(NicoElNino/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2021 às 14h05.
Fábio Cajazeira*
A Cop26, realizada em Glasgow em novembro, se diferenciou das conferências climáticas anteriores pela expressiva representação de lideranças empresariais e por ter colocado a contribuição dos mercados para a redução das emissões globais de gases do efeito estufa no centro do debate.
A transição para uma economia sustentável depende do direcionamento de recursos para financiar empresas e projetos que, de fato, possam contribuir para reduzir os efeitos das mudanças climáticas.
Um dos elementos centrais para viabilizar a obtenção desses recursos é a divulgação, pelas empresas, de informações completas, corretas e confiáveis sobre os impactos, correntes e de longo prazo, das suas operações sobre o meio ambiente e sobre sua atuação para mitigá-los. Para tanto, as organizações realmente dispostas a cumprir o papel que lhes cabe nessa importante missão precisam atender às crescentes e justificadas exigências dos investidores e da sociedade em geral.
Essa agenda ficava antes restrita a um grupo seleto de empresas com forte atuação em temas relacionados ao meio ambiente, e a questões sociais e de governança (ESG) como parte importante da sua própria estratégia. A boa notícia é que, mais recentemente, essas questões passaram a ocupar lugar de destaque entre as prioridades de empresas das mais variadas indústrias, portes e regiões do mundo.
Vemos, por exemplo, que, no Brasil, 69% das empresas que compõem o índice Ibovespa divulgam metas relacionadas a aspectos ESG em seus relatórios não financeiros, conforme revela o estudo “Divulgações de ESG no Ibovespa”, realizado pela PwC . Nota-se, portanto, que 31% das empresas listadas no Ibovespa ainda não divulgam compromissos ESG. Além disso, o estudo da PwC revela, também, que 43% das empresas que divulgam informações ESG não as submetem a nenhum processo de asseguração ou mesmo verificação independente.
Ao lado das empresas, a quem naturalmente cabe protagonismo, e de outros stakeholders relevantes (bancos financiadores, gestores de ativos, reguladores, etc), os auditores independentes têm um papel fundamental nessa jornada de transição para uma economia sustentável ao contribuirem para a transparência, confiabilidade e redução da assimetria das informações divulgadas à sociedade.
É preciso reconhecer que há desafios importantes a serem superados para que as empresas possam oferecer, de maneira consistente e comparável, informações de qualidade, completas e confiáveis.
Um deles é a demanda por padrões globais de informações ESG a serem produzidas e divulgadas pelas empresas. O International Sustainability Standards Board, cuja criação foi anunciada durante a Cop26, tem por objetivo desenvolver esses padrões e representa importante avanço nessa direção.
À medida que os padrões internacionais de divulgação de informações sobre sustentabilidade e as normas de auditoria dessas informações evoluírem, aumentará a capacidade das empresas produzirem informações relevantes sobre como a governança está organizada para tratar dos riscos e oportunidades socioambientais, assim como sobre suas estratégias ambientais, o processo de gestão de riscos e, por fim, os compromissos, metas e métricas socioambientais.
Em paralelo, evoluirá também a capacidade dos auditores independentes de avaliarem os riscos que as mudanças climáticas trazem para os negócios e se as divulgações das informações não financeiras refletem adequadamente as práticas socioambientais adotadas pelas empresas.
Ao longo desse processo, é natural que surjam dúvidas para as empresas, sobre a melhor maneira de mensurar os impactos e de divulgar as informações mais relevantes sobre suas estratégias de mitigação de efeitos.
É igualmente natural que os auditores independentes se questionem sobre o melhor caminho a ser seguido para verificar as informações preparadas pelas empresas. Essas questões precisarão ser resolvidas ao longo do tempo, à medida que todo o processo amadurecer e evoluir.
Embora estejamos diante de uma missão complexa, que envolve vários stakeholders diante de um enorme desafio, de uma coisa não resta a menor dúvida. Empresas e auditores independentes, assim como os demais envolvidos nessa jornada, precisam avançar rapidamente. O ritmo do aquecimento global e o consequente aumento na incidência de eventos climáticos extremos (secas, enchentes, tempestades, derretimento de geleiras), com seus dramáticos efeitos sobre o nosso planeta e sobre as pessoas, sobretudo aquelas mais vulneráveis, têm nos dado claros sinais de que não há tempo a perder.
*Membro do Comitê Executivo e sócio líder de Auditoria da PwC Brasil