Economia

Quando um só bilionário pode eliminar a pobreza em um país

Em países como Colômbia, o patrimônio de um único bilionário local seria capaz de erradicar a pobreza entre seus habitantes, sugere post no Brookings

Doação em dinheiro (momentstock/Thinkstock)

Doação em dinheiro (momentstock/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 27 de janeiro de 2016 às 11h35.

São Paulo - Em países como Suazilândia, Georgia e Colômbia, o patrimônio de um único bilionário local seria capaz de erradicar a pobreza entre seus habitantes.

Nas Filipinas e no Brasil, uma transferência do tipo levaria a pobreza para um quarto do patamar atual (considerando uma renda mínima de US$ 1,90 por dia por pessoa em dólares de paridade de poder de compra).

É esta a tese provocativa defendida pelos pesquisadores Laurence Chandy, Lorenz Noe and Christine Zhang em um post recente no site da organização Brookings Institution.

O que eles fizeram foi pegar o bilionário mais rico de cada país e supor que ele concordasse em doar metade da sua fortuna para seus conterrâneos.

O dinheiro seria distribuído ao longo de 15 anos (seguindo a Giving Pledge de Bill Gates) e teria como único objetivo financiar transferências diretas e garantir renda suficiente para que seus beneficiários pudessem escapar sozinhos da pobreza até 2030.

O impacto de um bilionário seria suficiente para eliminar a pobreza em alguns países, enquanto em outros seria necessário juntar mais de um. Em outros países, o impacto seria bem mais modesto.

Veja na tabela:

País Custo por ano Maior bilionário Patrimônio Pobreza pré-transferência Pobreza pós-transferência
Nigeria $12,070 m A. Dangote $14,700 m 45% 43%
Suazilândia $85 m N. Kirsh $3,900 m 41% 0%
Tanzânia $1,645 m M. Dewji $1,250 m 40% 39%
Uganda $1,035 m S. Ruparelia $1,100 m 33% 32%
Angola $1,277 m I. dos Santos $3,300 m 28% 25%
África do Sul $1,068 m J. Rupert $7,400 m 18% 14%
Filipinas $648 m H. Sy $14,200 m 12% 3%
Nepal $144 m B. Chaudhary $1,300 m 12% 8%
India $5,839 m M. Ambani $21,000 m 12% 10%
Guatemala $215 m M. Lopez Estrada $1,000 m 12% 10%
Venezuela $870 m G. Cisneros $3,600 m 11% 9%
Georgia $40 m B. Ivanishvili $5,200 m 10% 0%
Indonesia $845 m R. Budi Hartono $9,000 m 9% 6%
Colombia $444 m L. C. Sarmiento $13,400 m 7% 0%
Brasil $1,223 m J. P. Lemann $25,000 m 4% 1%
Peru $95 m C. Rodriguez-Pastor $2,100 m 3% 1%
China $3,072 m W. Jianlin $24,200 m 3% 2%

O exercício estatístico é interessante porque demonstra, em primeiro lugar, como o mundo já ficou mais próximo de resolver o problema da pobreza extrema.

A meta da Organização das Nações Unidas de cortar pela metade a pobreza no mundo em desenvolvimento entre 1980 e 2015 foi atingida quase duplamente, e o contingente de pobres que resta está cada vez mais próximo da fronteira.

Em 1980, a renda diária mediana daqueles vivendo abaixo da linha de pobreza era US$ 1,09. Em 2012, já havia subido 25 centavos para US$ 1,34 (usando dólares de paridade de poder de compra em 2011).

Isso significa que o custo de colocar todo mundo acima da linha de pobreza, pelo menos em teoria, caiu de US$ 300 bilhões em 1980 para US$ 80 bilhões em 2015 (considerando dólares de mercado em 2015).

Em 2006, os fluxos de ajuda externa superaram pela primeira vez este valor. No entanto, o grosso desse dinheiro vai para financiar bens públicos, como infraestrutura e instituições, básicos para a própria estabilidade dos países.

Apenas 2% são destinados para transferência direta e sua administração, funções assumidas pelos governos locais (como no caso do Bolsa Família no Brasil) ou por organizações não governamentais (como a Give Directly).

O que o trio do Brookings está sugerindo é que pelo menos do ponto de vista numérico, a solução da pobreza não está tão distante - ainda que US$ 1,90 não seja exatamente um padrão de vida digno, e que mesmo para chegar a isso existam muitas barreiras.

Elas são logísticas (localizar e cadastrar os pobres), administrativas (transferir o que seria, em alguns casos, poucos centavos) e até psicológicas (como mostram pesquisas sobre o tema).

"Além disso, está aberto para debate se transferências são a forma com melhor custo-benefício para acabar com a pobreza de forma sustentável, o quanto elas devem ser focadas, a eficácia de construir programas de transferência privada de riqueza conjuntamente com redes de proteção social, e se transferências de renda são a forma mais apropriada de uso da filantropia de bilionários", diz o texto.

Acompanhe tudo sobre:BilionáriosPobrezaDistribuição de renda

Mais de Economia

Por que as fusões entre empresas são difíceis no setor aéreo? CEO responde

Petrobras inicia entregas de SAF com produção inédita no Brasil

Qual poltrona do avião dá mais lucro para a companhia aérea?

Balança comercial tem superávit de US$ 5,8 bi em novembro