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Salário menor em serviços pode não aliviar inflação no setor

Segundo economistas, movimento é uma condição necessária, mas não determinante para o arrefecimento dos preços

Serviços: movimento é uma condição necessária, mas não determinante para o arrefecimento dos preços (Thinkstock)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2016 às 16h29.

São Paulo - A diminuição da renda dos trabalhadores de serviços, intensificada nos últimos meses, leva a dois movimentos que podem resultar no tardio arrefecimento da inflação do setor: de um lado, o pagamento de valores menores aos funcionários alivia os custos dos prestadores de serviços e, de outro, com menos renda disponível, o corte no orçamento das famílias deve abrandar também a pressão sobre os preços .

Economistas ponderam, no entanto, que este movimento é uma condição necessária, mas não determinante para o arrefecimento dos preços em serviços e que o alívio da inflação do setor ainda levará tempo, com a convergência para o centro da meta podendo ocorrer apenas a partir de 2018.

Levantamento feito pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) Contínua revela que, desde 2013, a taxa de crescimento da renda média dos trabalhadores do setor desacelerou de maneira significativa até todos os cinco segmentos passarem a registrar quedas a partir do segundo semestre de 2015.

No trimestre encerrado em outubro de 2013, as taxas de crescimento da renda dos diversos tipos de serviços estava acima da média geral - que considera ainda os ganhos de trabalhadores da construção civil, indústria, comércio e administração pública.

Já no mesmo período de 2015, os cinco segmentos de serviços que compõem a pesquisa não só registraram queda na renda real, como a magnitude da retração foi mais intensa que a média geral.

O impacto desses efeitos sobre a inflação não é desprezível, uma vez que a folha de pagamento representa, em média, 30% dos custos de um negócio e os serviços respondem por 40% do emprego formal no País, segundo especialistas que acompanham o setor.

Para o economista-chefe da Parallaxis Consultoria, Rafael Leão, este movimento está claramente relacionado ao aperto no orçamento das famílias e sinaliza para a diminuição da pressão inflacionária sobre os preços do setor. "O recuo da renda dos trabalhadores e o aumento do desemprego no setor significam uma pressão muito menor da parte de custos. Isso pode vir a permitir um arrefecimento dos preços", afirmou.

O economista da RC Consultores, Marcel Caparoz, tem uma avaliação semelhante, mas pondera que a trajetória de arrefecimento dos preços deve ser lenta.

"A tendência é de que a inflação de serviços recue dos quase 8,5% registrados em 2015, mas ela não deve fechar 2016 abaixo de 7%", estimou. Para ele, apenas entre 2018 e 2019 é que o ritmo de alta deve se aproximar do nível do centro da meta inflacionária, de 4,5%. Já Leão projeta que a inflação de serviços fique em 6,8% neste ano e em 5% no ano que vem.

A leitura dos especialistas é de que o encolhimento dos salários pagos aos trabalhadores abre caminho, mas não garante um intenso processo de desinflação no curto prazo porque, ao contrário do que ocorre com a elevação de custos, o repasse da diminuição dos gastos para o consumidor se dá de forma mais lenta.

"Isso pode demorar até oito meses para o empresário ter certeza de que tem condições de manter o negócio cobrando menos dos seus clientes", disse Caparoz.

A mesma redução de salários que beneficia o setor do lado dos custos acaba refletindo na diminuição dos lucros sob a ótica da demanda.

"O ciclo mais tradicional é o de uma mulher, por exemplo, que na época de bonança fazia a unha duas vezes por semana e agora, só a cada quinze dias", exemplificou Leão.

"Além da queda da renda, as demissões e o medo do desemprego apertaram bastante o orçamento das famílias." Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre o trimestre de agosto a outubro de 2014 e o mesmo período de 2015 a massa de rendimento dos brasileiros encolheu R$ 2 bilhões, ao recuar 1,2%, para R$ 169,576 bilhões.

Caparoz lembra que estas são condições favoráveis e necessárias para permitir o arrefecimento da inflação de serviços, mas ainda há outros fatores pressionando os preços.

"Os gastos com energia e aluguel, por exemplo, continuam elevados", recordou. Já Leão alerta para outro risco. "Também tem os efeitos da indexação que acabam levando à inércia inflacionária e limitando a desaceleração da alta de preços", observou.

Segmentos

Ao analisar o comportamento da renda média dos trabalhadores das cinco categorias de serviços, Caparoz destaca que, em tempos de crise econômica e de redução de custos, prestadores de serviços podem ser substituídos com mais facilidade que um operário da indústria, por exemplo.

"O custo do treinamento de um funcionário e o tempo para ele aprender suas funções são muito menores", observou. Isso explicaria as crescentes demissões de funcionários com salários mais elevados e a contratações de pessoas menos experiente e, consequentemente, com salários mais baixos.

Para ele, a situação do setor de alojamento e alimentação é o mais delicado, já que a renda média dos trabalhadores do segmento vem caindo há mais de um ano e registrou, ao longo de 2015, as retrações mais intensas na comparação com os outros segmentos.

O outro grupo que chama a atenção do economista é o de serviços domésticos, que sustentou taxas de crescimento médio da renda superiores a 4% até meados de 2014, mas que, quando passou a cair, nas duas últimas leituras da Pnad Contínua, passou por quedas fortes de 2,5% e 4,2% nos trimestres encerrados em setembro e outubro de 2015, respectivamente, ante iguais períodos de 2014.

