A bola de neve em que se transformou a crise da agricultura continuará crescendo no próximo ano, graças aos problemas que os produtores rurais encontraram na safra 2005/2006. A grande instabilidade climática, que fez com que os períodos de chuva e seca ocorressem em momentos indesejados, as fortes chuvas que assolaram algumas regiões do país durante a colheita, e a ferrugem asiática - doença que ataca as lavouras de soja - reduziram a expectativa da safra de grãos deste ano. Com isso, os agricultores começarão o plantio da próxima safra menos capitalizados do que esperavam, o que acarretará menor consumo de insumos agrícola e sementes, entre outros, e aumentará o risco de uma produtividade mais baixa no ano que vem.

"Os agricultores começarão os trabalhos da safra 2006/2007 em condições muito piores. Pode-se dizer que haverá um aprofundamento da crise do setor", afirma o André Pessôa, diretor da Agroconsult, consultoria especializada em agronegócios. A empresa apresentou, nesta terça-feira (11/4), os resultados de um levantamento da safra de grãos em 76 municípios de 14 estados, com foco em soja e milho. A pesquisa mostrou que o desempenho do campo, neste ano, ficará abaixo do esperado. A Agroconsult estima que a safra de grãos atingirá 116,9 milhões de toneladas, contra a estimativa anterior de 119,5 milhões.

A estimativa é menor que a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que, em março, esperava uma colheita de 121,970 milhões de toneladas. Apesar das divergências entre as estatísticas públicas e privadas, o mercado espera que, apesar das quebras, a safra fique acima dos 112,454 milhões de toneladas de 2005 - dados do IBGE.

Menor produtividade

Mesmo superando o ano anterior, a colheita de 2006 não trará tranqüilidade para os produtores. Isto porque a quebra de safra significa prejuízo - os investimentos em sementes, insumos e equipamentos foram realizados para colher mais que o previsto e, por isso, as perdas deverão agravar a situação financeira dos plantadores, que já pleiteiam a renegociação de dívidas de safras passadas junto ao governo federal.

Um sinal de que o nível de tecnologia embutida na produção de grãos será menor na safra 2006/2007 é o desempenho do setor de máquinas agrícolas. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a venda do setor recuaram 1,1% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. A queda nas vendas de colheitadeiras foi ainda maior: 40,1%.

Já em 2005, os produtores encontraram dificuldades para o plantio da safra que seria colhida no início de 2006. O resultado foi um uso menos intenso de tecnologia, o que resultou em menor produtividade. Segundo a Agroconsult, a produtividade média da safra de soja deste ano é uma das piores da história em vários estados pesquisados.

Soja e milho

Somente a soja teve sua previsão de colheita rebaixada de 55,3 milhões de toneladas para 53,5 milhões. Segundo Pessôa, a situação mais grave foi vista no Paraná e em Mato Grosso. "Nessas regiões, a colheita está muito abaixo da expectativa", afirma.

Já a previsão para a safra de milho foi mantida. A consultoria estima que o Brasil produzirá 31,1 milhões de toneladas neste ano. A produção dos estados do sul, no entanto, apresentou queda de 1,9% em relação ao previsto. O recuo foi compensado pela maior produtividade do Nordeste - 18,2% superior à estimativa inicial.