha, não por minha competência?’. Isso me transformou, me fez agir de forma mais parecida com um homem, até na minha vida pessoal”.
Hoje os dois, em suas empresas, procuram ajudar os funcionários a escalar na carreira, contribuindo com cursos e dando insumos para que eles tenham uma boa educação. Da mesma forma buscam construir times mais diversos, incluindo pessoas de minorias, como mulheres, pretos, indígenas, LGBTQIA+, etc, abrindo vagas afirmativas.
As barreiras criadas pelo racismo atravessaram todo o caminho de All, que tem como uma história marcante a negação de crédito por parte de um gerente de banco, mesmo tendo todas as condições e scores e um crédito pré-aprovado: “Eu perguntava a razão da negativa e não conseguia compreender. Até que uma hora bati na mesa e disse que criaria o meu próprio banco. Aqui estou, quinze anos depois, com a Conta Black, que busca incluir os que estão desbancarizados, negros ou não, das classes baixas”, disse.
No caso de Lacerda, como mulher, ela cita a maternidade como ainda um forte componente que atrapalha a carreira. “As empresas ainda não estão prontas para dar às mulheres condições de conciliar a jornada profissional com a de mãe. Tanto fisicamente como na legislação, com os pais não tendo o mesmo prazo de licença quando nasce o filho”.