"Temos mais risco de surpresas negativas", diz economista-chefe do Itaú
Segundo o economista, mais choques no câmbio e na Bolsa podem ter impacto direto no avanço da economia brasileira
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de julho de 2018 às 15h27.
Última atualização em 30 de julho de 2018 às 18h52.
São Paulo - Economista-chefe do Itaú Unibanco , Mário Mesquita prevê um cenário de mais volatilidade até a eleição. Embora a instituição já tenha revisado, neste mês, sua previsão para o PIB para 1,3%, Mesquita diz que novas surpresas negativas não podem ser descartadas até o fim do ano.
Segundo ele, mais choques no câmbio e na Bolsa podem ter impacto direto no avanço da economia brasileira. A seguir, os principais trechos da entrevista.
As perspectivas econômicas se deterioraram desde o início do ano. A eleição pode agravar o quadro?
A eleição é parte de um contexto de incerteza mais intensa, que passa pela agenda de reformas, pela economia mundial e pela ameaça de guerra comercial. Nos EUA, por exemplo, os riscos tanto de superaquecimento quanto de recessão parecem ter aumentado. Essa incerteza ocasionou um aperto das condições financeiras - ou seja, a queda da Bolsa, alta do dólar e das taxas de juros de mercado. E esse aperto atua para frear a recuperação da economia.
O Itaú já revisou as estimativas para o ano?
Acabamos de rever a previsão de crescimento para 1,3%. Em parte, essa revisão foi ocasionada pelo aperto das condições financeiras. Caso isso se deteriore ainda mais, a gente pode ter de rever para baixo (novamente). Houve certa melhora em apenas um aspecto, que é a relativa estabilização do câmbio desde o fim de junho, sem intervenção adicional do Banco Central. Isso está relacionado sobretudo ao fato de que o BC americano tem indicado que a chance de aceleração das altas de juros nos EUA diminui.
Ou seja: não há calmaria no horizonte.
Se você me perguntar se, dentro desse cenário de crescimento de 1,3%, tem mais risco de termos surpresas positivas ou negativas, por ora, é ainda mais negativo do que positivo.
No fim do ano passado, as previsões para a economia chegavam a 3%. O Itaú trabalhava com que número?
Era na faixa de 3%. E aí a gente teve uma decepção com a atividade já na virada do ano. O consumo começou a mostrar certo enfraquecimento, e o investimento não ocupou o espaço.
O cenário político atual é muito turvo. Dependendo da definição que ocorra, a situação pode piorar?
Em termos de comportamento do mercado, em geral, a volatilidade historicamente tem sido maior até o primeiro turno. Depois, ela diminui. Normalmente, após o candidato ganhar a eleição, muda a retórica. De competitiva passa a priorizar a governabilidade até a posse. Em geral, o mercado se acalma depois do frisson eleitoral.
Mas, dependendo do candidato, a retórica da solução econômica não muda muito?
O problema econômico é o mesmo. É preciso consolidar a recuperação da economia, o que passa por restaurar a confiança e pelo problema fiscal seriíssimo. A maioria dos candidatos tem registrado corretamente a importância do problema fiscal. É claro que isso não quer dizer que a eleição é irrelevante, pois precisamos entender como o novo presidente vai resolver o problema, especialmente o da Previdência, e como vai angariar capacidade de articulação no Congresso.
O ano de 2019 é chave para o País?
A agenda legislativa de 2019 é a mais importante dos próximos quatro anos. Capital político é igual carro novo saindo da revenda: a partir do primeiro dia, o valor dele começa a cair. O futuro governante terá de ser muito ágil e priorizar bem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.