Economia

Setor automotivo pisa no freio com desaceleração da economia

A situação econômica vivida no país fez o setor automotivo entrar em um de seus piores momentos, após anos de expansão


	Carros estacionados: segundo a Fenabrave, as vendas nos cinco primeiros meses do ano tiveram queda de 18,2%
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Carros estacionados: segundo a Fenabrave, as vendas nos cinco primeiros meses do ano tiveram queda de 18,2% (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2015 às 17h50.

São Paulo - A delicada situação econômica vivida pelo Brasil atingiu fortemente o setor automotivo, que, após anos de expansão, agora atravessa um de seus piores momentos em mais de uma década.

Protegido durante anos com incentivos do governo, o setor foi afetado pela recente suspensão dos benefícios fiscais, assim como pela crise econômica e a combinação de inflação em alta, aumento das taxas de juros e restrição ao crédito.

Esses fatores, unidos ao aumento do endividamento por parte das famílias, produziram uma queda de 18,2% nas vendas nos cinco primeiros meses do ano, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Só em maio, a diminuição foi de 24,15%.

Para reduzir o excedente de estoque, os fabricantes de veículos foram obrigados a diminuir a produção, que caiu 25,3% no último mês.

As empresas começaram também a conceder férias coletivas aos trabalhadores.

Diante desse cenário, a montadora americana General Motors (GM) decidiu interromper temporariamente a fabricação de veículos em todo o Brasil, com o objetivo de "adequar a produção à demanda" e evitar assim tomar medidas mais drásticas, como demissões.

O presidente da GM para a América do Sul, Jaime Ardila, chegou a admitir em declarações à imprensa que a atual crise na indústria brasileira de automóveis é pior que a de 2008, combatida pelos incentivos fiscais oferecidos pelo governo.

A companhia alemã Mercedes Benz anunciou a demissão de 500 trabalhadores, dos quais 192 aderiram a um programa de demissão voluntária, segundo confirmou um dos sindicatos de Metalúrgicos da região industrial de São Paulo.

Insatisfeitos com a decisão da empresa, cerca de cem pessoas acamparam em frente à fábrica da Mercedes perto de São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo, para pressionar a companhia a reverter a situação.

"Foi um choque grande. Não aceito minha demissão. As vendas caem e nos colocam na rua. As coisas não são assim", criticou a metalúrgica Marta Rodríguez de Oliveira em entrevista à Agência Efe.

Com previsões pessimistas até 2016, o segmento automotivo, que contribui com aproximadamente 25% da produção industrial do país, espera que o ajuste fiscal implantado pelo governo sirva para reverter a situação do setor, um dos mais afetados pela crise.

"A expectativa do mercado, a confiança de consumidores e empresários continuam deteriorados, influenciados diretamente pela diminuição do crédito e à espera do ajuste fiscal na economia", ressaltou o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos (Anfavea), Luiz Moan.

Para a Força Sindical, a situação do setor automotivo é resultado de "uma série de erros por parte do governo" e da "ausência de uma política industrial focada no desenvolvimento".

"O governo deu incentivos e ofereceu benefícios fiscais ao setor, mas sem cobrar uma contrapartida. Não se fomentou a competividade", afirmou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, à Efe.

O diagnóstico é compartilhado, em parte, pelo sindicato de metalúrgicos da região industrial de São Paulo, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).

"O setor esteve artificialmente incentivado, mas gerava renda. O problema foi a competividade. A estrutura tributária é muito complexa e pagam-se muito mais impostos que em outros países. Taxam o consumo final e não as grandes fortunas", criticou o diretor de comunicação do sindicato e funcionário da Mercedes, Valter Sanches.

Para Sanches, a esperança do setor, a longo prazo, está nas exportações, impulsionadas nos últimos meses pela depreciação de mais de 15% do real em relação ao dólar. 

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