Economia

Tombini está sozinho na batalha dos preços e crise pega Levy

A recessão e a crise política estão frustrando os esforços do governo para reduzir gastos e a inflação não dá sinais de que recuará para a meta


	Sede do Banco Central em Brasília
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Sede do Banco Central em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2015 às 21h18.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil sinalizou repetidas vezes que já fez sua parte para desacelerar a inflação após elevar as taxas de juros, em julho, ao nível mais alto dos últimos oito anos.

Os traders estão apostando que o BC está errado.

A maior parte dos traders do mercado de DIs estima que o BC elevará o juro básico da economia mais duas vezes neste ano.

A recessão e a crise política estão frustrando os esforços do governo para reduzir gastos e a inflação não dá sinais de que recuará para a meta. Ainda na semana passada, os traders estimavam que a taxa básica permaneceria inalterada no restante de 2015.

As projeções estão mudando em um momento de piora na capacidade do governo brasileiro para conseguir aprovação para cortes de gastos no Congresso em meio a uma divisão na base aliada e a novas ameaças de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Isso deixa o BC sozinho com o encargo de desacelerar a inflação, que está abatendo os índices de confiança do consumidor e dos empresários e intensificando a pior crise econômica em 25 anos.

“Os problemas fiscais do Brasil criam muitas dúvidas e tornam mais difícil a convergência da inflação para a meta”, disse Thais Zara, economista-chefe da firma brasileira de consultoria Rosenberg Consultores Associados. “Eles também dificultam o trabalho do BC”.

Após elevar a taxa básica em sete reuniões seguidas, levando-a para 14,25 por cento, o Copom disse no comunicado da reunião do dia 29 de julho que precisa manter os juros no patamar atual por um período prolongado para que a inflação possa diminuir até atingir a meta de 4,5 por cento.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, e os diretores Luiz Awazu Pereira e Tony Volpon reforçaram essa mensagem desde então em suas declarações, acrescentando que a política monetária tem adotado a estratégia certa para atingir seus objetivos.

Como resultado, os traders e a maioria dos analistas consultados pela Bloomberg projetaram que o BC manterá a taxa inalterada na reunião desta quarta-feira, que termina depois das 18 horas, horário de Brasília. Mas talvez o BC não possa se dar ao luxo de sustentar essa estratégia ao longo do ano, segundo John Welch, estrategista macro do Canadian Imperial Bank of Commerce em Toronto.

“Segurar as taxas por um período prolongado de tempo seria um equívoco”, disse ele, por telefone. “Eles deveriam subi-la um pouco para influenciar as expectativas de inflação”.

Mudança na perspectiva

Os DIs brasileiros, que sobem com as apostas por um aumento na taxa de juros, estão precificando um aumento de 0,25 por cento nas reuniões de outubro e de novembro. Isso colocaria os custos dos empréstimos em 14,75 por cento, nível mais alto desde agosto de 2006.

A mudança na perspectiva surgiu depois que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apresentou sua proposta para o orçamento de 2016 ao Congresso; o plano projeta um aumento no gasto do governo e um déficit antes de pagamentos de juros.

As taxas de equilíbrio de dois anos, baseadas na diferença entre os bonds nominais e os ligados à inflação, aumentaram 35 pontos-base, para 7,38 por cento, desde o anúncio de Levy, na segunda-feira, porque os investidores estão expressando uma preocupação de que o gasto federal impulsionará a inflação.

A assessoria de imprensa do BC preferiu não comentar quando consultada a respeito do impacto da política fiscal sobre suas decisões para a taxa de juros.

Congresso inconsciente

Enquanto Levy tenta passar projetos de lei que reduziriam os gastos e eventualmente conteriam os preços ao consumidor, os parlamentares, encorajados pela mínima recorde no índice de aprovação do governo, constantemente frustram seus planos.

Nos últimos meses, eles aprovaram aumentos salariais para funcionários públicos, assim como leis que reajustam as aposentadorias.

“É impossível conscientizar esse Congresso dos riscos à frente”, disse André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Cctvm, com sede em São Paulo, por telefone.

Uma complicação é a perspectiva de taxas mais elevadas do Federal Reserve (Fed) dos EUA, que mantém sua taxa de referência próxima de zero desde dezembro de 2008. Um aumento na taxa de fundos do Fed poderia fazer as moedas dos mercados emergentes despencarem e os preços das importações subirem em países como o Brasil.

O real já sofreu uma desvalorização de 28 por cento em relação ao dólar neste ano, pior desempenho entre as 16 principais moedas monitoradas pela Bloomberg.

“A decisão do Fed estará no radar do BC”, disse Zara, da Rosenberg. “Em maior medida, eles têm que pesar os riscos fiscais para a inflação”.

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