Economia

Venezuelanos multiplicam salários com viagens ao exterior

Com a falta de dólares, venezuelanos estão usando o conhecido esquema da "raspadinha", onde compram a moeda no exterior para vender no país

Moeda mais fraca: falta de dólares desvalorizou o bolívar em 70 por cento no mercado informal nos últimos 12 meses para 31,5 por dólar (Meridith Kohut/Bloomberg)

Moeda mais fraca: falta de dólares desvalorizou o bolívar em 70 por cento no mercado informal nos últimos 12 meses para 31,5 por dólar (Meridith Kohut/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 1 de agosto de 2013 às 18h12.

Caracas - Os controles de divisas na Venezuela estão tornando as viagens ao exterior rentáveis.

Uma analista de operações de Caracas afirmou que obteve seis vezes o valor do seu salário mensal viajando a Lima em abril, onde uma loja usou seu cartão de crédito em troca de US$ 1.600 à vista, cobrados na taxa oficial de câmbio de 6,3 bolívares por dólar. Quando ela, que solicitou ficar no anonimato porque o que fez é ilegal, voltou à Venezuela, vendeu os dólares na taxa informal de 29 bolívares por dólar, e ganhou 25.000 bolívares após pagar o cartão e os gastos da viagem.

O esquema, conhecido como “raspao” (“raspadinha”), está no auge na Venezuela após uma década de controles de divisas, que produziram uma escassez de dólares, o que potencializou a maior inflação da região e a falta de produtos básicos como arroz e papel higiênico. Os viajantes para destinos como Miami e Madri usam o esquema para driblar as regras impostas pelo presidente socialista Nicolás Maduro.

A falta de dólares desvalorizou o bolívar em 70 por cento no mercado informal nos últimos 12 meses para 31,5 por dólar, segundo o site El Liberal Venezolano, que segue as operações na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia. Chegou-se assim a uma brecha de mais de 400 por cento entre a taxa de câmbio formal e a informal, a segunda maior do mundo depois da Coreia do Norte, de 6.000 por cento, segundo Steve H. Hanke, professor de economia aplicada na Johns Hopkins University.

Eleito em abril, após a morte do presidente Hugo Chávez, Maduro tentou aliviar a escassez de dólares reativando um sistema de leilões. O Banco Central venezuelano vendeu US$ 215 milhões num deles em 17 de julho, alocando cerca de US$ 31 milhões a 20.850 venezuelanos com intenções de viajar.

Inflação em alta

Maduro está tendo dificuldades para fortalecer o maior exportador de petróleo da América Latina. Por sua vez, a desvalorização do bolívar potencializou a inflação e enfraqueceu o crescimento econômico, pois os importadores não podem pagar os bens. Os preços ao consumidor aumentaram 39,6 em junho em relação ao ano anterior, a maior taxa entre 103 economias seguidas pela Bloomberg.


Segundo o Banco Central, o crescimento econômico venezuelano caiu para 0,7 por cento no primeiro trimestre; no mesmo período do ano passado, tinha atingido 5,9 por cento. A causa é a paralisação da indústria devido à falta de matéria prima importada.

Superfaturamento

Enquanto os venezuelanos lucram com os controles nas viagens, o governo anunciou que procurará evitar a corrupção nas companhias importadoras. Em fevereiro, um mercado de divisas usado pelas companhias foi fechado depois da denúncia de que algumas delas estavam superfaturando para justificar o acesso a mais dólares.

Chávez impôs os primeiros controles de divisas em 2003 para frear a saída de capitais do país porque os venezuelanos procuraram manter suas economias em dólares depois de uma greve nacional do setor do petróleo que causou uma contração de 27 por cento do PIB venezuelano no primeiro trimestre daquele ano.

Em novembro de 2009, para tentar combater o ‘raspao’, o comitê monetário do governo reduziu a provisão de dólares outorgada para viajar a outros países. O limite máximo para a Colômbia foi reduzido de US$ 5.000 a US$ 700, e para o Panamá e ilhas caribenhas como Curaçao foram reduzidos a US$ 1.000.

Mas nem bem o governo impôs as restrições, os venezuelanos encontraram formas de driblá-las. Um técnico de Caracas, que também solicitou o anonimato, afirmou que nos últimos quatro anos ele fez viagens anuais a Cúcuta, na fronteira colombiana com a Venezuela, para utilizar o ‘raspao’.

Mesmo com a proliferação da corrupção, o governo não deu sinal de que esteja planejando eliminar os controles, disse Russell Dallen, operador de bônus da Caracas Capital Markets.

“Quanto maior a distância entre a realidade e a taxa do governo, mais difícil será eliminar os controles e mais lucrativo resultará para quem estiver disposto a fazer a arbitragem cambial”, disse Dallen.

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