Exame Logo

Tensões comerciais entre EUA e China vão gerar instabilidade, diz Ilan

Presidente do Banco Central afirmou que é provável que situação acabe levando a novas negociações e acordos, com o crescimento global não sendo afetado

Ilan Goldfajn: ""Isso é mais um risco que o sistema está enfrentando, de ter mais atritos comerciais que geram, digamos, um risco um pouco maior ao crescimento no futuro" (Andre Coelho/Bloomberg)
R

Reuters

Publicado em 3 de abril de 2018 às 20h34.

Brasília - As tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China vão gerar instabilidade, mas é provável que isso acabe levando a novas negociações e acordos, com o crescimento global não sendo afetado, afirmou o presidente do Banco Central , Ilan Goldfajn , nesta terça-feira.

"Isso é mais um risco que o sistema está enfrentando, de ter mais atritos comerciais que geram, digamos, um risco um pouco maior ao crescimento no futuro. O mercado reage a isso", disse ele em entrevista à Reuters. "Eu continuo achando mais provável que a gente acabe levando a novas negociações, chegar a acordos, mas no processo vai gerar um pouco de incerteza, de instabilidade", acrescentou.

Veja também

Neste cenário de acordos sendo costurados, o crescimento global acaba não sendo afetado, completou Ilan. "Mas é claro que, se tiver uma disputa maior, afeta", ponderou.

A China elevou tarifas em até 25 por cento sobre 128 produtos dos Estados Unidos, de carne suína congelada e vinho a certas frutas e nozes, ampliando a disputa entre as duas maiores economias do mundo em resposta à tarifas norte-americanas sobre as importações de aço e alumínio.

Questionado sobre o uso de blockchain pelos bancos para aperfeiçoamento do sistema de pagamentos, tendo como eventual consequência a possibilidade dos usuários fazerem operações interbancárias a qualquer momento, Ilan afirmou que essas são inovações que vêm para o bem, acrescentando que o BC não vê necessidade de regulá-las.

"Se ao longo do tempo se fizer necessário, nós vamos regular, mas a gente não quer entrar com mão pesada nas inovações, a gente quer que elas floresçam, que deem fruto", disse.

Bancos estão discutindo a implementação gradual do blockchain para transações bancárias, como transferências de valores, e que podem melhorar a eficiência do Sistema Brasileiro de Pagamentos, segundo fontes do setor.

O blockchain é uma tecnologia que usa bases de registros compartilhados de uma rede para validar a comunicação direta entre duas partes, sem necessidade de intermediação de terceiros, permitindo intensa troca de informações, com simplificação de processos para verificação, validação e liquidação.

É a tecnologia de blockchain, por exemplo, que garante a segurança das operações feitas com moedas digitais, como as bitcoins.

Após o BC ter anunciado que a Febraban, federação dos bancos, iria anunciar em abril mudanças para diminuir o custo do cheque especial, Ilan afirmou que parar no começo "a bola de neve" dos juros é importante, mas que é a entidade quem anunciará as alterações que serão implementadas.

Indo nessa mesma linha, o BC limitou no ano passado o uso do rotativo do cartão de crédito a um prazo máximo de 30 dias, estabelecendo que os bancos deveriam obrigatoriamente enquadrar suas políticas.

No âmbito das ações para barateamento do crédito, o BC também quer ver o próprio mercado apresentar soluções para financiamentos mais barato com o cartão de crédito.

No passado, a autoridade monetária chegou a estudar a redução do prazo de repasse de recursos aos lojistas como uma maneira de endereçar a questão. Contudo, voltou atrás após avaliar que todo o sistema brasileiro se assentava sobre esse modelo, no qual o comércio recebe o pagamento em 30 dias.

Na entrevista, Ilan voltou a dizer que não existe parcelamento sem juros no cartão de crédito, pois a modalidade tem custos embutidos, mas apontou que o BC não irá atuar diretamente numa proibição.

O BC gostaria que o próprio mercado já começasse a trabalhar ainda neste ano na oferta de um produto "que possa com mais transparência mostrar o que é, onde é que se cobram os juros", com consequência de pagar ao lojista em menos tempo, disse Ilan.

"É um cartão que de um lado você não teria parcelado sem juros muito longo, portanto cobra juros, mas em compensação consegue pagar para o lojista em poucos dias", acrescentou.

"Então a ideia aqui não é obrigar, nem proibir, nada disso, mas que o mercado consiga oferecer o que existe já hoje, mas que ofereça uma novidade com menos distorções."

Política monetária

À Reuters, Ilan destacou que após comunicar suas decisões no Comitê de Política Monetária, o BC apenas destrincha os debates que foram travados na ata do Copom. A ata, portanto, "não ajusta nada, ela descreve o que aconteceu naquela dia (de reunião do Copom)".

Ilan disse ainda que o BC irá estender o período de silêncio do Copom à publicação do relatório trimestral de inflação.

Reforçando a comunicação que vem sendo adotada desde que o BC cortou a Selic em 0,25 ponto percentual no mês passado, ao patamar histórico de 6,5 por cento ao ano, Ilan indicou que o BC deve pausar o ciclo de afrouxamento monetário após a próxima reunião do Copom, em maio, para a qual o BC ainda vê espaço para mais um corte nos juros.

Perguntado se essa pausa embutia a possibilidade de o BC voltar a reduzir a Selic após a interrupção, ele respondeu que o BC não definiu nada disso.

"O que a gente comunicou é que a gente vai olhar. Olha, se você pensar, eu estou falando que existem dois riscos. A gente vai avaliar esses dois riscos para o cenário base", disse ele, em referência ao risco de propagação do nível baixo de inflação e, de outro lado, da eventual pressão inflacionária por frustração da continuidade das reformas e ajustes na economia brasileira e reversão do cenário externo favorável.

Ilan também indicou que vê seu trabalho à frente do BC concluído ao fim deste ano, mesmo após o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ter dito que o convidará para permanecer no posto caso vença as eleições presidenciais.

"Meu plano é ficar aqui em 2018, esse é meu plano", disse.

(Colaboraram Patrícia Duarte e Brad Haynes, em Brasília, e Aluísio Alves, em São Paulo.)

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralChinaEstados Unidos (EUA)Ilan GoldfajnTarifas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame