Economia

Só Previdência não trará altas taxas de crescimento, diz secretário

Para Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica, não há mais tempo para aplicar as medidas necessárias para estimular o PIB ainda este ano

Congresso: reforma da Previdência precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado (Ueslei Marcelino/Reuters)

Congresso: reforma da Previdência precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de junho de 2019 às 14h41.

Brasília - Secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida alerta que a reforma da Previdência é essencial para resolver o problema fiscal do País, mas não será suficiente para garantir a retomada de altas taxas de crescimento. "Honestamente, estamos numa situação tão ruim que só isso não basta mais. O PIB vai sair de 0,8% e vamos para 1,6%? Continua sendo baixo", disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. "Hoje esse 1,6% está quase um sonho muito distante. Temos de agir para a coisa não ficar pior ainda".

Segundo ele, há pouco tempo para colocar na rua medidas de estímulo que possam mudar a trajetória do Produto Interno Bruto (PIB) ainda neste ano: "Se essas medidas saírem em um ou dois meses, ainda tem efeito. Mas, se formos começar em setembro, por exemplo, muito difícil". "Tem de ficar muito claro para todos: a economia brasileira não está indo bem." Ele não quis fazer previsões de quando o País voltará a ter superávit fiscal.

O economista, que apoiou Jair Bolsonaro desde muito cedo e ajudou o ministro Paulo Guedes a montar o programa de governo, diz que a equipe econômica trabalha hoje com o diagnóstico de que o País não enfrenta um problema de expectativa, mas de má alocação de recursos. Ele afirma que o time de Guedes trabalha numa série de medidas, que vão desde mudanças no FI-FGTS e no PIS/PASEP até a liberação de recursos do FGTS.

O governo já decidiu quando irá liberar os saques do FGTS?

A economia está passando por um momento difícil. O problema fiscal é muito grande. Outro problema é o de má alocação. Tecnicamente, é quando você, por meio de política pública, direciona recursos para setores que não são os mais eficientes. Exemplo: você direcionou R$ 2 bilhões para construir um estádio de futebol em Brasília. Para que serve? Para nada. Só que tem outro problema: todo ano tenho de colocar R$ 40 milhões para mantê-lo. Não é apenas o erro no passado. É o que ele continua custando à economia todo ano.

Por isso, economistas já falam que a reforma da Previdência não resolverá o problema?

Ela resolverá a primeira parte do problema. Vai resolver boa parte do problema fiscal e gerar onda de expectativa positiva, que vai se reverter em investimento. Mas isso, por si só, não vai nos recolocar no caminho de taxas altas de crescimento. Temos de corrigir a má alocação. Temos de rever vários dos fundos que direcionaram recursos para lugares que não dão retorno. Por exemplo, o FI-FGTS, o PIS/PASEP.

São medidas que podem trazer impacto no PIB deste ano?

Se essas medidas saírem em um ou dois meses, ainda tem efeito. Mas, se formos começar com essas medidas em setembro, por exemplo, muito difícil (dar resultado no PIB de 2019).

Dá tempo de anunciá-las?

Sim, porque boa parte dessas pautas é positiva. Mas entendo quem está tomando a decisão também. Estamos a dois meses de aprovar uma das reformas mais importantes já feitas na economia nos últimos dez anos. As pessoas não querem arriscar e por três, quatro votos a perder uma reforma dessa.

Liberar o FGTS entraria aí?

Entraria no bojo de corrigir a má alocação. É economia do lado da oferta. É uma agenda muito mais ampla. No governo passado, havia insistência do lado da demanda. A economia está indo mal, então o governo gasta e estimula. Essa agenda está fora e não será repetida. Não tem aumento de gasto público. Ah, mas a demanda está fraca. Para corrigir um problema de má alocação de recursos você tira de um setor e coloca em outro (lugar). É corrigir a curva de oferta, melhorar a produção da economia.

Foi feito o discurso para a população de que a reforma tiraria o País do buraco. Não é complicado dizer agora que não bastará?

Verdade. Mas, infelizmente, você só vai se dando conta do tamanho do problema quando entende a complexidade dele. Quando corrigir o problema fiscal, principalmente da Previdência, vai entrar muito dinheiro. O que acontece é que hoje o PIB brasileiro está estimado em 1% (para 2019). Está muito baixo. Aprovar a Previdência vai, sim, nos trazer investimento e ajudar muito. Agora, honestamente, estamos numa situação tão ruim que só isso não basta mais. Vai sair de 0,8% e vamos para 1,6%?

Continua sendo um "pibinho".

Continua sendo baixo. Se você falasse no início do ano que o PIB seria de 1,6%, era difícil (acreditar). Hoje, 1,6% está quase um sonho muito distante. Já está em 1% e temos de agir para a coisa não ficar pior ainda.

Há risco de recessão?

Estatisticamente, é pouco provável porque, no segundo trimestre do ano passado, houve greve dos caminhoneiros. (Não haverá recessão agora) muito mais por erros do passado do que por méritos nossos. Tem de ficar muito claro para todos: a economia brasileira não está indo bem.

Quais setores deveriam receber recursos?

Não sei e não é a minha função saber. Esse é o erro do passado. Tenho de parar de tirar dinheiro de alguns e colocar no campeão nacional. Na hora que eu parar com isso, o dinheiro vai migrar naturalmente para os setores mais eficientes. Essa é a estratégia do governo: a economia do lado da oferta.

Foi um erro ter prometido na campanha que iriam zerar o déficit primário já em 2019?

A gente tinha certeza do tamanho do desafio fiscal. Mas muitas vezes se comunicar é mais difícil do que pensamos. Me parece que estava claro o seguinte: vamos vender uma estatal. Daí alguém diz: mas isso não entra no primário! O que estava na cabeça do ministro e na minha era que iríamos resolver o problema do lado econômico. O detalhe é como você endereça medidas econômicas. O que acontece é que boa parte dessas medidas não gera resultado primário na hora de contabilizá-las.

Quando haverá superávit?

Prefiro não dar previsão. Vamos ver o que vai passar de Previdência, ver a nossa força e corrigir outros desafios.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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