Rússia busca aproximação com Cuba em meio a sanções econômicas
Rússia se aproxima cada vez mais de Cuba, um passo bem-vindo em uma ilha carente de investimentos e em sua pior crise econômica desde a dissolução do bloco soviético em 1991
Agência de notícias
Publicado em 24 de maio de 2023 às 14h25.
Última atualização em 24 de maio de 2023 às 14h25.
Ávida por novos parceiros comerciais e aliados políticos após sua invasão da Ucrânia em 2022, a Rússia se aproxima cada vez mais de Cuba, um passo bem-vindo em uma ilha carente de investimentos e em sua pior crise econômica desde a dissolução do bloco soviético em 1991.
Em 2023, as visitas de altos funcionários russos à ilha se multiplicaram. Começaram em março com as viagens do secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, e do diretor-executivo da petroleira Rosneft, Igor Sechin.
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Havana também estendeu o tapete vermelho, entre outros, ao chanceler Sergei Lavrov, ao assessor de Economia da Presidência, Maxim Oreshkin, ao representante dos empresários russos no Kremlin, Boris Titov, e ao vice-primeiro-ministro, Dmitry Chernyshenko.
Na semana passada, Chernyshenko traçou uma "rota" para acelerar a cooperação com Cuba, que enfrenta a pior crise econômica em três décadas, com uma forte escassez de alimentos, remédios e combustíveis, enquanto representantes de dezenas de empresas russas avaliaram possibilidades de negócios e investimentos na ilha caribenha.
Ao final dessa visita, ambos os países assinaram vários acordos para retomar as relações nos setores da construção, digitalização, bancário, da produção de açúcar, de transporte e turismo, outro sinal da vontade de ambos os governos de "fortalecer" sua "associação estratégica" em 2023, anunciada em novembro durante o encontro dos presidentes Miguel Díaz-Canel e Vladimir Putin em Moscou.
Mudança na economia
Chernyshenko também se referiu à necessidade de que Cuba implemente "algumas mudanças" em sua legislação para favorecer os negócios com seu país.
Em janeiro, depois de uma primeira visita de Titov a Cuba, a imprensa russa informou a criação conjunta, em Havana, de um centro de estudos das "mudanças na economia cubana" baseados "no desenvolvimento das empresas privadas", às quais o governo comunista de Díaz-Canel se viu forçado abrir as portas desde 2021.
Em julho, foi anunciada em Havana a retomada de voos regulares entre Moscou e Varadero, suspensos após a invasão russa da Ucrânia -em 24 de fevereiro de 2022-, o que deve aumentar o fluxo de turistas russos a Cuba, que desde março podem fazer operações bancárias na ilha com o sistema de pagamentos russo MIR.
Fortes aliados comunistas durante a Guerra Fria, ambos os países tiveram seus laços cortados abruptamente em 1991 com a desintegração do bloco comunista soviético, com o qual Cuba mantinha 75% de seu comércio e praticamente sua única fonte de créditos.
A partir de 2005, depois de atingir o fundo do poço, as relações entre Rússia e Cuba tiveram uma etapa de retomada, mas nunca alcançaram o nível atual, que Díaz-Canel qualificou como um "período único".
Mais isolada do que nunca nos fóruns internacionais e sob um aumento das sanções econômicas de Ocidente após sua invasão da Ucrânia, a "Rússia necessita de parceiros comerciais e aliados políticos, e a América Latina oferece as duas possibilidades", declarou à AFP Mervyn Bain, da Universidade de Aberdeen, na Escócia.
Díaz-Canel, cujo governo mantém uma postura neutra em relação à invasão russa da Ucrânia, com repetidos pedidos ao diálogo como solução do conflito, confirmou a Chernyshenko "o apoio incondicional de Cuba" à Rússia "em seu enfrentamento com o Ocidente".
Segundo números russos, em 2022, o intercâmbio comercial entre Cuba e Rússia alcançou os 450 milhões de dólares (o equivalente a 2,34 bilhões de reais na cotação da época). Desse total, 90% foram em vendas de petróleo e óleo de soja para a ilha.