A turbulência no mercado financeiro não prejudicará a economia brasileira, afirmou, nesta sexta-feira (23/6) o ministro da Fazenda, Guido Mantega. De passagem por São Paulo, o ministro declarou não acreditar que a volatilidade - que levou o dólar a uma escalada e derrubou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nas últimas semanas - representa ameaça à inflação e, conseqüentemente, à política de redução dos juros básicos promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
De acordo com o ministro, a economia brasileira está blindada contra as oscilações no humor do mercado porque vive "a situação mais confortável dos últimos trinta anos". O medo de que as mudanças no câmbio se reflitam em índices mais altos de inflação, manifestado pelo Copom na ata da última reunião, não tem justificativa, segundo Mantega, e não impedirá um novo corte no próximo encontro do comitê, marcado para 18 e 19 de julho. "Nossos juros nominais são os menores nos últimos dez anos e vão continuar caindo, visto que a inflação está sob controle. A continuidade do crescimento está garantida", diz. Nem mesmo o provável reajuste dos juros americanos, que devem subir este mês de 5% para 5,25% ou 5,5% na previsão de Mantega, deve impedir a flexibilização da política monetária.
Prova desse "escudo" brasileiro são os efeitos que a turbulência, gerada pelo temor de um novo aumento na taxa de juros dos Estados Unidos, causou em diversos países, afirmou Mantega. Dados elaborados pelo Ministério da Fazenda mostram, por exemplo, que a queda de 17,6% no Ibovespa entre 10 de maio e 16 de junho é menor do que a registrada no mesmo período pelas bolsas de Índia, Turquia, Rússia e Colômbia, todas com desvalorizações superiores a 20%. O segredo da maior resistência às flutuações do mercado em relação a esses países, na opinião de Mantega, está na "situação confortável" que o país construiu nos últimos anos. "Se essa situação [turbulência] ocorresse em 1998, teríamos de aumentar os juros e interromper o crescimento econômico", afirma.
Proteção
A diferença entre os indicadores de macroeconômicos do passado e de hoje está nos superávits comercial e corrente e nas reservas de dólares. Nem mesmo a diminuição do saldo positivo da balança brasileira, que tem registrado uma aceleração do ritmo de importações, preocupa o ministro. "Um saldo de 40 bilhões ou de 38 bilhões de dólares já é suficiente para nos manter em um nível de vulnerabilidade satisfatório", diz. Em 2005, a diferença entre as exportações e as importações brasileiras ficou em 44,8 bilhões de dólares.
Nas transações correntes, os 12 bilhões de dólares que compõem o saldo acumulado em doze meses até abril ajudam a fortalecer as reservas brasileiras, assim como o investimento direto estrangeiro, que totaliza 13 bilhões de dólares no mesmo período. "Enquanto estivermos fortalecidos na conta corrente, não seremos reféns da economia internacional", disse o chefe da Fazenda.
Metas
Com o fortalecimento econômico, diz o ministro, o caminho que o país segue é o da redução da dívida pública, que no ano passado ficou em 51,62% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A meta do ministério é derrubar essa proporção a 44,21% até 2009, considerando a manutenção do superávit primário em 4,25% ao ano.
Quanto ao PIB, a expectativa é de um crescimento de 4,5% este ano, 4,75% em 2007, 5% em 2008 e 5,25% em 2009. Em 2006, a economia deve ser fortalecida pelo avanço na produção industrial, pela expansão do crédito e também pelo maior investimento do setor público. "O governo federal está investindo o dobro em 2006 em relação ao mesmo período de 2005."