Economia

Recuperação do Brasil é “copo meio cheio, meio vazio”, diz Fitch Ratings

Segundo Shelly Shetty, diretora da agência, reformas fiscais estão na visão e direção correta, mas há dúvida sobre "escopo, profundidade e timing"

Shelly Shetty, Diretora Sênior e Co-Head de Ratings Soberanos das Américas da Fitch Ratings (Fitch Ratings/Divulgação)

Shelly Shetty, Diretora Sênior e Co-Head de Ratings Soberanos das Américas da Fitch Ratings (Fitch Ratings/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 11h09.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2020 às 16h37.

São Paulo – A história de recuperação da economia brasileira é um caso de “copo meio cheio, copo meio vazio”, segundo Shelly Shetty, Diretora Sênior e Co-Head de Ratings Soberanos das Américas da Fitch Ratings.

O diagnóstico foi dado em um evento da agência de classificação de risco em São Paulo nesta quinta-feira (06).

Do lado do copo cheio, ela cita indicadores mais positivos como a melhora no mercado de trabalho e no ciclo de crédito, assim como na emissão de títulos corporativos.

“Finalmente estamos vendo uma recuperação mais sustentada do investimento”, disse ela. "Isso será notícia boa não só para recuperação cíclica, mas para aumentar o potencial de crescimento”.

A Fitch calcula esse potencial em 2% por ano, considerado baixo, e prevê que esta será a alta do PIB em 2020. O número está um pouco abaixo da média do mercado financeiro, que é de 2,3%.

Outra boa notícia, segundo Shelly, é que a dívida pública estabilizou e seu perfil é em moeda local e com vencimento curto, o que significa que ela será rapidamente refinanciada em taxas mais baixas.

Um ponto de atenção, no entanto, é o déficit em conta corrente, o rombo nas contas externas, que fechou 2019 a 50 bilhões de dólares, alta de 22,2% sobre 2018 e o pior dado em quatro anos.

Ela também lembrou que o país tem dificuldade de responder a choques econômicos por causa de algumas fraquezas estruturais, como a carga tributária alta e a rigidez do Orçamento, que tem 90% de despesas obrigatórias por lei.

Segundo Shelly, as reformas fiscais propostas pelo governo tem a visão e direção correta, mas há dúvida sobre "escopo, profundidade e timing" da sua aprovação.

O motivo é que o presidente Jair Bolsonaro não tem uma base estável no Congresso, marcado por altíssima fragmentação partidária, e o ano é de eleições municipais.

Shelly também falou sobre o prazo para o Brasil recuperar o grau de investimento, espécie de "selo de bom pagador" que o país perdeu no fim de 2015.  De lá para cá, a nota sofreu outros dois novos rebaixamentos pela Fitch, até chegar ao nível atual de BB- com perspectiva estável.

Ela lembrou que a média é de seis anos para países que perderam o grau de investimento o recuperarEm, mas que países com Colômbia e Uruguai demoraram cerca de 10 a 11 anos.

Os prazos citados sugerem que a volta do grau do investimento no Brasil poderia ocorrer em algum momento entre 2021 e 2026.

Acompanhe tudo sobre:Agências de ratingeconomia-brasileiraFitchGoverno BolsonaroPIB do BrasilRating

Mais de Economia

Reforma tributária: videocast debate os efeitos da regulamentação para o agronegócio

Análise: O pacote fiscal passou. Mas ficou o mal-estar

Amazon, Huawei, Samsung: quais são as 10 empresas que mais investem em política industrial no mundo?

Economia de baixa altitude: China lidera com inovação