Economia

Resistência da inflação provocará nova alta da Selic

Embora os núcleos da inflação tenham desacelerado, o aumento das tarifas de ônibus nas capitais deverá manter o IPCA de março em um patamar elevado

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h27.

Apesar do tom mais otimista da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e de sinais de recuo dos núcleos da inflação, a taxa básica de juros (Selic) deverá ser elevada novamente nesta semana. A discussão, contudo, recai sobre a intensidade do novo aumento e sobre o possível fim do ciclo de ajustes da Selic, iniciado em setembro pelo Banco Central (BC).

Segundo o último relatório de mercado do BC, na média, as instituições financeiras consultadas esperam uma alta de 0,5 ponto percentual nesta semana, o que elevaria os juros para 19,25% ao ano. Para abril, os analistas aguardam a manutenção dos juros nesse patamar. A consultoria Tendências está entre os que apostam nessa alta de 0,5 ponto (se você é assinante, leia reportagem de EXAME sobre o impacto dos juros altos na inflação).

Para a Tendências, a inflação apresenta uma evolução positiva. Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que baliza a meta oficial de inflação registrou alta de 0,59%, praticamente o mesmo resultado de janeiro (0,58%) e dentro das expectativas do mercado. Na decomposição do índice, constata-se que a educação foi o item que mais pesou no mês passado, com alta de 3,33%, puxada por fatores sazonais.

A pressão desse item pesou sobre o conjunto de preços livres, que aceleraram de janeiro para fevereiro, passando de uma alta de 0,61% para 0,77%. Os bens duráveis (0,28%), semiduráveis (0,05%) e não-duráveis (0,26%), contudo, desaceleraram.

Já os preços administrados, como as tarifas de água e energia e os combustíveis, apresentaram forte recuo, de 0,51% para 0,16%. Com isso, o núcleo (índice que desconsidera grupos cujas variações foram muito acima ou muito abaixo da média) do IPCA ficou abaixo das previsões no mês passado. O núcleo não-suavizado (aquele em que se descartam 20% das maiores altas e 20% das menores altas), por exemplo, registrou incremento de 0,43%, contra uma estimativa de 0,50% da Tendências. Já o núcleo por médias aparadas com suavização foi menor que o do IPCA-15 de fevereiro (a prévia da primeira quinzena do mês), baixando de 0,67% para 0,60%. No núcleo suavizado, além do descarte das maiores e menores oscilações, o BC também distribui reajustes sazonais (como o da educação, em fevereiro), ao longo dos 12 meses posteriores.

Pressão dos transportes

Os sinais positivos, porém, não devem conter o ritmo de alta da Selic em março para a Tendências. O reajuste das tarifas de ônibus urbanos em São Paulo e Porto Alegre devem exercer os principais impactos sobre o IPCA. Por isso, a consultoria estima que a inflação de março seja de 0,60% sendo que o aumento dos transportes terá um peso de 0,24 ponto percentual sobre o IPCA.

Outros preços administrados, como os serviços de água e esgoto de Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília, também serão reajustados neste mês e influenciarão o índice de preços. "Assim, acreditamos que o resultado do IPCA de fevereiro não altera nossa expectativa de alta de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom", afirma a Tendências.

Alguns analistas, porém, acreditam que há margem para um aumento menor dos juros. É o caso do Departamento de Economia do Bradesco, que projeta uma alta de 0,25 ponto percentual o que elevaria a taxa para 19% ao ano. "Acreditamos que este será o último aumento da taxa de juros, que deverá retomar sua trajetória de queda somente em agosto ou setembro", afirma o banco. Segundo o relatório de mercado do BC, os analistas projetam uma Selic de 17% ao ano, em dezembro.

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