Taxas sobre aço têm relação com acordo Mercosul-UE, diz AEB
Segundo o presidente da Associação de Exportadores Brasileiros, a medida de Trump sobre o Brasil ocorre por uma inquietação de agricultores norte-americanos
Reuters
Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 15h06.
Rio de Janeiro — O interesse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , em anunciar que vai retomar tarifas de importação contra embarques de aço e alumínio do Brasil e Argentina tem relação com inquietação de agricultores norte-americanos sobre o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia , avaliou o presidente da associação de exportadores brasileiros (AEB), José Augusto de Castro.
O acordo anunciado em meados deste ano "deve alavancar as vendas de produtos agrícolas brasileiros e argentinos para o mercado europeu e, consequentemente, tirar espaço do agronegócio americano", disse Castro à Reuters.
Segundo ele, a retomada da taxação sobre os metais brasileiros e argentinos não se justifica uma vez que as vendas externas do Brasil destes produtos para os norte-americanos são pequenas em relação ao volume importado pelos EUA.
Castro também citou que boa parte da volatilidade cambial no Brasil se deve pelas próprias posições instáveis de Trump, que promove uma guerra comercial contra a China que tem causado impactos sobre perspectivas de crescimento global. "O Trump aprontou mais uma peça" contra o comércio global, disse Castro. "O causador dessa desvalorização (do câmbio) é ele mesmo, que fala um coisa hojee depois diz outra."
Dados da AEB apontam que a exportação de aço semi acabado do Brasil para os EUA caiu 16,3% entre janeiro e outubro deste ano frente a igual período de 2018. Neste ano, as exportações somam cerca 2,3 bilhões de dólares ante 2,7 bilhões no ano passado, segundo a AEB.
No caso do alumínio, de acordo com a entidade, as vendas externas para os Estados Unidos aumentaram neste ano, mas o patamar continua muito baixo.
Segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr), os EUA são o maior destino das exportações brasileiras de produtos siderúrgicos. Em 2018, o Brasil vendeu ao exterior 16 milhões de toneladas, das quais 6,6 milhões para os EUA. Em dólares, o total exportado correspondeu a 9,65 bilhões, dos quais 3,85 bilhões de dólares foram para os EUA.
Já a Abal, que representa os produtores de alumínio do país, citou que o Brasil exportou de janeiro a outubro deste ano 119,5 mil toneladas de produtos de alumínio, das quais 52 mil para os EUA. Desse volume, 47 mil toneladas pagaram a sobretaxa de 10%. Segundo a AEB, em dólares as exportações de alumínio do Brasil para 144 milhões de dólares de janeiro ao fim de outubro ante 127 milhões no mesmo período de 2018.
"Com essa decisão, ele vai elevar o custo da matéria-prima para laminar o produto lá. Essa decisão é um tiro no próprio pé. Ele está encarecendo um produto que interessa o próprio produtor e consumidor norte-americano", disse o presidente da AEB. "Claramente, é uma decisão com interesse político. Ele quer prestigiar o agricultor americano que está sendo afetado pelo acordo Mercosul-UE", acrescentou.
Mais cedo, em entrevista à Rádio Itatiaia, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não vê como retaliação a decisão de Trump e reiterou que, se for necessário, vai ligar para o presidente norte-americano. "Vou conversar com o (ministro da Economia) Paulo Guedes hoje ainda. Se for o caso, vou ligar para o presidente Donald Trump", afirmou Bolsonaro.