Economia

Tesouro terá de recuperar liquidez perdida até o fim do ano, diz Mansueto

Segundo o secretário do Tesouro, é preciso reforçar colchão de reserva, pois há vencimentos volumosos no início de 2021 de títulos lançados na crise de 2015

Mansueto: tradicionalmente, o Tesouro mantém um colchão para honrar os pagamentos da dívida pelos próximos seis meses. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Mansueto: tradicionalmente, o Tesouro mantém um colchão para honrar os pagamentos da dívida pelos próximos seis meses. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 3 de junho de 2020 às 18h03.

Última atualização em 3 de junho de 2020 às 18h31.

O Tesouro Nacional terá como desafio no segundo semestre recompor o colchão de liquidez da dívida pública, que foi reduzido com os gastos para mitigar os impactos econômicos da pandemia do coronavírus. O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, diz que precisa terminar o ano com essa reserva técnica reforçada porque há vencimentos volumosos, logo no início de 2021, de títulos lançados na crise de 2015.

Tradicionalmente, o Tesouro mantém um colchão para honrar os pagamentos da dívida pelos próximos seis meses. Segundo o secretário, atualmente a reserva está menor, o que não preocupa porque o volume de vencimentos dos próximos meses é baixo. “Agora estamos numa situação confortável para administrar leilões”, afirma em entrevista.

Já no início do próximo ano, há R$ 116 bilhões vencendo em janeiro e mais R$ 182 bilhões em março, conforme os cálculos do Tesouro.

Uma das fontes a ser usada pelo Tesouro é o lucro do Banco Central com as reservas internacionais, em razão da alta do dólar. O montante do lucro do BC a ser utilizado ainda não está definido, mas não será total e precisará passar pelo crivo do Conselho Monetário Nacional (CMN), o que deve ocorrer em agosto ou setembro, diz o secretário.

O Tesouro também fará empréstimos em dólar e euro junto a organismos multilaterais para custeio de ações contra a crise. Segundo Mansueto, trata-se de uma oportunidade de tomar recursos de longo prazo, e não de uma necessidade. O Tesouro também continua olhando o mercado internacional para emissões externas tanto para euro, quanto para dólar.

Estrangeiros

As turbulências políticas afetam o humor dos investidores em relação ao Brasil, uma vez que podem comprometer a agenda de reformas, de acordo com o secretário do Tesouro.

Entretanto, ele diz que a redução da participação dos estrangeiros na dívida pública acontece em razão da queda da Selic. A fatia caiu de 18,8% em 2015 para 9,4% em abril deste ano, segundo o Tesouro. Para o secretário, a volta dos estrangeiros virá com investimento direto em infraestrutura.

Atuação do BC

Mansueto diz que não vê disposição do Banco Central de comprar títulos longos do Tesouro no mercado secundário. Para ele, é pouco provável que o BC use a nova ferramenta autorizada pela PEC do Orçamento de Guerra, já que o mercado está funcionando e a curva de juros mudou.

“Quando o mercado está funcionando e a curva mudou de patamar, não tem muita coisa que você possa fazer não. Você não pode obrigar o investidor a ser otimista com o país.”

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, diz que a regulamentação para a compra de títulos públicos e privados deve sair nos próximos dias, por meio do CMN.

Mansueto prevê que a dívida bruta deve encerrar o ano em 94% do PIB num cenário mais pessimista, que considera déficit fiscal de R$ 700 bilhões e queda de 5% do PIB. “Para chegar a 100% teria que ter muita piora do lado do déficit primário e a frustração teria que ser muito maior. No nosso cenário ninguém chega a isso não.”

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