Coalizão empresarial discute o papel do setor privado para o fim da violência e do feminicídio
Empresas como Ambev e TIM Brasil participam do grupo voltado para o combate à violência contra as mulheres, com apoio do Pacto Global da ONU no Brasil
Repórter de ESG
Publicado em 28 de março de 2023 às 16h45.
Última atualização em 28 de março de 2023 às 17h02.
Em 2019, o Instituto Avon, a ONU Mulheres e a Fundação Dom Cabral idealizaram um movimento de união das empresas brasileiras para assumir compromissos públicos sobre a violência contra as mulheres. Nesta terça-feira, 28, com a coalizão consolidada, executivos das companhias participantes se reuniram em São Paulo para reafirmar o compromisso do grupo. “Tendo atravessado a pandemia é muito bom estar aqui para trocarmos experiências que viabilizem sonhos, encontros e união nessa batalha. A vida das mulheres e o combate à violência contra as mulheres são pautas prioritárias e, vale lembrar, não é apenas problema das mulheres, mas de todos: empresas, sociedade e a ordem pública”, disse Daniel Silveira, presidente da Avon Brasil durante a abertura do encontro .
De acordo com o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), o Brasil é o quinto país no ranking de feminicídios, perdendo apenas para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Nesta quarta edição do evento, a coalizão aproveitou a oportunidade para relembrar este cenário e fomentar alternativas para que o setor privado tenha um papel de protagonismo nas mudanças e avanços para as mulheres.
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“ As empresas devem ser agentes de promoção de bem-estar social. A sociedade espera mais do que apenas valor econômico da nossa parte, é preciso que as companhias se esforcem para diminuir impactos como esse, para que mulheres no Brasil possam viver livres da violência”, comentou Antônio Batista da Silva Júnior, presidente executivo da escola de negócios Fundação Dom Cabral. Pensando nisso, a Avon realizou uma pesquisa global em oito países com mais de 7 mil mulheres, entre eles o Brasil. “Percebemos um consenso nos fatores que influenciam a equidade de gênero nos mercados de trabalho. Praticamente 90% das entrevistadas acreditam que os estereótipos que geralmente são mais favoráveis aos homens são uma das maiores barreiras a igualdade de oportunidade para as mulheres no ambiente de trabalho”, comentou Silveira.
O evento, que segue as metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, se propôs a ser um local para além de renovação do compromisso público. Um espaço seguro para a troca de angústias e desafios para dar visibilidade ao movimento voluntário e colaborativo. A coalizão já contou com dez sessões da formação da liderança e 14 sessões do plantão de trocas, um espaço voltado para tratar dúvidas, desde 2020. O evento também contou com a presença da ministra das Mulheres, Aparecida Gonçalves para participar da discussão entre os setores público e privado.
“Esse é um diálogo entre o governo e o setor privado e é de extrema importância para a sociedade. Primeiro para termos trocas e possamos melhor implementar as políticas públicas no enfrentamento às desigualdades. Juntos e juntas possamos garantir, em segundo lugar, um ambiente de trabalho seguro para as mulheres. E terceiro, para que os funcionários vítimas de violência obtenham todo o suporte necessário pelo Estado e pelas empresas”, disse a ministra. “Em um país onde uma mulher é morta a cada 6 horas pelo fato de ser mulher, o enfrentamento a todos os tipos de violência contra as mulheres é uma prioridade do Ministério e do governo federal”.
Troca de experiências
Além da participação da ministra, o evento contou com um bate-papo mediado pela professora da Fundação Dom Cabral, Maria Flávia Bastos. Entre os convidados estavam Maria Antonietta Russo, vice-presidente de pessoas, cultura e organização da TIM Brasil; Carla Crippa, vice-presidente de relações corporativas e impacto positivo na Ambev,e Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil.
“Entramos na coalizão em 2021, fazendo parte dessa grande rede. Nós chegamos à conclusão de que o tema do combate à violência contra a mulher tem características físicas e psicológicas, porque quando a mulher vive em um contexto de violência, isso impacta a sua autoestima, fazendo com que essa mulher não tenha outras perspectivas”, disse Maria Antonietta Russo.
A vice-presidente também comentou que a violência não pode ser resolvida sem troca de experiências entre os setores público e privado e seus respectivos gestores. Na TIM Brasil, 50% dos funcionários são mulheres, segundo Russo, este cenário melhorou consideravelmente a partir da conscientização e educação. Pensando nisso, a empresa conta com o programa chamado “Respeito gera Respeito”, que oferece um ambiente de trabalho livre da discriminação, apoio psicológico para vítimas e suporte necessário e para que não sejam silenciadas.
Já a Ambev entrou na iniciativa há três anos, segundo Crippa. A executiva comenta que essa adesão por parte do negócio coincidiu com a transformação do negócio, que era bastante masculinizado. “Nós temos um mote que é ter ‘razões para brindar’ e não temos razões para brindar enquanto mulheres sofrerem violência”, comentou. Crippa também compartilhou que a empresa adotou novos valores para gerar equidade, como políticas internas e um canal de escuta.
“Segundo estudo do Instituto Locomotiva, 95% das mulheres entrevistadas têm medo de sofrer assédio, violência ou estupro, enquanto quase todas as mulheres já sofreram algum tipo de assédio”, disse Crippa. A vice-presidente comentou que como a cultura da cerveja é muito presente nas festas de Carnaval, por exemplo, a empresa se uniu ao Think Olga para oferecer treinamento para ambulantes, vendedores e membros das prefeituras sobre como lidar com casos de assédio. A Ambev ainda ofereceu uma cartilha de prevenção ao assédio em festas de rua e camarotes pelo país.
Durante sua fala, Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil , destacou a importância dos Princípios de Empoderamento Feminino (do inglês, Women’s Empowerment Principles) para empresas signatárias – outro detalhe foi o lançamento da Ambição 2030 com metas para o mercado brasileiro.
“As empresas sempre foram pensadas para resolução de problemas na sociedade, esse é o papel social dos negócios. Por isso, quando perpetuamos algo que não impulsiona mulheres, nós fazemos com que o mercado não atinja o seu potencial”, afirmou Pereira, “A desigualdade de gênero é prejudicial porque gera invisibilidade, silêncio e morte. Fico feliz de ver muitos homens aqui presentes, participando dessa discussão.“O papel do setor privado é fundamental para auxiliar o poder público. O setor privado tem muitos profissionais como os que estão nas fábricas ou lojas. Por esse motivo, têm o poder de se comunicar com o público através de campanhas e debates, podendo realizar investimentos. Portanto, acho que os negócios têm muito a contribuir no acesso à informação pela população e, principalmente, pelas mulheres na questão de trabalhar campanhas de mudança de comportamento na própria sociedade. Porque sozinho o governo não dá conta, nós precisamos do governo, da sociedade civil e das empresas privadas nos ajudando a construir um novo Brasil, de respeito e dignidade onde a paz seja o caminho principal e não ódio”, concluiu a ministra.