Racionar energia se tornou mais difícil
Segundo especialistas, a chance do país enfrentar um novo racionamento de energia não está completamente afastada, mas cumpri-lo não será fácil
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2015 às 10h04.
Rio - Embora a situação dos reservatórios do país tenha melhorado nas últimas semanas, a chance de o Brasil enfrentar um novo racionamento de energia não está completamente afastada, segundo especialistas, ainda que o governo já preveja queda no consumo este ano.
Como a indústria já vem consumindo menos, a missão de economizar será do comércio e, principalmente, das residências.
Cumprir essa tarefa, porém, não será fácil. Na comparação com o racionamento de 2001, deve mexer muito mais com o conforto dos brasileiros. De lá para cá, o poder de compra da população aumentou e a quantidade de eletrodomésticos em casa também.
A Associação Brasileira de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) estima que as residências precisariam cortar pelo menos 20% de seu consumo anual para dar um alívio ao sistema elétrico.
Caso seja concretizado, seria uma redução mais intensa do que há 14 anos, quando a queda da demanda nas casas foi de cerca de 12%. Além disso, especialistas comentam que os ganhos de eficiência nos equipamentos deixam a margem de economia ainda menor.
O Instituto Ilumina acredita que os brasileiros não conseguirão conter a demanda como fizeram em 2001, seja por meio de corte ou do uso consciente, por conta da eficiência dos aparelhos e da menor disposição em sacrificar seu conforto.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ), compilados pelo Instituto Data Popular, apenas um terço das residências tinha máquina de lavar em 2001. Doze anos depois, a fatia chegou a 58%. A posse de geladeira e de TV em cores também aumentou, atingindo 97% em 2013.
Ainda que a pesquisa não aponte o número de lares com ar-condicionado, os indicadores de produção dão uma dimensão. Entre 2005 e 2012, a produção mais que dobrou, atingindo 3,5 milhões de unidades. O item é considerado o vilão do elevado consumo de energia hoje.
Em termos absolutos, a indústria é a maior consumidora de energia elétrica. Nos últimos dez anos, porém, o ritmo do consumo residencial avançou quase quatro vezes mais do que no setor produtivo.
"A residência é um ponto muito importante na redução, pois faz diferença muito grande no sistema", afirma o diretor técnico da Abesco, Alexandre Moana. Segundo ele, a desaceleração da indústria já tem levado o setor a diminuir a demanda por energia. Por isso, a responsabilidade deve recair sobre as casas. Uma economia de 20% nesta classe, calcula Moana, seria suficiente para dar alívio de 5% à carga total do sistema elétrico. Consultorias especializadas já consideram bastante provável um déficit dessa magnitude.
No Sudeste, região mais afetada pela estiagem e também a maior consumidora, o consultor da Excelência Energética, Josué Ferreira, calcula que a chance de haver um corte de 5% na carga é de 25%, taxa considerada elevada.
Sacrifício
Opções adotadas em 2001 não devem ser de grande ajuda agora. Antes, muitas casas tinham lâmpadas incandescentes. As fluorescentes, que gastam menos energia, são maioria hoje. Os brasileiros adquiriram aparelhos mais eficientes do ponto de vista energético. Isso fez com que, em 2013, o consumo médio de uma residência fosse de 164,89 kW/h por mês, menos que em 2000, quando era de 171,95 kW/h mês.
"Há dois jeitos de se fazer economia: com sacrifício ou sem sacrifício. Mas mesmo que a pessoa saia desligando tudo, nunca vai economizar algo em torno de 20%", afirma o diretor do Instituto Ilumina, Roberto D'Araújo. "Se nós tivermos de fazer um racionamento como o de 2001, com certeza não conseguiremos. Antes tínhamos gordura para queimar, estávamos confortáveis em relação ao uso de energia. Agora não temos."
Hoje, o consenso é de que o custo psicológico de uma economia de energia será muito maior do que foi em 2001. "O desgaste do conforto será maior. O governo incentivou uma classe social a consumir, mas não deu condição em termos de infraestrutura para utilizar o que consumiu", avalia Moana.
Uso consciente
Deixar o conforto de lado tende a ser uma opção até voluntária, num dilema do qual o bolso sai vitorioso - ou menos perdedor. No ano passado, a conta de luz ficou 17,06% mais cara. Só neste ano até fevereiro, a tarifa já subiu 11,68%, sem contar o reajuste extraordinário médio de 23,4% concedido às distribuidoras em março. A alta no preço da energia tende a ser um aliado do governo ao persuadir consumidores a gastarem menos.
O governo deu a largada numa campanha pelo uso consciente da eletricidade nos lares - ainda que tardiamente, na avaliação de especialistas.
