Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 26 de março de 2024 às 08h28.
Última atualização em 26 de março de 2024 às 08h51.
As incertezas sobre a inflação de serviços, a resiliência da atividade econômica e um mercado de trabalho aquecido, com aumentos salariais reais, trouxeram mais incerteza sobre a velocidade do processo de desinflação. Tamanha é a preocupação que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) discutiram abertamente na última reunião que reduzir o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual para 0,25 ponto percentual pode ser mais apropriado. A ata do último encontro foi publicada nesta terça-feira, 26.
"Alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir. O Comitê manteve, unanimemente, que a taxa de juros e sua respectiva trajetória serão aquelas necessárias para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária", informou o Copom, na ata.
Os diretores do Banco Central (BC) explicitaram preocupação com o processo de desinflação de serviços. Esses preços têm mostrado resiliência e preocupam os membros do Copom.
"Por outro lado, a recorrência de surpresas inflacionárias na inflação de serviços, em particular em seus componentes subjacentes e itens intensivos em trabalho, suscita dúvidas sobre a velocidade da desinflação prospectiva", informou o BC.
Os membros do Copom também estão preocupados com o mercado de trabalho. Reajustes salariais acima da inflação sem ganho de produtividade são apontados como um problema futuro.
"Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra", disse.
As expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação, alerta a ata do Copom. O cenário de expectativas acima da meta por um período prolongado, avaliam, requer acompanhamento mais próximo para garantir, ainda que nesse cenário, o atingimento da meta de inflação.
O Comitê também observa que a "redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira".