Economia

Retomada da economia mantém um motor e ganha outro

PIB do terceiro trimestre teve ritmo fraco, mas sobre base mais forte; economistas avaliam que recuperação se disseminou

Consumidores com carrinhos esperam em fila para descontos do Supermercado Guanabara no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg)

Consumidores com carrinhos esperam em fila para descontos do Supermercado Guanabara no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 1 de dezembro de 2017 às 12h29.

Última atualização em 1 de dezembro de 2017 às 13h07.

São Paulo - Os números do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nesta sexta-feira (01) mostraram um crescimento de apenas 0,1% no 3º trimestre do ano em relação ao trimestre anterior e de 1,4% em relação ao mesmo período de 2016.

As projeções eram de um número mais alto e o IBGE classificou o dado como "estabilidade", mas isso não significa que a retomada da economia brasileira estacionou.

"Parece dar a impressão de um resultado ruim, mas essa não é a leitura correta", resume a nota de Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Isso porque apesar de baixo, o dado é sobre uma base maior, já que os números do primeiro semestre foram revisados para cima (o que é comum neste período do ano).

O crescimento no 1º trimestre foi revisado de 1% para 1,3% e o do 2º trimestre foi revisado de 0,2% para 0,7%. "Todos os números do PIB em 2017 estão agora no azul", resume Vale.

A MB Associados e o Ibre/FGV revisaram a expectativa de crescimento final do ano de 0,9% para 1% e destacam uma recuperação mais disseminada entre os setores.

"O PIB no início do ano dependeu muito da agropecuária, que ajudou e agora está atrapalhando. Indústria e serviços, com peso muito mais alto, agora crescem com força ", diz Silvia Mattos, do Ibre/FGV.

A indústria cresceu 0,8% e os serviços cresceram 0,6% no trimestre. Ela calcula que o crescimento do PIB sem considerar a agropecuária teria sido de 1,2% no terceiro trimestre.

"A composição é muito melhor do que o número. É um crescimento muito sólido, o mais elevado desde o 2º trimestre de 2013, e a demanda final está acelerando para um crescimento anualizado de 4%", diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.

Consumo

O consumo das famílias é o principal motor do processo de recuperação, com crescimento de 1,2% na comparação trimestral e 2,2% na anual.

A queda da inflação, especialmente dos alimentos, significou alta real nos salários e na massa salarial ao longo do ano, enquanto os juros mais baixos aliviaram o crédito e o endividamento.

A queda do desemprego ajuda, ainda que muito calcada na informalidade, e a economia ainda sente os efeitos da liberação de recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Os fundamentos são sólidos, mas a força pode diminuir daqui pra frente.

"Alguns fatores que ajudaram na recuperação neste ano deverão pesar negativamente em 2018, com destaque para a variação do poder de compra do salário-mínimo", diz a nota de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, notando que cerca de 30 milhões de brasileiros ganham até 1 mínimo.

Inflação e juros devem se estabilizar e com a recuperação, mais gente volta para o mercado. Isso pode significar que mesmo com mais empregos e mais formalização, a taxa de desemprego e os salários fiquem relativamente estacionados.

Investimento

A principal novidade no trimestre foi o crescimento nos investimentos. Após quase 4 anos afundando sem parar e uma queda acumulada de 30%, eles reagiram e cresceram 1,6% no trimestre.

Os economistas avaliam que parte disso é resultado de uma necessidade básica de repor o que ficou desatualizado e parte já é uma resposta ao aumento da demanda e da produção.

Mas alguns dados seguem muito negativos, como a construção civil (queda anual de 4,7%), e o ano eleitoral traz riscos.

"Pro investimento crescer dois dígitos, o que poderia mudar mesmo o PIB, tem que ter muita certeza e o ano que vem vai ser de incerteza", resume Silvia.

O mercado conta com um candidato que abrace uma agenda de reformas, mas não está claro que isso vá acontecer. Isso pode levar a estresse em câmbio, inflação, preços de ativos e confiança dos consumidores e dos empresários.

"A politica é uma fonte de incerteza grande que pode minar, especialmente o investimento. Se o quadro político piorar e não haver certeza sobre continuidade da agenda reformista, isso pode colocar em cheque toda a recuperação cíclica", diz Ramos.

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