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O tema central em Baku será o financiamento climático destinado a países em desenvolvimento (TOFIK BABAYEV / AFP/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 10 de novembro de 2024 às 06h00.
Última atualização em 25 de novembro de 2024 às 14h15.
Tensões geopolíticas, guerras e insegurança energética, eleições americanas e um país-sede favorável a indústria de combustíveis fósseis marcam a 29ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP29) deste ano, em Baku, no Azerbaijão. E o cenário controverso desperta um sentimento geral de uma "COP esvaziada" e que talvez não avance com a ambição necessária para o tamanho do desafio da crise climática.
O mesmo tom de "desesperança" aumentou com a vitória de Donald Trump nas vésperas do principal evento de clima do mundo, se somando ao fato do atual presidente Joe Biden ter sinalizado não participar das discussões, e enviando John Podesta para representar a delegação dos EUA — o atual maior emissor de gases de efeito estufa, na frente inclusive da China.
A COP do clima é o espaço para negociações e ações de combate à mudança climática e reúne anualmente desde 1995 os mais de 190 países membros da ONU, trazendo como norte um tema central. Em sua 29º edição, acontece de 11 a 22 de novembro, e está sendo conhecida como "COP do financiamento".
Ricardo Assumpção, sócio líder de sustentabilidade e CSO LATAM da EY, disse em entrevista à EXAME que esta COP tem uma posição delicada, pois faz parte de uma combinação das três COPs e fica entre as duas: Dubai (COP28), Baku e Belém (COP30).
Segundo o especialista, a expectativa é que ela seja 30% menor do que a do ano passado em Dubai. "Há um motivo: é novamente em um país que tem como principal matriz energética o combustível fóssil, ao mesmo tempo em que há um tratamento de transição para fontes limpas com muito foco em financiamento", explicou.
Além disso, ele destaca um "momento bem crítico" nesta que antecede a do Brasil, por ser a primeira a romper o limite de 1,5º do Acordo de Paris e após uma série de recordes nas emissões globais.
Embora o cenário desanime, Natalie Unstell, presidente do Talanoa, destacou à EXAME que é muito importante entender que não existe vácuo na política climática internacional. "Não dá para não acontecer nada e pensar que no ano que vem, tudo se resolve. Se tivermos um mau sinal vindo lá de Baku, pode afetar o regime como um todo e deixar o Brasil, com uma 'batata quente' na mão na COP30 em Belém", disse.
Os beneficiados seriam justamente os atores que menos contribuem com a crise climática, mas os que mais sofrem, os ajudando a investir em soluções de descabonização, energias renováveis e medidas de adaptação para tornar as cidades mais resilientes aos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. E quem pagaria esta conta? Os países desenvolvidos e maiores emissores globais, dentro de uma lógica de (in)justiça climática e "dívida".
Em 2009, durante a COP em Copanhague, na Dinamarca, as nações ricas se comprometeram a financiar US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020. Mas não só este prazo foi perdido por dois anos e batido apenas em 2023, como também é insuficiente para a implementação de ações concretas, reiterou Natalie.
Segundo a especialista, a expectativa é terminar a COP29 com um acordo que fosse realmente um sinal forte e transformador para o financiamento climático, com uma quantia definida na casa dos trilhões de dólares e com metas de qualidade, voltadas também a questão da adaptação.
"O que vai definir o sucesso ou não dessa COP é esta decisão coletiva quantificada global. É a hora dela. E, ao mesmo tempo, existe todo um temor de que não seja possível chegar a um consenso", acrescentou.
Ricardo complementou que espera caminhos mais concretos em relação a metas financeiras e a combinação de recursos publicos e privados para que alcancem em especial o sul global.
"O acordo anterior não aconteceu e precisa ser discutido de forma muito clara. Como vamos chegar onde precisamos e preencher os vazios? É necessário sair da COP29 com determinação, transparência e definição", destacou.
Neste sentido, também há uma expectativa de que seja finalizado o mercado de carbono global, contemplado pelo artigo 6 do Acordo de Paris.Em um planeta cada vez mais quente e mais longe de alcançar a meta de limitar o aquecimento a 1,5ºC de temperatura, também há a enorme necessidade das nações aumentarem a ambição e revisarem suas Metas de Emissões e Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
A mitigação ou redução das emissões, segue sendo peça-chave, e o Brasil está se posicionando como um dos primeiros prováveis a anunciar sua NDC, já em Baku. No geral, estas podem ser definidas até fevereiro de 2025 e estipulam metas até 2035.
Um pouco antes da COP29, a ONU lançou o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024 e alertou que o mundo está a caminho de um aumento de temperatura de 2,6°C a 3,1°C neste século se não houver mobilização drástica e rápida, podendo levar a consequências catastróficas ao planeta. E para cumprir o Acordo de Paris, as nações teriam que reduzir 42% das emissões anuais de gases estufa até 2030.A transição energética e a meta de triplicar as energias renováveis até 2030 é um dos principais caminhos para a descabonização, em contramão ao uso de combustíveis fósseis altamente poluentes.
Para conter os efeitos mais severos do aquecimento global, a adaptação climática também é peça-chave e precisa ser inclusa nas metas financeiras, visando a construção de cidades mais resilientes."Eventos extremos têm nos mostrado que precisamos nos adaptar e tem pego empresas e governos de surpresa, pois o custo é alto. Enchentes, ondas de calor, secas estão acontecendo no mundo inteiro e há muitos impactos, também na produção de alimentos", destacou Ricardo.
Outro ponto de atenção, segundo ele, é a necessidade de que os recursos do fundo de perdas e danos sejam direcionados para ampliarem projetos relacionados ao uso da terra, restauração florestal, sistemas alimentares e agronegócio.
"Há também a intersecção de biodiversidade e mudanças climaticas, o que é um desenho para a COP30 e uma grande oportunidade para o Brasil", frisou.
Alguns chefes de estado e líderes não devem comparecer na COP29 e irão enviar representantes, como é o caso do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o próprio presidente Lula, representado por Geraldo Alckmin e uma comitiva brasileira ainda não definida.
O novo presidente americano Donald Trump não mencionou se irá estar presente e já sinalizou querer a saída dos EUA do Acordo de Paris em seu segundo mandato.
Também estarão ausentes o presidente Xi Jinping, da China, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, a presidente da Comissão Europeia,Ursula von der Leyen e o primeiro-ministro da Alemanha,Olaf Scholz.