Economia

Riscos inflacionários levam Copom a discutir redução do ritmo de queda de juros, aponta ata

Os diretores do BC explicitaram incerteza com o processo de desinflação de serviços, com o mercado de trabalho aquecido e com a resiliência da economia

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 26 de março de 2024 às 08h28.

Última atualização em 26 de março de 2024 às 08h51.

As incertezas sobre a inflação de serviços, a resiliência da atividade econômica e um mercado de trabalho aquecido, com aumentos salariais reais, trouxeram mais incerteza sobre a velocidade do processo de desinflação. Tamanha é a preocupação que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) discutiram abertamente na última reunião que reduzir o ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual para 0,25 ponto percentual pode ser mais apropriado. A ata do último encontro foi publicada nesta terça-feira, 26.

"Alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir. O Comitê manteve, unanimemente, que a taxa de juros e sua respectiva trajetória serão aquelas necessárias para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária", informou o Copom, na ata.

Os diretores do Banco Central (BC) explicitaram preocupação com o processo de desinflação de serviços. Esses preços têm mostrado resiliência e preocupam os membros do Copom.

"Por outro lado, a recorrência de surpresas inflacionárias na inflação de serviços, em particular em seus componentes subjacentes e itens intensivos em trabalho, suscita dúvidas sobre a velocidade da desinflação prospectiva", informou o BC.

Os membros do Copom também estão preocupados com o mercado de trabalho. Reajustes salariais acima da inflação sem ganho de produtividade são apontados como um problema futuro.

"Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra", disse.

As expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação, alerta a ata do Copom. O cenário de expectativas acima da meta por um período prolongado, avaliam, requer acompanhamento mais próximo para garantir, ainda que nesse cenário, o atingimento da meta de inflação.

O Comitê também observa que a "redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira".

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCopom

Mais de Economia

Lula se reúne com ministros nesta quinta e deve fechar pacote de corte de gastos

Equipe econômica acompanha formação de governo Trump para medir impactos concretos no Brasil

Pacote de corte de gastos ainda está em negociação, afirma Lula

Copom eleva Selic em 0,5 pp, para 11,25% ao ano, e sinaliza novas altas de juros