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UE não fará nenhum favor ao distrito financeiro de Londres

Os mercados financeiros devem "torcer para que tudo dê certo, mas se preparar para o pior", disse o negociador da União Europeia para o Brexit

Bandeiras do Reino Unido e da União Europeia são vistas em Londres (Peter Nicholls/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 29 de abril de 2018 às 08h00.

Última atualização em 29 de abril de 2018 às 08h00.

O negociador da União Europeia para o Brexit disse que os bancos do Reino Unido enfrentarão restrições semelhantes às impostas a instituições dos EUA após o divórcio e alertou que os mercados devem se preparar para uma separação confusa e sem acordo.

"Por que o sistema de equivalência, que funciona bem para o setor dos EUA, não funcionaria para o distrito financeiro de Londres?", questionou Michel Barnier em um discurso em Sofia, na quinta-feira, de acordo com um texto divulgado por seu gabinete.

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Este é um novo baque para o governo britânico, que está tentando conseguir que seus bancos tenham um acesso muito melhor ao mercado comum da Europa.

Faltam 11 meses para que o Reino Unido saia da UE e o governo está buscando um acordo baseado no "reconhecimento mútuo" dos regulamentos financeiros de ambas as partes. Mas a UE afirma que isso é inaceitável devido à relutância do Reino Unido em aderir às regras do mercado comum.

Em vez disso, com a "equivalência", a UE decidiria de modo unilateral se as leis do Reino Unido são tão rigorosas quanto as suas, mas ela pode ser retirada a curto prazo e o Reino Unido afirma que esta solução é inadequada.

Barnier menosprezou o argumento frequentemente usado pelos lobistas do Reino Unido, de que a UE precisa do distrito financeiro de Londres e sofrerá se ele ficar enfraquecido. "Não é isso o que ouvimos dos participantes do mercado, e não é esta a análise que nós mesmos fizemos", disse ele.

A ausência de um acordo comercial especial com a UE para os serviços financeiros britânicos não prejudicará os bancos dos EUA. Seu domínio sobre o mercado de investment banking foi ressaltado na quinta-feira com o anúncio de que o Deutsche Bank abandonará as ambições de ser uma das principais empresas globais de valores mobiliários.

Em sua maioria, os bancos dos EUA operam na Europa por meio de subsidiárias e filiais. Diante da perda do chamado passaporte do mercado comum através de suas operações no Reino Unido, os grandes bancos dos EUA estão instalando unidades no continente para garantir que poderão continuar atendendo a seus clientes depois do Brexit. A maior vítima será o distrito financeiro de Londres, não instituições individuais.

Preparar-se para o pior

Barnier alertou a plateia, composta por banqueiros e lobistas do setor financeiro, de que a ausência de um acordo de divórcio significa que a transição de 21 meses planejada para o período imediatamente após o Brexit não vai acontecer. Bancos, empresas, reguladores do Reino Unido e o governo britânico pretendiam usar esse tempo para se preparar para o novo regime.

Os mercados financeiros devem "torcer para que tudo dê certo, mas se preparar para o pior", disse Barnier. Eles devem "continuar se preparando para todos os cenários".

"Ninguém deve subestimar o risco de desacordo", disse ele.

A questão da fronteira irlandesa continua sendo um grande obstáculo nas negociações sobre o divórcio, e há poucos sinais de progresso antes do prazo informal de junho. A UE e Dublin insistem que sem um acordo sobre a fronteira não pode haver um acordo geral sobre a saída.

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