Economia

Renúncia de primeiro-ministro em Portugal completa um ano

A saída do socialista José Sócrates foi uma decisão que o tempo transformou no estopim de uma crise que ainda tortura o país

Sócrates renunciou ao cargo de premiê no ano passado (Wikimedia Commons)

Sócrates renunciou ao cargo de premiê no ano passado (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 29 de março de 2012 às 06h12.

Lisboa - Há pouco mais de um ano, o então primeiro-ministro português, o socialista José Sócrates, renunciou de seu cargo, uma decisão que o tempo transformou no estopim de uma crise que explodiu dias depois e que ainda tortura o país.

A pressão dos mercados e a instabilidade política que o governo vivia desde que foi reeleito em 2009 - em minoria parlamentar e enfrentando os partidos de esquerda marxista - acabaram por condenar Sócrates e deixaram Portugal à beira de um resgate financeiro que finalmente teve que solicitar.

'Foram tempos muito difíceis', reconhece em declarações à Agência EFE o atual porta-voz do grupo parlamentar socialista na oposição, Carlos Zorrinho, que fazia parte do Gabinete como secretário de Estado de Energia durante esses dias de tensão.

A estratégia do Executivo era clara: 'a questão de fundo era chegar a junho sem pedir o resgate, quando esperávamos que na cúpula da União Europeia seriam alteradas as regras de funcionamento do Banco Central Europeu, como depois aconteceu, para poder receber apoio internacional sem intervenção'.

Definitivamente, o objetivo era seguir o caminho 'de países como Espanha, Itália e Bélgica, e não da Grécia e Irlanda'.

Zorrinho coloca o dia 9 de março como uma das datas chave na queda de Sócrates, coincidindo com o discurso de posse do chefe de Estado português, o conservador Aníbal Cavaco Silva, que pôs em dúvida sua atuação à frente do Executivo e lhe pediu informações objetivas sobre a situação do país.

A relação entre o responsável do governo e a máxima autoridade do Estado estava se deteriorando com a passagem do tempo, com cada vez mais atrito entre os dois.

Apenas um dia depois, em 10 de março, os socialistas superavam uma moção de censura apresentada pela esquerda marxista graças à abstenção do principal grupo da oposição, o Partido Social Democrata (PSD, centro-direita), hoje no poder.

O governo não parou e tomou coragem. No dia 11 de março, Sócrates apresentou por surpresa um novo programa de ajustes e reformas - o quarto em menos de um ano - com o objetivo de obter o apoio da UE e acalmar os mercados, que pressionavam sua dívida soberana com juros superiores a 7%.

Oposição, empresários e sindicatos criticaram em bloco o Executivo, por anunciar este pacote de medidas sem negociá-lo previamente, ficando debilitado.


Inclusive Cavaco Silva relembrou há semanas aquele momento no prólogo de um livro, acusando Sócrates de 'deslealdade institucional que ficará marcada na história'.

'O programa foi muito elogiado pela Comissão Europeia e por Angela Merkel (chanceler alemã). Achávamos que era muito positivo para conseguir evitar o resgate', contrapôs Zorrinho.

Para antecipar seu plano, os socialistas precisavam de uma maioria parlamentar com a qual não contavam, e os outros cinco grupos presentes na Assembleia acabaram votando contra.

O governo do PS português lhe acusou de esbanjar dinheiro público e dever profundamente ao país, com sua relação dívida/PIB acima de 90% (30 pontos a mais que em 2008) e déficit de 8,6%.

Os socialistas portugueses atribuíram a piora da economia à crise mundial, e tentaram responder endurecendo seus cortes progressivamente.

A queda definitiva de Sócrates aconteceu no dia 23 de março, quando o Parlamento rejeitou seu pacote de medidas e o deixou sem condições para continuar, nas palavras de Zorrinho.

Apenas dias depois chegou a convocação de eleições antecipadas, o pedido de resgate e as eleições que deram o poder aos conservadores após seis anos de governo socialista.

Em troca da ajuda externa, Portugal se comprometeu a cumprir um vasto programa de ajustes e cortes que já afetam o dia a dia do cidadão médio, e que o atual primeiro-ministro considera inevitáveis, principalmente por causa da demora dos socialistas em adotar medidas de austeridade.

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