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Reservas internacionais custam R$ 65 bilhões por ano

Apesar do custo elevado de o Banco Central não mexer nas reservas, especialistas consideram essa a melhor opção para segurar o dólar

Dólares: de agosto a dezembro, o BC vendeu US$ 500 milhões por dia no mercado futuro (Karen Bleier/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2014 às 10h31.

Apontadas como o principal fator que ajuda a segurar o dólar em torno de R$ 2,40, em um cenário em que moedas de países emergentes, como a Turquia e a Argentina, têm despencado nas últimas semanas, as reservas internacionais custam caro para o Brasil. Em média, o governo deixa de ganhar R$ 65 bilhões por ano com a manutenção das reservas em torno de US$ 375 bilhões.

De autoria do economista Reinaldo Gonçalves, professor titular de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a estimativa considera dois fatores. O primeiro é o custo cambial, o que o país deixa de obter ao aplicar os recursos no exterior contra o que os estrangeiros obtêm aplicando no Brasil. O segundo é o custo fiscal, a diferença entre o custo médio da dívida pública brasileira e a remuneração internacional das reservas.

Na verdade, a manutenção das reservas não representa um gasto direto, mas sim o custo de oportunidade, aquilo que o governo deixou de conseguir ao usar os dólares que entraram no país nos últimos dez anos para engordar as reservas. Segundo Gonçalves, o custo cambial está estimado em R$ 16 bilhões por ano. Já o custo fiscal é ainda maior e atinge R$ 49 bilhões por ano.

Como os valores representam uma média de vários anos, Gonçalves adverte que atualmente o custo de manutenção das reservas está ainda maior. “Com o aumento dos juros no Brasil e a disparada do dólar desde meados no ano passado, o retorno dos investidores estrangeiros que aplicam no Brasil ficou ainda maior, o que aumenta ainda mais o custo de oportunidade”, explica o professor da UFRJ.

Desde o início da escalada do dólar, em maio do ano passado, o Banco Central (BC) tem optado por não mexer nas reservas internacionais e segurar o câmbio apenas por meio de operações diárias de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. De agosto a dezembro, o BC vendeu US$ 500 milhões por dia no mercado futuro. As injeções caíram para US$ 200 milhões diários em janeiro.

Apesar do custo elevado de o Banco Central não mexer nas reservas, especialistas consideram essa a melhor opção para segurar o dólar. “As reservas internacionais são como um colchão que protege o país de ataques externos. Como são maiores que a dívida externa [atualmente em torno de US$ 312 bilhões], elas tornam o país credor líquido externo”, diz o professor de economia internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif.


Embora reconheça a importância de as reservas internacionais superarem as contas externas, Gonçalves considera que esse argumento leva em conta apenas uma parte da discussão. Ele ressalta que a dívida externa representa uma pequena porção do passivo externo brasileiro, atualmente em torno de US$ 1,5 trilhão. “A maior fatia do passivo externo corresponde aos investimentos de estrangeiros no mercado financeiro. É capital especulativo que pode fugir do Brasil a qualquer momento”, comenta.

Segundo Gonçalves, o país acumulou reservas internacionais nos últimos dez anos de forma passiva, mais influenciado pelas condições favoráveis da economia internacional antes da crise de 2008 do que por uma política ativa. “A China e o Japão acumularam reservas para ampliar o poder na economia global e se contrapor aos Estados Unidos. O Brasil, até agora, só formou reservas para administrar custos altos”, opina o professor da UFRJ.

Mesmo com o custo de carregamento das reservas internacionais, André Nassif não acredita que o problema esteja no tamanho, mas na composição delas. “Até 2009, as reservas cresciam por causa das exportações, mas passaram a ser sustentadas pela conta de capital, que engloba tanto os investimentos estrangeiros diretos como as aplicações em carteira [capital especulativo] com os rombos crescentes nas contas externas”, pondera. “A Argentina está sofrendo muito mais do que o Brasil justamente porque tem reservas pequenas”, completa.

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Apontadas como o principal fator que ajuda a segurar o dólar em torno de R$ 2,40, em um cenário em que moedas de países emergentes, como a Turquia e a Argentina, têm despencado nas últimas semanas, as reservas internacionais custam caro para o Brasil. Em média, o governo deixa de ganhar R$ 65 bilhões por ano com a manutenção das reservas em torno de US$ 375 bilhões.

De autoria do economista Reinaldo Gonçalves, professor titular de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a estimativa considera dois fatores. O primeiro é o custo cambial, o que o país deixa de obter ao aplicar os recursos no exterior contra o que os estrangeiros obtêm aplicando no Brasil. O segundo é o custo fiscal, a diferença entre o custo médio da dívida pública brasileira e a remuneração internacional das reservas.

Na verdade, a manutenção das reservas não representa um gasto direto, mas sim o custo de oportunidade, aquilo que o governo deixou de conseguir ao usar os dólares que entraram no país nos últimos dez anos para engordar as reservas. Segundo Gonçalves, o custo cambial está estimado em R$ 16 bilhões por ano. Já o custo fiscal é ainda maior e atinge R$ 49 bilhões por ano.

Como os valores representam uma média de vários anos, Gonçalves adverte que atualmente o custo de manutenção das reservas está ainda maior. “Com o aumento dos juros no Brasil e a disparada do dólar desde meados no ano passado, o retorno dos investidores estrangeiros que aplicam no Brasil ficou ainda maior, o que aumenta ainda mais o custo de oportunidade”, explica o professor da UFRJ.

Desde o início da escalada do dólar, em maio do ano passado, o Banco Central (BC) tem optado por não mexer nas reservas internacionais e segurar o câmbio apenas por meio de operações diárias de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. De agosto a dezembro, o BC vendeu US$ 500 milhões por dia no mercado futuro. As injeções caíram para US$ 200 milhões diários em janeiro.

Apesar do custo elevado de o Banco Central não mexer nas reservas, especialistas consideram essa a melhor opção para segurar o dólar. “As reservas internacionais são como um colchão que protege o país de ataques externos. Como são maiores que a dívida externa [atualmente em torno de US$ 312 bilhões], elas tornam o país credor líquido externo”, diz o professor de economia internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif.


Embora reconheça a importância de as reservas internacionais superarem as contas externas, Gonçalves considera que esse argumento leva em conta apenas uma parte da discussão. Ele ressalta que a dívida externa representa uma pequena porção do passivo externo brasileiro, atualmente em torno de US$ 1,5 trilhão. “A maior fatia do passivo externo corresponde aos investimentos de estrangeiros no mercado financeiro. É capital especulativo que pode fugir do Brasil a qualquer momento”, comenta.

Segundo Gonçalves, o país acumulou reservas internacionais nos últimos dez anos de forma passiva, mais influenciado pelas condições favoráveis da economia internacional antes da crise de 2008 do que por uma política ativa. “A China e o Japão acumularam reservas para ampliar o poder na economia global e se contrapor aos Estados Unidos. O Brasil, até agora, só formou reservas para administrar custos altos”, opina o professor da UFRJ.

Mesmo com o custo de carregamento das reservas internacionais, André Nassif não acredita que o problema esteja no tamanho, mas na composição delas. “Até 2009, as reservas cresciam por causa das exportações, mas passaram a ser sustentadas pela conta de capital, que engloba tanto os investimentos estrangeiros diretos como as aplicações em carteira [capital especulativo] com os rombos crescentes nas contas externas”, pondera. “A Argentina está sofrendo muito mais do que o Brasil justamente porque tem reservas pequenas”, completa.

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