Quarentena na Itália: as economias do Japão, Alemanha, França e Itália já estavam encolhendo ou estagnadas antes do surto do vírus (Tullio Puglia/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 14 de março de 2020 às 08h01.
Última atualização em 14 de março de 2020 às 08h01.
Uma recessão global provocada pela pandemia de coronavírus se torna mais provável a cada dia com o aumento das restrições ao fluxo de bens, serviços e pessoas.
O presidente Donald Trump proibiu voos da Europa para os Estados Unidos, o governo da Itália ordenou o fechamento de quase todas as lojas, a Índia suspendeu a maioria dos vistos e a Irlanda paralisou parcialmente o país.
O Twitter se uniu a outras empresas e pediu que os funcionários trabalhassem em casa e a Associação Nacional de Basquete dos EUA suspendeu a temporada.
Embora esses anúncios tenham como objetivo conter o coronavírus, cada cidade em quarentena, voo cancelado, evento esportivo suspenso e conferência adiada afetarão a demanda neste trimestre e, talvez, por mais meses. As compras motivadas por pânico de consumidores podem ser seguidas por meses de cautela com gastos.
Investidores soam o alarme de que os governos não estão fazendo o suficiente, com forte queda das ações globais e estresse nos mercados de crédito, o que piora as perspectivas econômicas.
O vírus “abalou a economia global e rapidamente se transformou em deslocamento nos mercados financeiros”, disseram economistas da equipe do Morgan Stanley liderada por Chetan Ahya em relatório a clientes, no qual alertaram para um “risco crescente” de recessão global.
“A necessidade do momento é uma resposta rápida e significativa das autoridades de saúde pública, monetárias e fiscais”, disseram.
Há poucas semanas, a expectativa era de que a economia mundial seguisse uma trajetória em forma de V - forte queda no crescimento no primeiro trimestre, seguida por recuperação no segundo trimestre. Agora, o maior choque econômico desde a crise financeira de 2008 aumenta o risco de uma recessão global, e o debate muda para o tempo e profundidade da retração.
A China pode registrar a primeira retração trimestral em décadas. Nos EUA, um modelo da Bloomberg Economics sugere 53% de chance de que a expansão de 11 anos termine dentro de 12 meses.
As economias do Japão, Alemanha, França e Itália já estavam encolhendo ou estagnadas antes do surto do vírus, e o Reino Unido cambaleia em meio à incerteza do Brexit.
À medida que o vírus se espalha, cresce a ameaça de um fenômeno que os economistas chamam de “feedback loop” - um ciclo vicioso em que um país que começa a se recuperar internamente sente o impacto da demanda reduzida no exterior com a retração em outras nações, prolongando a crise.
Na Pacific Investment Management, o consultor econômico global Joachim Fels diz que os EUA e a Europa enfrentam a “possibilidade distinta” de recessão. O ex-secretário do Tesouro dos EUA, Larry Summers, colaborador da Bloomberg News, diz que o coronavírus pode ser a crise mais séria do século até agora e coloca as chances de uma recessão nos EUA em 80%.