Brexit: "PIB perderá 2,1%, quase o mesmo nível da recessão do início dos anos 1990", aponta relatório (Foto/Getty Images)
AFP
Publicado em 18 de julho de 2019 às 10h56.
Última atualização em 18 de julho de 2019 às 10h57.
Uma saída da União Europeia (UE) sem acordo pode levar o Reino Unido a uma recessão em 2020 - apontam estimativas publicadas nesta quinta-feira (18) pelo Escritório para Responsabilidade Orçamentária (OBR, na sigla em inglês), o órgão público independente encarregado das previsões econômicas.
Nesse cenário, "o Reino Unido entra em recessão durante o quarto trimestre de 2019 por uma duração de um ano", sinaliza a projeção feita pelo instituto oficial britânico, que prevê uma recuperação a partir de 2021.
"O PIB perderá 2,1%, quase no mesmo nível que durante a recessão do início dos anos 1990", afirma o organismo em seu relatório, após realizar um teste de resistência da economia britânica para o cenário de um Brexit brutal em 31 de outubro.
A libra esterlina perderia 10% de seu valor imediatamente depois de um Brexit sem acordo, e os preços do mercado imobiliário residencial cairiam quase 10% entre o início de 2019 e final de 2021, estima o OBR.
Boris Johnson, candidato favorito para substituir Theresa May como líder do Partido Conservador britânico e como premiê, prometeu tirar o país da UE, sem pedir um novo adiamento - com, ou sem, um acordo com Bruxelas.
O informe de riscos fiscais do OBR destacou o impacto que a saída do bloco sem um período de transição teria na economia.
"O aumento da incerteza e a diminuição da confiança desestimulam o investimento, enquanto o aumento das barreiras comerciais com a UE pesa sobre as exportações", afirmou.
"Juntos, estes fatores empurram a economia para a recessão, com uma brusca queda dos preços dos ativos e da libra", vaticina.
Em diferentes ocasiões, o Banco da Inglaterra advertiu que um Brexit sem acordo geraria uma profunda recessão. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou que a economia do Reino Unido sofreria "custos substanciais" como resultado.
Para sua avaliação, o FMI havia estabelecido dois cenários: um Brexit sem acordo "duro" e um "brando". Já as previsões do OBR se baseiam apenas em um "Brexit sem acordo brando".
No caso deste último, um regime temporário anunciado pelo governo britânico deveria permitir a 87% dos produtos importados a isenção de tarifas à importação durante um ano, antes de passar para uma taxa em torno de 4%. Pelo menos 13% dos demais produtos teriam de pagar tarifas imediatamente.
Segundo esta projeção, a imigração para o Reino Unido diminuiria em 25.000 pessoas ao ano até o final da década, reduzindo a mão de obra disponível.
"O relatório publicado pelo OBR esta manhã demonstra que até a versão mais branda de uma saída sem acordo aplicaria um golpe na economia britânica", ressaltou o ministro das Finanças, Philip Hammond.
"Mas esta versão branda não é da qual falam os defensores do Brexit. Eles falam de uma versão muito mais dura, que perturbaria ainda mais a economia", advertiu.
No início do mês, Hammond havia afirmado que o impacto de um Brexit sem acordo para as finanças públicas poderia ser de até 90 bilhões de libras (100 bilhões de euros).
Na quarta-feira, Johnson sugeriu que a UE teria parte da responsabilidade se, caso ele seja premiê, tirar seu país do bloco sem um acordo de divórcio.
O carismático e polêmico ex-prefeito de Londres deve derrotar amplamente o atual ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, na corrida para suceder a May. A primeira-ministra renunciou ao cargo diante de sua incapacidade para conseguir que o Tratado de Retirada negociado com Bruxelas fosse aprovado pelo Parlamento britânico.
Depois do referendo de junho de 2016, no qual 52% dos britânicos votaram a favor da saída da UE, o Reino Unido deveria ter deixado o bloco em 29 de março. A data teve de ser adiada duas vezes para evitar um Brexit sem acordo.