Economia

Ritmo de corte de juros fica incerto após delação da JBS

Antes do tsunami causado pelas delações da JBS, tendência era de queda nos juros. Agora, cenário está completamente em aberto

Banco Central: após delações, cenário de corte de juros é incerto (Gustavo Gomes/Bloomberg)

Banco Central: após delações, cenário de corte de juros é incerto (Gustavo Gomes/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de maio de 2017 às 18h58.

Brasília - O tsunami gerado pela delação de Joesley Batista trouxe uma nuvem de incerteza sobre os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom). Antes da delação, crescia a aposta de que Banco Central poderia ser mais agressivo no corte do juro diante da fraqueza da atividade e da inflação bem comportada. O turbilhão político, porém, impõe incertezas e economistas esperam mais cautela do órgão, formado pelo presidente e diretores do BC.

Eventual impacto inflacionário do dólar mais alto e as incertezas sobre o andamento das reformas são citados como os principais motivos para a esperada cautela no BC. A equipe econômica tem agido para evitar distorções no câmbio e insiste que continuará com a agenda de reformas para dar suporte à retomada do crescimento, mas especialistas acreditam que haverá mudanças e a política monetária é um dos itens que terá de ser ajustado no curto prazo.

Ex-diretor do BC e assessor da presidência da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sergio Werlang avalia que o noticiário sugere cautela. "No curto prazo, há impacto relativamente pequeno (na inflação), porque as políticas continuam em andamento, mas muito possivelmente o BC pode ficar mais conservador", disse. No início da semana, o ex-diretor acreditava que a Selic poderia ser reduzida em 1,25 ponto na reunião do fim do mês. Agora, prevê 1 ponto - mesmo ritmo da decisão anterior.

Marcio Nakane, professor de economia da USP, espera um BC menos ousado. "O livro-texto sugere cautela diante da maior incerteza", disse, ao comentar que "não ficaria surpreso" se o Copom suavizasse o ritmo de queda da Selic.

Mesmo sem dar pistas dos próximos passos do Copom, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reconheceu ontem que as incertezas aumentaram. Em evento fechado do banco Santander em São Paulo, defendeu a importância de a política econômica continuar "no caminho correto, a despeito do aumento da incerteza política".

Ontem, BC e Tesouro Nacional continuaram a atuar nos negócios. Só no mercado futuro de câmbio, foram feitas operações que equivalem à venda de mais de US$ 6 bilhões em dois dias. "É importante ressaltar que essa atuação firme e serena do BC tem foco no bom funcionamento dos mercados", afirmou Ilan.

"Não há relação direta e mecânica dessa atuação e monitoramento com a política monetária, que continuará a ser definida pelo Copom, em suas reuniões ordinárias", acrescentou, ao citar que os juros serão decididos conforme "o cenário básico, balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis".

Médio prazo

Passado o impacto inicial do dólar alto, Nakane diz que será importante observar o efeito secundário na inflação. "O dólar tem efeitos disseminados e não apenas pelos importados, mas também porque afeta preços administrados". Ilan disse ontem que o BC não reage aos efeitos primários de choques como o do câmbio. O BC reconhece, porém, que reage ao efeito secundário e mais disseminado de eventuais choques.

Para além da inflação, Werlang nota que o foco de médio e longo prazos do BC passará a ser a capacidade do governo de continuar com a agenda de reformas, especialmente da Previdência. "Tudo vai depender de quais são as perspectivas das reformas", diz. O ex-BC nota que o quadro político pode incentivar o governo "a gastar um pouco mais", o que poderia prejudicar o ajuste das contas públicas. Por isso, insiste nas reformas.

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