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São Paulo - A diminuição da renda dos trabalhadores de serviços, intensificada nos últimos meses, leva a dois movimentos que podem resultar no tardio arrefecimento da inflação do setor: de um lado, o pagamento de valores menores aos funcionários alivia os custos dos prestadores de serviços e, de outro, com menos renda disponível, o corte no orçamento das famílias deve abrandar também a pressão sobre os preços .

Economistas ponderam, no entanto, que este movimento é uma condição necessária, mas não determinante para o arrefecimento dos preços em serviços e que o alívio da inflação do setor ainda levará tempo, com a convergência para o centro da meta podendo ocorrer apenas a partir de 2018.

Levantamento feito pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) Contínua revela que, desde 2013, a taxa de crescimento da renda média dos trabalhadores do setor desacelerou de maneira significativa até todos os cinco segmentos passarem a registrar quedas a partir do segundo semestre de 2015.

No trimestre encerrado em outubro de 2013, as taxas de crescimento da renda dos diversos tipos de serviços estava acima da média geral - que considera ainda os ganhos de trabalhadores da construção civil, indústria, comércio e administração pública.

Já no mesmo período de 2015, os cinco segmentos de serviços que compõem a pesquisa não só registraram queda na renda real, como a magnitude da retração foi mais intensa que a média geral.

O impacto desses efeitos sobre a inflação não é desprezível, uma vez que a folha de pagamento representa, em média, 30% dos custos de um negócio e os serviços respondem por 40% do emprego formal no País, segundo especialistas que acompanham o setor.

Para o economista-chefe da Parallaxis Consultoria, Rafael Leão, este movimento está claramente relacionado ao aperto no orçamento das famílias e sinaliza para a diminuição da pressão inflacionária sobre os preços do setor. "O recuo da renda dos trabalhadores e o aumento do desemprego no setor significam uma pressão muito menor da parte de custos. Isso pode vir a permitir um arrefecimento dos preços", afirmou.

O economista da RC Consultores, Marcel Caparoz, tem uma avaliação semelhante, mas pondera que a trajetória de arrefecimento dos preços deve ser lenta.

"A tendência é de que a inflação de serviços recue dos quase 8,5% registrados em 2015, mas ela não deve fechar 2016 abaixo de 7%", estimou. Para ele, apenas entre 2018 e 2019 é que o ritmo de alta deve se aproximar do nível do centro da meta inflacionária, de 4,5%. Já Leão projeta que a inflação de serviços fique em 6,8% neste ano e em 5% no ano que vem.

A leitura dos especialistas é de que o encolhimento dos salários pagos aos trabalhadores abre caminho, mas não garante um intenso processo de desinflação no curto prazo porque, ao contrário do que ocorre com a elevação de custos, o repasse da diminuição dos gastos para o consumidor se dá de forma mais lenta.

"Isso pode demorar até oito meses para o empresário ter certeza de que tem condições de manter o negócio cobrando menos dos seus clientes", disse Caparoz.

A mesma redução de salários que beneficia o setor do lado dos custos acaba refletindo na diminuição dos lucros sob a ótica da demanda.

"O ciclo mais tradicional é o de uma mulher, por exemplo, que na época de bonança fazia a unha duas vezes por semana e agora, só a cada quinze dias", exemplificou Leão.

"Além da queda da renda, as demissões e o medo do desemprego apertaram bastante o orçamento das famílias." Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre o trimestre de agosto a outubro de 2014 e o mesmo período de 2015 a massa de rendimento dos brasileiros encolheu R$ 2 bilhões, ao recuar 1,2%, para R$ 169,576 bilhões.

Caparoz lembra que estas são condições favoráveis e necessárias para permitir o arrefecimento da inflação de serviços, mas ainda há outros fatores pressionando os preços.

"Os gastos com energia e aluguel, por exemplo, continuam elevados", recordou. Já Leão alerta para outro risco. "Também tem os efeitos da indexação que acabam levando à inércia inflacionária e limitando a desaceleração da alta de preços", observou.

Segmentos

Ao analisar o comportamento da renda média dos trabalhadores das cinco categorias de serviços, Caparoz destaca que, em tempos de crise econômica e de redução de custos, prestadores de serviços podem ser substituídos com mais facilidade que um operário da indústria, por exemplo.

"O custo do treinamento de um funcionário e o tempo para ele aprender suas funções são muito menores", observou. Isso explicaria as crescentes demissões de funcionários com salários mais elevados e a contratações de pessoas menos experiente e, consequentemente, com salários mais baixos.

Para ele, a situação do setor de alojamento e alimentação é o mais delicado, já que a renda média dos trabalhadores do segmento vem caindo há mais de um ano e registrou, ao longo de 2015, as retrações mais intensas na comparação com os outros segmentos.

O outro grupo que chama a atenção do economista é o de serviços domésticos, que sustentou taxas de crescimento médio da renda superiores a 4% até meados de 2014, mas que, quando passou a cair, nas duas últimas leituras da Pnad Contínua, passou por quedas fortes de 2,5% e 4,2% nos trimestres encerrados em setembro e outubro de 2015, respectivamente, ante iguais períodos de 2014.

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