UE está pronta para recorrer à OMC contra acordo China-EUA
Europa está preocupada com possível efeitos de acordo sobre empresas europeias
AFP
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 10h41.
São Paulo — A União Europeia (UE) vai recorrer à OMC se o acordo comercial entre a China e os Estados Unidos for contra seus interesses, alertou nesta sexta-feira o bloco, que espera assinar este ano seu próprio acordo com Pequim sobre a proteção de investimentos.
Nos termos da trégua assinada na quarta-feira em Washington, o gigante asiático prometeu aumentar suas importações de produtos americanos em dois anos em 200 bilhões de dólares em comparação a 2017.
Esta disposição preocupa Bruxelas, que teme que as empresas europeias sejam penalizadas no mercado chinês contra seus concorrentes americanos.
"Os objetivos quantitativos (para compras chinesas de mercadorias americanas) não são compatíveis com a OMC se levarem a distorções comerciais", ressaltou o embaixador da UE na China, Nicolas Chapuis.
"Se for esse o caso, iremos à OMC para resolver esse problema", alertou em entrevista coletiva em Pequim.
A atual falta de coesão da Organização Mundial do Comércio poderia, no entanto, reduzir o alcance da ameaça: Washington bloqueia há anos as nomeações de juízes responsáveis por resolver disputas em nome da instituição de Genebra, onde os processos são lentos.
Chapuis disse que foi convidado na quinta-feira ao ministério das Relações Exteriores da China, onde disse que "recebeu garantias formais de que as empresas europeias não seriam afetadas pelo acordo sino-americano de forma alguma".
"Vamos monitorar sua implementação", alertou.
Airbus contra Boeing
O representante de Bruxelas disse ainda que recebeu a garantia de que as promessas feitas por Pequim aos Estados Unidos em termos de respeito à propriedade intelectual ou abertura do setor de serviços financeiros serão estendidas a todos os parceiros da China.
"Estaremos vigilantes (...) para ver se há uma preferência pelos americanos em relação aos europeus", alertou.
Questionado, o ministério das Relações Exteriores da China garantiu que o acordo de Washington estava "em conformidade com as regras e princípios da OMC".
Dos 200 bilhões de dólares em compras chinesas nos Estados Unidos, quase 80 bilhões devem ser destinados à bens manufaturados, em especial da indústria aeroespacial - uma disposição que pode irritar a Airbus frente à sua concorrente americana Boeing.
"Eu não ficaria surpreso ao ver pedidos da Boeing em um futuro próximo", disse Chapuis, observando que a construtora europeia assumiu a liderança sobre a americana no mercado chinês nos últimos anos.
O embaixador enfatizou que, de acordo com o acordo comercial China-EUA, "as decisões de compra chinesas não serão administrativas, mas baseadas no mercado".
Enquanto americanos e chineses assinaram seu acordo preliminar após quase dois anos de guerra comercial, os europeus estão tentando, por sua vez, concluir com Pequim um acordo sobre investimentos, negociado há quase sete anos.
Existem alguns pedidos comuns aos dos Estados Unidos: respeito à propriedade intelectual, fim de transferências de tecnologia impostas a empresas estrangeiras e subsídios a empresas públicas chinesas.
"As discussões entraram em uma fase crucial", disse Nicolas Chapuis, lembrando que Pequim e Bruxelas têm a ambição de ter sucesso antes do final do ano.
O projeto de acordo deverá ter destaque na cúpula China-UE, marcada para Pequim no final de março, com os novos líderes da UE.