(André Klotz/CBA/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 7 de janeiro de 2022 às 06h00.
Última atualização em 7 de janeiro de 2022 às 07h21.
Usar as palavras mineração e sustentabilidade na mesma frase, por muito tempo, foi um sacrilégio, tanto para as mineradoras, quanto para os ambientalistas. Mas, se a fé move montanhas, a necessidade implode dogmas.
Para conter os efeitos das mudanças climáticas, o mundo precisa manter o aumento da temperatura em 1,5 grau Celsius até 2050. Para isso, cada setor da economia terá de fazer sua parte na redução das emissões de carbono, sem cara feia.
Mudanças como essa criam vencedores e perdedores. Na era do baixo carbono, está claro que indústrias e setores de base terão de fazer um esforço maior do que, por exemplo, os setores de saúde e tecnologia.
Mesmo dentro dos “perdedores”, há alguns que se destacam pela baixa aderência a essa nova agenda ambiental. Entre eles, o de mineração, um dos vilões da nova economia ambientalmente correta, que, contraditoriamente, nunca dependeu tanto de minérios.
É nesse contexto de mudanças e dependências que a maior mineradora de bauxita e fabricante de alumínio do Brasil, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), decide dessacralizar o isolamento entre mineradoras e ambientalistas e alastrar, com orgulho, o termo “mineração sustentável”.
O que antes era visto como contraditório, hoje ganha ares de estratégia vencedora diante da demanda por insumos que, se não conseguem ser carbono zero, ao menos emitem menos do que antigamente. “Vamos garantir o suprimento mundial de alumínio de baixo carbono”, garante Ricardo Carvalho, CEO da CBA.
Dificilmente, a CBA conseguirá cair nas graças de ativistas climáticos, ou de investidores mais radicais. Tampouco será capaz de atingir um “nível Natura” de impacto ambiental. O ponto é que ela não precisa ser imaculada para contribuir com os esforços de contenção das mudanças climáticas, nem compete com fabricantes de cosméticos. Para ganhar um diferencial competitivo, seu esforço deve ser maior do que de suas concorrentes diretas. Por sorte, a CBA atua no Brasil.
Segundo Carvalho, não há um contexto melhor para se produzir alumínio, em se tratando de energia, do que o brasileiro. A CBA consegue fabricar um material com até seis vezes menos emissões por atuar em um país com uma matriz energética majoritariamente limpa – o Brasil tira a maior parte de sua energia de fontes renováveis, especialmente a hidrelétrica. “No momento em que o mundo está falando em taxação de carbono, isso é um diferencial importante”, afirma o CEO.
Grandes clientes globais da companhia, como Nespresso, Apple e Land Rover, já exigem dos fornecedores de alumínio uma redução significativa na pegada de carbono do material, da ordem de 20%. Essa demanda irá se intensificar agora que o mercado de carbono global foi regulado, na COP26, a Conferência do Clima da ONU, realizada em novembro passado na cidade de Glasgow, Escócia. “O mercado só não exige mais porque não tem quem forneça”, diz Carvalho.
Plano de 10 pilares e nota do CDP
A mineração sustentável da CBA não se resume a aproveitar a pujança de energia renovável brasileira. O plano para se tornar a mais sustentável entre as mineradoras de bauxita (de onde se extrai o alumínio) foi construído sobre 10 pilares, que se desdobram em 15 programas e 31 metas e objetivos. Até 2030, a CBA espera reduzir suas emissões em 40%.
Para isso, são adotadas três ações principais. A primeira, é usar biomassa para produzir energia. Esse combustível é extraído de rejeitos orgânicos, como sobras de cana-de-açúcar do processo de refino. Uma caldeira alimentada por biomassa emite 43% menos do que uma tradicional, a combustível fóssil. A segunda, é investir 900 milhões de reais para renovar seus fornos, tornando-os mais eficientes. Por último, a CBA quer fomentar a reciclagem.
Nesse ponto, o Brasil oferece outra vantagem competitiva. Quase 90% do alumínio utilizado entra na cadeia de reciclagem por meio das cooperativas de catadores. Segundo Carvalho, 75% do material já produzido no país ainda está em uso. O alumínio reciclado, para ser produzido, utiliza 5% da energia em comparação ao processo “do zero”.
Todo esse esforço, no entanto, será em vão se a CBA não conseguir um ativo intangível, escasso para boa parte do setor de mineração: credibilidade. “Tudo que fazemos é medido externamente”, afirma Carvalho. Em dezembro, a companhia recebeu a nota A-, a terceira mais alta, no programa do Carbon Disclosure Project (CDP), entidade de certificação de programas de redução de emissões mais usada pelo mercado financeiro. As metas de redução da companhia também estão alinhas ao Science Based Targets Initiative (SBTi), o mais recente e exigente padrão de medição de emissões do mercado.
“Somos um negócio e temos de fazer dinheiro”, reforça o CEO da CBA. Na economia de baixo carbono, reduzir emissões é fazer mais dinheiro, não importa se o seu negócio é sexy como de uma healthtech, ou boring como o de uma mineradora. Ganha quem sabe cortar carbono.