Para o presidente do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, a iniciativa tem chance de dar certo, mas, como a base de equipamentos domésticos elétricos é maior e mais moderna, há pouco espaço para ampliar ainda mais a eficiência. A saída será mexer em hábitos do dia a dia. "As pessoas terão de abrir mão do conforto", admite. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Rio - Embora a situação dos reservatórios do país tenha melhorado nas últimas semanas, a chance de o Brasil enfrentar um novo racionamento de energia não está completamente afastada, segundo especialistas, ainda que o governo já preveja queda no consumo este ano.
Como a indústria já vem consumindo menos, a missão de economizar será do comércio e, principalmente, das residências.
Cumprir essa tarefa, porém, não será fácil. Na comparação com o racionamento de 2001, deve mexer muito mais com o conforto dos brasileiros. De lá para cá, o poder de compra da população aumentou e a quantidade de eletrodomésticos em casa também.
A Associação Brasileira de Serviços de Conservação de Energia (Abesco) estima que as residências precisariam cortar pelo menos 20% de seu consumo anual para dar um alívio ao sistema elétrico.
Caso seja concretizado, seria uma redução mais intensa do que há 14 anos, quando a queda da demanda nas casas foi de cerca de 12%. Além disso, especialistas comentam que os ganhos de eficiência nos equipamentos deixam a margem de economia ainda menor.
O Instituto Ilumina acredita que os brasileiros não conseguirão conter a demanda como fizeram em 2001, seja por meio de corte ou do uso consciente, por conta da eficiência dos aparelhos e da menor disposição em sacrificar seu conforto.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ), compilados pelo Instituto Data Popular, apenas um terço das residências tinha máquina de lavar em 2001. Doze anos depois, a fatia chegou a 58%. A posse de geladeira e de TV em cores também aumentou, atingindo 97% em 2013.
Ainda que a pesquisa não aponte o número de lares com ar-condicionado, os indicadores de produção dão uma dimensão. Entre 2005 e 2012, a produção mais que dobrou, atingindo 3,5 milhões de unidades. O item é considerado o vilão do elevado consumo de energia hoje.
Em termos absolutos, a indústria é a maior consumidora de energia elétrica. Nos últimos dez anos, porém, o ritmo do consumo residencial avançou quase quatro vezes mais do que no setor produtivo.
"A residência é um ponto muito importante na redução, pois faz diferença muito grande no sistema", afirma o diretor técnico da Abesco, Alexandre Moana. Segundo ele, a desaceleração da indústria já tem levado o setor a diminuir a demanda por energia. Por isso, a responsabilidade deve recair sobre as casas. Uma economia de 20% nesta classe, calcula Moana, seria suficiente para dar alívio de 5% à carga total do sistema elétrico. Consultorias especializadas já consideram bastante provável um déficit dessa magnitude.
No Sudeste, região mais afetada pela estiagem e também a maior consumidora, o consultor da Excelência Energética, Josué Ferreira, calcula que a chance de haver um corte de 5% na carga é de 25%, taxa considerada elevada.
Sacrifício
Opções adotadas em 2001 não devem ser de grande ajuda agora. Antes, muitas casas tinham lâmpadas incandescentes. As fluorescentes, que gastam menos energia, são maioria hoje. Os brasileiros adquiriram aparelhos mais eficientes do ponto de vista energético. Isso fez com que, em 2013, o consumo médio de uma residência fosse de 164,89 kW/h por mês, menos que em 2000, quando era de 171,95 kW/h mês.
"Há dois jeitos de se fazer economia: com sacrifício ou sem sacrifício. Mas mesmo que a pessoa saia desligando tudo, nunca vai economizar algo em torno de 20%", afirma o diretor do Instituto Ilumina, Roberto D'Araújo. "Se nós tivermos de fazer um racionamento como o de 2001, com certeza não conseguiremos. Antes tínhamos gordura para queimar, estávamos confortáveis em relação ao uso de energia. Agora não temos."
Hoje, o consenso é de que o custo psicológico de uma economia de energia será muito maior do que foi em 2001. "O desgaste do conforto será maior. O governo incentivou uma classe social a consumir, mas não deu condição em termos de infraestrutura para utilizar o que consumiu", avalia Moana.
Uso consciente
Deixar o conforto de lado tende a ser uma opção até voluntária, num dilema do qual o bolso sai vitorioso - ou menos perdedor. No ano passado, a conta de luz ficou 17,06% mais cara. Só neste ano até fevereiro, a tarifa já subiu 11,68%, sem contar o reajuste extraordinário médio de 23,4% concedido às distribuidoras em março. A alta no preço da energia tende a ser um aliado do governo ao persuadir consumidores a gastarem menos.
O governo deu a largada numa campanha pelo uso consciente da eletricidade nos lares - ainda que tardiamente, na avaliação de especialistas.
Para o presidente do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, a iniciativa tem chance de dar certo, mas, como a base de equipamentos domésticos elétricos é maior e mais moderna, há pouco espaço para ampliar ainda mais a eficiência. A saída será mexer em hábitos do dia a dia. "As pessoas terão de abrir mão do conforto", admite. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.