Economia

Sinais para 2º trimestre são negativos, diz pesquisadora do Ibre

Após a alta de 1,0% no PIB, a estimativa é que, no segundo trimestre, a economia volte a se retrair em 0,4% ante o trimestre anterior

Michel Temer: após a revelação das delações da JBS, o BC deve encurtar o atual ciclo de corte da Selic (Ueslei Marcelino/REUTERS/Reuters)

Michel Temer: após a revelação das delações da JBS, o BC deve encurtar o atual ciclo de corte da Selic (Ueslei Marcelino/REUTERS/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de junho de 2017 às 20h25.

Rio - Será muito difícil para o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getulio Vargas (Codace/FGV) determinar o trimestre em que a economia brasileira saiu de vez da recessão, afirmou nesta segunda-feira, 12, a pesquisadora Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), também da FGV.

"Parece que a gente saiu de uma recessão muito severa, deu um soluço e depois parou. Será muito difícil para o Codace datar a saída da recessão", afirmou Silvia, em palestra durante o Seminário de Análise Conjuntural do Ibre/FGV, no Rio.

Após os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, o Ibre/FGV revisou sua projeção de crescimento para a economia neste ano para 0,2%.

A projeção anterior estimava alta de 0,4% no PIB este ano.

Após a alta de 1,0% no PIB do primeiro trimestre, na comparação com o quarto trimestre de 2016, a estimativa é que, no segundo trimestre, a economia volte a se retrair, em 0,4% ante o trimestre anterior.

"Todos os sinais para o segundo trimestre são negativos", afirmou Silvia. Para 2018, o Ibre/FGV estima alta de 1,8% no PIB.

Para Samuel Pessôa, também pesquisador do Ibre/FGV, o Brasil não pode repetir erros de política econômica, insistir em "puxadinhos" para impulsionar o crescimento, e usar apenas o "combustível monetário" da queda dos juros básicos para lidar com a crise.

"Não vamos repetir os erros do passado. Não vamos forçar puxadinhos de nova matriz econômica", afirmou Pessôa, em palestra durante o seminário.

Para o pesquisador, os dados mostram que a economia está fraca, mas como o juro real está muito elevado, há espaço para estímulos monetários.

Nesse sentido, segundo Pessôa, houve erro na política econômica em 2008 e 2009, quando o excesso de medidas contracíclicas impediu um corte maior nos juros.

Na visão de Pessôa, o único lado positivo da economia atual é que "os livros texto de economia funcionaram", ou seja, com a atividade fraca, a inflação arrefeceu.

"Isso é uma novidade, porque antes tínhamos uma economia muito fraca e uma inflação resiliente", disse o pesquisador.

Reforma

Após a revelação das delações premiadas de executivos da JBS, que envolvem o presidente Michel Temer, o Banco Central deve encurtar o atual ciclo de corte da taxa básica Selic (hoje em 10,25% ao ano) e o chamado juro neutro da economia tende a ficar alto.

A análise é de José Júlio Senna, pesquisador do Ibre/FGV e ex-diretor do BC.

"O juro neutro subiu", destacou Senna, em palestra durante o seminário. "Diante da incerteza, o BC deve ir devagar", completou o pesquisador.

Para Senna, o BC agiu corretamente ao mudar o tom da comunicação sobre a política monetária após o aprofundamento da crise política, em vez de mudar o ritmo de cortes da Selic.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC fez mais um corte de 1 ponto porcentual na taxa básica, mesmo tamanho dos cortes mais recentes.

Embora o arrefecimento da inflação corrente chame atenção, Senna ressaltou que não está claro se o impacto de curto prazo do "choque político" trará mais ou menos inflação.

Por isso, o BC deveria manter a trajetória de queda na Selic até aproximar a taxa de juros real da taxa de juros neutra.

Com a reforma da Previdência ameaçando piorar o cenário da política fiscal, o fim do ciclo de corte será num patamar mais elevado e o juro neutro tende a subir nesse quadro.

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