Economia

TCU dá amparo para governo não ampliar BPC em 2020, diz Mansueto

Senadores derrubaram nesta quarta (11) o veto presidencial ao projeto que amplia o acesso ao benefício; governo estima prejuízo de R$ 20 bilhões por ano

Mansueto: secretário acredita que crise causada pelo coronavírus deve durar entre três e quatro meses (Amanda Perobelli/Reuters)

Mansueto: secretário acredita que crise causada pelo coronavírus deve durar entre três e quatro meses (Amanda Perobelli/Reuters)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 12 de março de 2020 às 17h22.

Última atualização em 12 de março de 2020 às 17h53.

O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, garantiu nesta quinta-feira, 12, que não faltarão recursos do governo para o combate à pandemia de coronavírus. Segundo ele, a crise decorrente da doença deve durar entre três e quatro meses. "Existe espaço fiscal, porque o que está em discussão é uma realocação do orçamento. Mas o coronavírus também permite que seja usado crédito extraordinário, por ser algo que era imprevisível. Mas talvez nem isso seja necessário", afirmou, após reunião com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Mansueto voltou a atacar a derrubada de veto presidencial pelo Congresso Nacional, com o aumento das concessões do Benefício de Prestação Continuada (BPC), com impacto de aproximadamente 20 bilhões de reais por ano no orçamento. Segundo ele, o governo planeja usar um acórdão antigo do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre renegociação de dívidas agrícolas para não arcar com essa despesa em 2020.

"Próprios acórdãos do TCU do passado talvez já sejam suficientes pra nos dar a garantia que a gente não vai ter de executar uma despesa sem ter a fonte de recurso", afirmou Mansueto.

"Isso é uma regra básica de Orçamento: não se pode executar qualquer que seja a despesa, por mais meritória que ela seja, se não existir fonte de recurso."

O Congresso derrubou na véspera veto presidencial a projeto que elevou o limite de renda familiar per capita para fins de concessão do BPC de um quarto de salário mínimo para meio salário mínimo, sem apontar uma fonte de recursos para tal. Nas contas da equipe econômica, isso aumentaria as despesas obrigatórias da União em 20 bilhões de reais em um ano.

Em declarações a jornalistas após reunião no Banco Central com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, o secretário indicou que, nesse sentido, não haveria necessidade de o governo também entrar com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a ampliação do BPC.

"Para o próximo ano a gente vai ver ainda o que fazer, se de fato consegue alguma alternativa com o Congresso, ou então na elaboração do Orçamento (de 2021) teria que cortar despesa", disse Mansueto.

"Porque uma coisa que é essencial, que a gente vai fazer e que é importantíssimo é cumprir o teto dos gastos", acrescentou.

Questionado se a decisão dos parlamentares não prenunciava dificuldades para as reformas econômicas, Mansueto avaliou que o episódio reforça que o governo tem de conversar mais com o Congresso, explicando a importância de manter a consolidação fiscal.

Mansueto também afirmou que, no curto prazo, o time econômico vai estudar o que pode ser feito para atravessar o "cenário inesperado e duro do coronavírus."

Ele reconheceu que o caminho será difícil, mas frisou que, pelo que está ocorrendo com outros países, deve ocorrer um impacto em formato "V" na economia, com rápida recuperação em seguida. De acordo com Mansueto, o efeito do surto no país deverá perdurar por três ou quatro meses.

Intervenções no mercado de títulos

Sobre a forte volatilidade que embalou os mercados nesta quinta-feira, Mansueto disse que o mercado amanheceu "disfuncional" e que a instabilidade justificou o cancelamento do leilão de LFTs anunciado mais cedo.

"É dia que o mercado está muito instável e está em busca de preço, a gente tinha de ajudar um pouco o mercado a encontrar esse preço", afirmou ele, pontuando que, se os agentes estavam buscando justamente vender títulos, não fazia sentido o Tesouro colocar mais papéis em circulação.

O Tesouro também começou a fazer recompras no mercado mirando NTN-Bs mais cedo e NTN-Fs à tarde. Mansueto disse que os movimentos são raramente adotados, mas frisou que isso já ocorreu em 2017 e em 2018.

"O que a gente teve hoje foi muito mais um movimento de fundos. O mercado estava sem balizar preço e a gente entrou comprando", disse.

Mansueto disse ainda que a recente subida dos juros longos preocupa se for permanente, o que é difícil de mensurar nesse momento, já que o impacto do coronavírus vai depender fundamentalmente de como ele afetar o setor de serviços no país.

Por outro lado, ele frisou que, mesmo com a alta, os juros longos estão em patamar "muito menor" do que há dois, três anos, ficando em torno do observado no primeiro trimestre de 2019.

Após o Tesouro ter anunciado pela manhã que, em atuação conjunta com o BC, realizará leilões de compra e venda de títulos públicos de hoje até a próxima quarta-feira buscando fornecer suporte ao mercado, Mansueto afirmou que esta foi uma medida de precaução.

"Não significa que necessariamente vão ocorrer", destacou.

"O Tesouro tem conversado muito com o Banco Central, a gente vai continuar conversando todos os dias e estamos atuando conjuntamente, cada um no seu respectivo mercado, a gente em títulos, ele no mercado cambial."

Acompanhe tudo sobre:CongressoOrçamento federal

Mais de Economia

Pacheco afirma que corte de gastos será discutido logo após Reforma Tributária

Haddad: reação do governo aos comentários do CEO global do Carrefour é “justificada”

Contas externas têm saldo negativo de US$ 5,88 bilhões em outubro

Mais energia nuclear para garantir a transição energética