Estação de medição de gás na Ucrânia: corte pode agravar a situação (Alexander Zobin/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2014 às 13h24.
Moscou - Após o fracasso das negociações, a Rússia cumpriu nesta segunda-feira a ameaça de cortar o fornecimento de gás para a Ucrânia, o que pode afetar o abastecimento da Europa e agravar o pior conflito entre Moscou e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria.
O governo pró-Ocidente ucraniano tinha a esperança de encontrar uma solução de última hora no domingo à tarde em Kiev para solucionar a divergência com Moscou, enquanto o leste do país é cenário de um violento conflito entre militares e insurgentes pró-Rússia.
Mas o ultimato chegou ao fim nesta segunda-feira às 6H00 GMT (3H00 de Brasília) e a gigante semiestatal russa Gazprom anunciou que adotou para a Ucrânia um sistema de pagamento antecipado para o gás, com o qual forneceria apenas os volumes pelos quais já foi paga.
"A Naftogaz recebe apenas os volumes pelos quais paga. Não pagou nada, então não recebe nada", afirmou o porta-voz da Gazprom, Serguei Kuprianov.
A Ucrânia confirmou nesta segunda-feira que a Rússia "reduziu a zero" o fornecimento de gás e que apenas transita por seu território gás destinado a outros países europeus.
"Nós fomos informados de que o fornecimento de gás a Ucrânia foi reduzido a zero e que apenas há volumes enviados em trânsito para países europeus", disse o ministro ucraniano da Energia, Yuri Prodan.
A Ucrânia "vai garantir o trânsito confiável (de gás) para a Europa", completou.
A Gazprom também advertiu a Comissão Europeia sobre "possíveis perturbações" no fornecimento ao bloco, caso a Ucrânia se aproprie do gás que transita por seu território. Quase 15% do gás consumido na Europa passa pelo país.
O comissário europeu da Energia, Guenther Oettinger, afirmou que não devem acontecer problemas no fornecimento de gás russo para a Europa nas "próximas semanas", mas advertiu para um possível problema "no caso de inverno rigoroso".
E o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, convocou Rússia e Ucrânia a fazer um esforço para alcançar um acordo e retomar o comércio de gás entre os dois países.
"Gostaria de pedir mais uma vez as duas partes que façam um esforço de compromisso", declarou Barroso em um fórum econômico em Santander (norte da Espanha).
O presidente da Comissão opinou que "a proposta (de acordo) que está na mesa é uma boa proposta" porque permitiria à Rússia cobrar os pagamentos atrasados e a Ucrânia poderia ter no futuro um preço justo pela energia.
"A Comissão está mediando este problema", disse Barroso, declarando que o comissário europeu da Energia, Guenther Oettinger, está em contato com os dois países e com o gigante energético russo Gazprom.
"Gostaríamos muito que a Rússia pudesse aceitar esta proposta de acordo", insistiu.
A Gazprom anunciou que apresentou uma denúncia contra a Naftogaz Ucrânia ao tribunal de arbitragem internacional de Estocolmo para reclamar o pagamento de uma dívida que alcança 4,5 bilhões de dólares.
Desta maneira se antecipou a Naftogaz, que anunciou pouco depois que recorreu ao mesmo tribunal contra a Gazprom pelo pagamento indevido de seis bilhões de dólares em 2010, além de ter solicitado um "preço justo" para futuros contratos de fornecimento de gás russo.
Kiev não aceitou o aumento de preço imposto por Moscou após a chegada ao poder de autoridades pró-Ocidente, depois da queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich.
O preço subiu de 268 dólares por 1.000 metros cúbicos para 485 dólares, um valor sem precedentes na Europa. Na "última oferta", Moscou apresentou a proposta de US$ 385.
No domingo, nas últimas horas das negociações, as autoridades ucranianas e europeias ainda tinham esperanças de conseguir evitar a terceira "guerra do gás", após os conflitos de 2006 e 2009, que afetaram o fornecimento para a UE.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, denunciou no domingo o que chamou de "arrogância" de Kiev.
Conflitos em todas as frentes
Enquanto isso, no leste da Ucrânia, a situação com os separatistas pró-Moscou permanece tensa. O presidente pró-Ocidente ucraniano Petro Poroshenko prometeu uma "resposta adequada" aos separatistas depois que um avião do exército foi abatido em Lugansk e matou 49 pessoas, no ataque com o maior número de vítimas desde que a Ucrânia iniciou em abril uma operação militar contra os rebeldes.
Poroshenko convocou para esta segunda-feira o conselho de segurança nacional e de defesa para discutir a imposição da lei marcial no leste rebelde, segundo indicou o ministro ucraniano da Defesa, Mikhailo Koval.
Ainda nesta segunda-feira os separatistas pró-russos ocuparam a sede do Banco Central em Donetsk, sem que as forças de segurança pudessem contê-los.
"Iremos subordinar o Banco Central à República popular (autoproclamada) de Donetsk" explicou à AFP Olexandre Matiushin, um dos militantes armados em frente ao edifício.