‘Estamos numa guerra contra a pobreza, e não contra as pessoas nessa situação’, diz Amanda Oliveira
Fundadora e CEO do Nação Valquírias, que já impactou 365 mil mulheres, ela pretende expandir a atuação do instituto com parcerias com ONGs e empresas em todo o País
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As Valquírias são responsáveis pelo projeto-piloto da favela 3D na comunidade Marte, em São José do Rio Preto (SP), que deve construir 249 casas. (As Valquírias/Divulgação)

Publicado em 31 de julho de 2023 às, 08h00.
Última atualização em 31 de julho de 2023 às, 10h05.
As Valquírias nasceram há 15 anos com um objetivo nobre: empoderar mulheres em situação de vulnerabilidade para que elas tenham autonomia financeira e possibilidade de ascensão social.
A fundadora e CEO do instituto Nação Valquírias, Amanda Oliveira, foi moradora de uma favela, viu sua vida mudar depois de ser atendida por um projeto social e decidiu criar a instituição, que homenageia sua professora de música Valquíria, para impactar o maior número de pessoas possível. Hoje, 365 mil mulheres já foram assistidas ao longo de mais de uma década e meia.
“A gente está numa guerra contra a pobreza, e não contra as pessoas que estão nessa situação. Não é fácil, são muitas camadas e muitas coisas que precisam ser mexidas. Aplicamos nas mulheres um método de cura de traumas sociais, porque a gente acredita que o externo muda à medida que você olha para o interno, ressignifica as suas dores e se reencontra com quem você é, com sua potência e sua história”, contou a empreendedora social à Esfera Brasil.
O projeto passou recentemente por uma reorganização para ampliar a frente de atuação. Mapeou ONGs lideradas por mulheres em todo o País e investiu tempo em capacitação das empreendedoras sociais e, assim, possibilitou um aumento de renda.
Amanda explica a intenção: “Para que ela use a força da organização e deixe de impactar cem para impactar mil. Para que elas consigam ter autonomia financeira e ajudar outras mulheres em situação de pobreza. Nasce aí o Nação Valquírias”.
Parte importante do processo de empoderamento feminino é a educação aliada à cura dos traumas sociais por meio de terapias e auxílio médico. Segundo Amanda, as mulheres que superaram essa etapa tiveram mais êxito na carreira e puderam também transformar a vida dos filhos. Vale destacar que 97,2% das mulheres atendidas são mães solo.
“Ou o pai foi preso, ou abandonou a paternidade, ou foi assassinado por envolvimento no crime. A gente devolve às mulheres tudo aquilo que foi tirado delas e investe naturalmente nos seus filhos. Uma mulher com seus valores fortes, educada e com renda não fica em submissão”, afirmou.
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O projeto tem hoje mais de 300 voluntários que doam tempo e serviços para mulheres em vulnerabilidade social.
Parcerias
O projeto tem investidores, em grande parte empresas preocupadas com a performance em práticas ESG (Ambientais, Sociais e de Governança, na tradução para o português), como Carolina Herrera e Avon. As Valquírias também fazem parte da rede Gerando Falcões e recebem investimentos como organização social. Há ainda as parcerias com os governos municipais e com a sociedade civil – são 312 voluntários que doam tempo e serviços à instituição.
O instituto recebe contribuição financeira de 46 empresas em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, onde fica a sede. Além da banda feminina com quatro musicistas que fazem shows e geram renda, há também um jantar anual para captação de recursos. No ano passado, foram angariados R$ 2 milhões.
A Esfera Brasil é embaixadora das Valquírias. Segundo Amanda Oliveira, a conexão com os valores da organização, que reúne 50 associados de diferentes setores da economia, foi imediata. Outra razão é o fato de o grupo ser liderado pela CEO Camila Funaro Camargo.
“Embaixadoras são mulheres com alta influência, grande responsabilidade social e interesse em nos ajudar a mudar o mundo. A Esfera tem um lugar de autoridade, de impacto social e de liderança feminina. A embaixadora ajuda a abrir portas, apresenta o Nação Valquírias e a nossa metodologia para novos parceiros, defende a causa”, explicou a empreendedora social.
Ao mês, As Valquírias impactam 18 mil mulheres e crianças em diferentes frentes de atuação:
- Valquírias Education - escola de empreendedorismo feminino, com cursos nas áreas digital, de beleza e de gastronomia;
- Departamento de Infância e Juventude - educação dos filhos das mulheres assistidas, socialização e cultura. Aprendem inglês;
- Agrovalquírias - famílias recebem alimentos sem agrotóxicos;
- Departamento de Gestão - auditoria, contabilidade e jurídico com atuação no terceiro setor, de forma transparente;
- Empoderamento Institucional - busca parcerias estratégicas para melhoria dos processos;
- Negócios Sociais - Shopping Valquírias, um espaço para inovação e venda, mas com a identidade da comunidade;
- Programa de Sucessão – aproveita o talento de meninas que passaram pelo projeto e se destacaram para serem multiplicadoras.
As Valquírias têm investido na expansão do projeto, que pretende chegar a todos os estados brasileiros e também ao exterior. A primeira parceria internacional acontece na África.

Programa educacional se estende também aos filhos das mulheres atendidas pelo projeto social.
Geração de empregos e Favela 3D
Uma das preocupações é a empregabilidade. Mais de 90% das mulheres participantes fazem renda por meio do empreendedorismo. Além do programa de sucessão, que hoje tem 16 meninas que foram capacitadas pelo projeto e parte delas está na universidade, a intenção é garantir a autonomia financeira das mulheres. “Empregabilidade é sempre um tema muito presente, porque a gente percebe que é ali que é possível interromper esse ciclo de violência”, ressaltou Amanda.
São 47 empresas parceiras que fazem a capacitação das mulheres com foco no mercado de trabalho e que absorvem parte da mão de obra.
Um dos destaques é que as Valquírias lideram a execução do projeto Favela 3D, em parceria com a Gerando Falcões, na comunidade Marte, em São José do Rio Preto. Cabe a elas não a construção das 249 casas, mas a melhoria nos indicadores sociais para 730 pessoas, em ações como qualificação profissional, empregabilidade, acesso à microcrédito e oportunidades de geração de renda.
Amanda se orgulha ao dizer que o desemprego na comunidade caiu de 60% para 5% e que, hoje, 100% das mulheres da comunidade têm conta bancária, assim como CEP, acesso à energia elétrica e saneamento básico.
“A favela Marte tem uma transformação mais robusta, porque todos os barracos foram abaixo e estão sendo reconstruídos em um novo espaço. As Valquírias entram forte na parte de desenvolvimento social. A entrega das casas vai ser em março do ano que vem. A gente está reconstruindo a estrutura humana que tinha sido devastada pela pobreza”, disse.
Enquanto a melhoria habitacional está em curso, as famílias moram em casas alugadas por R$ 1.100. Além da água e da luz, o valor mensal é pago pela Gerando Falcões.
Amanda começou quatro faculdades, mas, aos 34 anos, não concluiu nenhuma. Ela sabe que o empreendedorismo social é a sua vocação. “A minha maior graduação mesmo foi dentro da favela. A minha experiência é da vivência de todo o processo.”
Créditos

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